Mais um dia

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Ella Harris nunca tinha imaginado que um trabalho administrativo pudesse ser tão intenso

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Ella Harris nunca tinha imaginado que um trabalho administrativo pudesse ser tão intenso. Estava apenas no segundo dia na concessionária LaRusso Auto, mas já sentia como se estivesse numa montanha-russa. Entre organizar contratos, atender clientes exigentes e lidar com computadores que insistiam em travar, o ritmo a mantinha ocupada – e, para sua surpresa, até satisfeita.

Porém, o maior desafio não estava no trabalho em si, mas em lidar com Daniel LaRusso. Ele tinha aquele tipo de carisma que dominava a sala sempre que entrava. Embora fosse gentil e acessível, havia algo nele – talvez o olhar confiante ou o jeito como sempre parecia estar no controle – que a deixava nervosa. Era difícil ignorar a diferença de idade e a maneira como ele parecia pertencer a um mundo completamente diferente do dela.

"Ella, como estão os arquivos de ontem?" perguntou Daniel ao passar pelo escritório, segurando uma xícara de café. Ele parou na porta, encostando-se casualmente ao batente.

"Quase terminados," respondeu ela, tentando parecer calma enquanto lutava para não deixar cair a pilha de papéis em suas mãos. "Só preciso terminar de organizar as ordens de serviço."

"Ótimo. Sem pressa, mas o cliente virá à tarde, então seria bom ter tudo pronto," disse ele, com um sorriso encorajador.

Ela assentiu e voltou ao trabalho, mas percebeu que ele ainda estava ali, observando-a. Quando levantou o olhar, Daniel parecia hesitar por um momento.

"Se precisar de ajuda, é só chamar," disse ele, antes de sair. Havia algo na suavidade de sua voz que fez o coração de Ella acelerar – algo que ela preferiu ignorar naquele momento.

Mais tarde, naquele mesmo dia, enquanto Ella aproveitava uma pausa para tomar um pouco de ar na frente da concessionária, um carro chegou derrapando no estacionamento. Ela se virou rapidamente, alarmada, mas relaxou ao ver que era uma adolescente ao volante, acompanhada por dois amigos. A garota saiu do carro com um sorriso largo e confiante.

"Oi, Sam!" gritou um dos vendedores de dentro da loja.

Sam LaRusso, claro. Ella reconheceu a filha de Daniel imediatamente. Ela tinha ouvido os funcionários comentarem sobre a adolescente, e agora entendia o porquê. Sam tinha uma energia vibrante, quase magnética, e um grupo de amigos que parecia tão confiante quanto ela.

"Você é nova aqui?" perguntou Sam, se aproximando de Ella com curiosidade.

"Sim. Comecei ontem," respondeu Ella, sorrindo.

"Legal. Meu pai pode ser meio... obsessivo com o trabalho, mas ele é legal. Só não deixe ele te sobrecarregar," disse Sam, piscando de brincadeira.

Ella riu, já gostando da espontaneidade da garota. Antes que pudesse responder, outro dos amigos de Sam – um garoto alto com cabelo bagunçado – se aproximou.

"Você trabalha aqui? Pode convencer o LaRusso a me dar um desconto naquele Camaro preto?" brincou ele.

"Claro," respondeu Ella com um sorriso, entrando no espírito da conversa. "Vou sugerir que ele deixe você pagar em suaves 50 anos."

Os adolescentes riram, e Ella se surpreendeu ao perceber que estava se sentindo à vontade. Era bom estar entre jovens de novo, mesmo que por um breve momento.

À noite, Daniel estava no dojo, treinando sozinho. Ele precisava de um momento para clarear a mente. Os últimos meses haviam sido cheios de conflitos – com Johnny Lawrence, com os alunos do Cobra Kai e até consigo mesmo. No fundo, ele sabia que tentar equilibrar o legado do Sr. Miyagi com sua vida profissional e pessoal estava desgastando-o mais do que ele queria admitir.

Quando ouviu passos na entrada, virou-se e viu Ella parada ali, hesitante. Ela segurava um tablet e um caderno, claramente tentando não interromper.

"Desculpe," disse ela rapidamente. "Eu só ia deixar os papéis da concessionária para você assinar amanhã. Mas... parece que vim na hora errada."

Daniel abaixou os braços e sorriu. "Não, está tudo bem. Você gosta de caratê?"

Ella deu de ombros. "Eu assistia alguns filmes quando era criança. Mas nunca tentei. Não sou exatamente o tipo atlético."

Daniel fez um gesto para que ela entrasse. "Todo mundo pode aprender. O Sr. Miyagi costumava dizer que o caratê é para a mente, o corpo e o espírito. Não é sobre ser atlético – é sobre equilíbrio."

Havia algo em sua voz que a deixou intrigada. Relutante, ela deu alguns passos para dentro. O dojo estava repleto de memórias, mesmo para alguém que não as conhecia. As fotos nas paredes, os troféus e a energia do lugar pareciam falar por si mesmos.

"Então, equilíbrio," disse ela, cruzando os braços. "Acho que estou precisando disso."

Daniel a observou por um momento, como se tentando entender algo nela que ela mesma não via. Então, ele sorriu de novo, mas desta vez com mais leveza.

"Se quiser, posso te ensinar alguns movimentos básicos. Não custa nada tentar."

Ella riu, balançando a cabeça. "Vou precisar de algo mais confortável que essa roupa."

"Isso a gente resolve," respondeu Daniel. "Amanhã, depois do expediente. Que tal?"

Ela hesitou, mas acabou concordando. E, enquanto voltava para casa naquela noite, pela primeira vez em muito tempo, sentiu algo que não sentia desde que perdera seu emprego e sua antiga vida: esperança.

No fundo, ela sabia que estava entrando em um mundo que não entendia completamente, mas havia algo em Daniel – e no jeito como ele parecia acreditar nela sem sequer conhecê-la direito – que a fazia querer tentar.

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