Ana Clara narrandoAcordei com o sol batendo de leve no rosto. A cama parecia mais vazia do que nunca. Olhei para o lado e o DK não estava ali. Ele tinha voltado pro Rio, e, mesmo entendendo o motivo, o vazio parecia maior do que eu esperava. Sentei na beirada da cama, sentindo aquele enjoo matinal que já era rotina. Respirei fundo e me levantei.
Depois de escovar os dentes e jogar um roupão por cima, desci as escadas devagar, tentando ignorar o peso nos ombros. Quando entrei na cozinha, minha mãe e meu irmão estavam lá.
– Bom dia, mãe. Bom dia, Theo.
Minha mãe riu, me olhando de canto.
– Bom dia? Tá mais pra hora do café da tarde, né, filha?
Olhei o relógio em cima do micro-ondas e me assustei. 15h51.
– Meu Deus... Passei a noite inteira sem dormir. Muito enjoo.
– Tá melhor? – perguntaram os dois quase ao mesmo tempo.
– Agora tô, passou um pouco.
Me sentei à mesa, pegando um pedaço de pão sem muita fome. A pergunta que estava engasgada na minha garganta desde ontem finalmente saiu.
– Mãe? Como foi pra você quando tava grávida do Theo, fora do país, sem o papai?
Minha mãe parou por um segundo, como se fosse buscar aquela lembrança num canto empoeirado da memória.
– Foi triste. Sentia saudade dele em tudo, Ana. Até nas pequenas coisas. Mas nem era saudade de ter ele como homem, sabe? Era dele como pai. Era complicado. Por quê?
Antes que eu pudesse responder, o Theo já se meteu na conversa, do jeito explosivo que ele tem.
– Você não vai embora, Ana Clara.
Olhei para ele, surpresa e irritada.
– Que? Ah, Theo, fica quieto! Eu sei o que faço da minha vida.
Minha mãe suspirou fundo, já vendo que a conversa ia descambar.
– Eu não vou te proibir, Ana. Mas também não vou passar pano pra essa ideia.
– Já eu vou proibir, e não vou passar pano mesmo – Theo rebateu, sem me dar espaço.
– Tá bom, Theo, e o que você vai fazer? Colocar corrente na minha perna?
– Único jeito vai ser tu ir escondida, porque com meu aval não vai.
Ele estava transtornado. Minha mãe tentava se manter neutra, mas o Theo parecia disposto a jogar tudo na mesa de vez.
– Tá vendo, mãe? Vocês criaram a Ana mimada. Tudo que ela tem é por causa do crime, e agora quer dar uma de santinha. Vai viver de quê lá fora, Ana Clara? Quem vai te sustentar também vai ser o crime. Acorda, fia. Você é filha de bandido, irmã de bandido. Tu acha que o dinheiro que paga essa comida aqui na mesa vem de onde?
Minha mãe levantou a voz, firme.
– Para! Os dois. Agora.
Mas eu já estava tremendo, de raiva e de angústia.
– Eu não tô pensando em mim, Theo! Eu tô pensando no meu filho. Quando você tiver um filho, talvez entenda.
Ele riu, seco, amargo.
– Então por que engravidou de bandido, Ana? Arrumasse um playboy pra isso. Mas não. Tu sentou sabendo. Agora aguenta.
Aquelas palavras doeram mais do que qualquer tapa. Olhei para ele, mas aquele não era o Theo que eu conhecia. Meu irmão de antes entenderia, me apoiaria. Esse Theo, frio e calculista, parecia mais um reflexo do meu pai.
Levantei da mesa sem dizer mais nada e subi para o quarto.
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Deitei na cama e fiquei encarando o teto. A mente rodava como um carrossel desgovernado. Será que o Theo estava certo? Será que eu estava mesmo querendo fugir de uma realidade que sempre foi minha? O que eu estava tentando provar?
Passei a mão na barriga, que ainda não mostrava sinais visíveis da gravidez, e senti as lágrimas virem. Não era só por mim. Era pelo meu filho, por aquele pedacinho de vida que nem sabia o caos em que tinha sido gerado.
Mas como eu ia explicar isso para o DK? Como eu ia dizer para ele que, no fundo, achava que a gente não tinha como dar certo? Que o nosso amor estava preso numa teia de escolhas erradas e caminhos tortuosos? Ele estava tentando mudar, eu sabia. Mas o medo de que essa mudança não fosse suficiente me sufocava.
– Talvez seja melhor eu ir embora. Terminar com ele... Deixar ele seguir um caminho longe de mim.
Senti o peso das palavras enquanto as dizia em voz alta. Talvez estivesse tentando me convencer. Talvez estivesse tentando encontrar uma desculpa. Mas uma coisa era clara: eu não podia continuar vivendo assim. E o meu filho merecia algo muito melhor.
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Será que a Ana vai fugir?👀
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Amor Proibido - Entre Fogo e Pólvora
FanfictionEm meio aos becos sombrios do morro, Ana Clara e Dk vivem um amor proibido, inflamado pelo perigo. Ela é filha do dono do morro; ele, um vapor de confiança. Cada encontro é um risco, uma faísca que pode acender a fúria implacável de seu pai. Sabem q...