XXXV

3 1 0
                                    

Assim que eu acordo, pulo da cama e jogo meu cabelo embaraçado em um coque bagunçado.
Então, pego a caixa de sapatos do duto de ar e tiro nosso bilhete premiado da loteria. Coloco-o na minha mochila enquanto desço as escadas para sair cuidadosamente pela porta da frente, enquanto minha mãe está regando as plantas na varanda dos fundos.

Dirijo direto até o mercado na esquina.

Você ainda está em casa? Mando uma mensagem para o Ryan enquanto espero o caixa contar meus dezessete dólares ganhos. 

Estou quase saindo, ele responde. 

Você pode deixar a porta da frente aberta? Estou a caminho, respondo de volta. 

O caixa me entrega o dinheiro e eu saio pela porta de vidro, então entro no meu carro. Tento ao máximo manter minha velocidade dentro do limite, mas está quase impossível agora.
Quando, finalmente, chego na garagem do Ryan, corro para dentro pela porta da frente. Lauren dá um pulo leve ao lado da ilha da cozinha, onde está comendo uma tigela de cereais. 

"Desculpa," eu digo, passando a mão pelos ombros dela enquanto me sento em um dos banquinhos. 
Ela se vira para me encarar e fico surpresa ao ver que o roxo sumiu completamente. "Sua cara. Está..." Quando olho mais de perto, noto que há uma camada de algo cobrindo. Está até na mandíbula dela, onde a mãe a estava segurando. 

"Ryan me deu um pouco do corretivo da mãe dele," ela diz, com a voz um pouco rouca. "Eu sei que provavelmente ainda deve estar parecendo uma merda e meus olhos estão todos inchados..." 

"Para," eu falo, dando um beijo em cada um dos olhos dela. "Você está linda." 

"Mentirosa," ela responde.

Ambas ficamos em silêncio enquanto eu a observo comer colherada após colherada de cereal até que tudo o que sobra é leite de amêndoas.

"Eu achei que talvez ela fosse ligar, mas..." Lauren dá de ombros e balança a cabeça.

"Você realmente voltaria lá, mesmo se ela tivesse ligado?" pergunto, surpresa, mas tentando não soar insensível.

"Eu não sei. Não sei o que fazer agora," ela responde.

"Sobre isso... Eu tenho algo para você," respondo, tirando um maço de dinheiro do bolso e estendendo para ela.

"O que é isso?" ela pergunta, franzindo a testa para mim.

"Só pega. É para nós."

"Ah, valeu," ela diz, sarcasticamente, enquanto pega o dinheiro das minhas mãos.

Me inclino para frente enquanto a observo abrir o maço e espalhar as cédulas: uma de dez, uma de cinco e duas de um. "Vou tentar não gastar tudo de uma vez—" Ela para, os olhos arregalando ao folhear as cédulas novamente... e mais uma vez...

Finalmente, ela olha para mim, e um sorriso incontrolável cobre meu rosto enquanto a vejo perceber o que estou tentando dizer.

"Não. N-não podemos. Você nem se lembra—" A voz dela vai desaparecendo.

"Olha. Eu sei que não lembro do nosso relacionamento. Não lembro de como te conheci, do nosso primeiro encontro, do nosso primeiro beijo, ou do milésimo. Não lembro de nada daquele tempo e talvez nunca lembre, mas... De algum jeito, quando estou com você, uma parte bem profunda de mim lembra e me diz que você está certa, que nós somos tudo. É difícil de explicar. Não sei como isso é possível, mas eu não acho que eu tenha realmente parado de te amar, Lauren." Eu giro o banquinho dela para mim, segurando seu rosto nas minhas mãos.

Ela esfrega a bochecha contra minha palma, e quase consigo sentir ela prendendo a respiração.

"Eu quero ficar com você agora. De verdade. Lá fora, no mundo, sem nos esconder na floresta, sem nos esconder em nenhum lugar ou de ninguém. Eu quero tomar café com você antes de ir para minhas aulas na UCLA. Quero ficar acordada até tarde assistindo o quê quer que seja Dickinson. Quero fazer amigos com pessoas que são iguais a nós, e também diferentes. Quero fazer tudo isso com você."

Não se esqueça Onde histórias criam vida. Descubra agora