capítulo 1

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O som do sino ecoou pelos corredores da escola, sinalizando o início de mais um dia. Lucas Olioti caminhava calmamente com seu caderno em mãos, os fones de ouvido abafando o burburinho ao redor. Era seu último ano ali, e ele já estava acostumado com o ritmo. Contudo, algo naquele dia parecia diferente, como se o ar estivesse carregado por uma tensão invisível.

Ao virar a esquina do corredor principal, Lucas notou um grupo reunido perto dos armários. No centro deles, estava Felipe Neto. Era difícil não notá-lo. Alto, com cabelos levemente bagunçados e uma barba rala que acentuava sua maturidade, Felipe tinha um charme quase cruel. Ele vestia uma jaqueta preta surrada, contrastando com os olhos claros que pareciam enxergar mais do que qualquer um gostaria de admitir.

Felipe era o tipo de garoto que todos comentavam, mas poucos tinham coragem de se aproximar. Ele tinha uma reputação problemática, mas isso só o tornava mais cobiçado. Era como se sua presença carregasse um magnetismo que atraía e repelisse ao mesmo tempo. Lucas percebeu os olhares que as garotas e até alguns garotos lançavam na direção dele, admirados, curiosos, talvez até um pouco intimidados.

— Ei, Lucas! — gritou Luba, acenando do outro lado do corredor. Ao seu lado estava Cristhian, que mexia em algo no celular.

Lucas desviou o olhar de Felipe, sentindo o rosto esquentar levemente, e apressou o passo para alcançar seus amigos.

— Você viu quem voltou? — perguntou Cristhian, ainda focado na tela do celular. — Felipe Neto. O rei das encrencas está de volta. Dizem que ele foi expulso no ano passado.

— Expulso? — Lucas arqueou as sobrancelhas, sem conseguir disfarçar a curiosidade.

— Pois é. Falam que ele se meteu em briga com um professor, — Luba acrescentou, ajustando os óculos. — Não sei como deixaram ele voltar, mas não é como se ele fosse durar muito por aqui.

— Grande coisa, — respondeu Lucas, tentando soar indiferente. — Não é da minha conta.

— Só tome cuidado, cara, — alertou Luba, em tom mais sério. — Esse garoto e os amigos dele... eles sempre trazem problema.

Lucas apenas deu de ombros. Ainda que tentasse parecer alheio, não conseguia ignorar a imagem de Felipe que havia ficado em sua mente. Ele tinha algo diferente, algo que Lucas não conseguia explicar. Não era só a beleza — embora fosse inegável que Felipe era lindo, com traços fortes e um ar de quem não se importava com nada —, mas também um mistério, como se houvesse algo mais por trás daquela fachada rebelde.

O resto do dia passou lentamente, e Lucas mal notou o tempo passar até a última aula. Enquanto guardava seus livros no armário, ouviu um riso abafado atrás de si.

— Ei, garoto novo. Tá achando o quê do colégio? — Era Passini, um dos amigos de Felipe.

Lucas olhou por cima do ombro, tentando ignorar a provocação, mas percebeu que o grupo de Felipe estava reunido logo atrás. Eles conversavam animadamente, mas Felipe parecia distante, encostado nos armários com os braços cruzados. Ele não participava da conversa, mas seus olhos escaneavam o ambiente, atentos a tudo e todos.

Lucas fingiu não ouvir, fechou o armário e começou a caminhar pelo corredor.

— Tá perdido, Olioti? — perguntou Felipe, finalmente quebrando o silêncio. Sua voz era baixa, mas havia algo nela que fez Lucas parar por um segundo.

Ele virou-se para encarar o grupo. Por algum motivo, sentiu a necessidade de responder, mesmo sabendo que era melhor ignorar.

— Não estou perdido, mas valeu pela preocupação, — respondeu Lucas, com um tom que oscilava entre sarcasmo e segurança.

Um sorriso enviesado surgiu no rosto de Felipe, e por um breve momento, seus olhos claros pareciam avaliá-lo.

— Parece que temos um corajoso, — murmurou Felipe, mais para si mesmo do que para os amigos.

Lucas virou-se novamente e continuou andando, sentindo o peso daqueles olhos em suas costas. Ele não olhou para trás, mas sabia que Felipe ainda o observava.

Na saída da escola, viu Felipe encostado em sua moto, cercado pelos amigos — Passini, Samanta, Bruno e Victor. Era uma cena quase cinematográfica, como se Felipe fosse o protagonista de um filme adolescente. Ele estava inclinado para trás, os braços apoiados no guidão, enquanto seus amigos riam e conversavam. Apesar de estar no meio de todos, Felipe parecia isolado, como se estivesse ali, mas ao mesmo tempo em outro lugar.

Lucas hesitou ao passar por eles, tentando parecer indiferente. Mas, para sua surpresa, Felipe não o deixou passar despercebido.

— Ei, Lucas, certo? — chamou Felipe, com um tom de voz que parecia mais desafiador do que amigável.

Lucas parou, virando-se lentamente.

— É, e daí?

— Nada. Só achei interessante que você não tem medo de responder. Gosto disso, — disse Felipe, um sorriso provocador brincando em seus lábios.

Lucas não soube o que responder. Havia algo na maneira como Felipe o olhava, como se estivesse testando-o, procurando algo.

— Acho que a gente vai se dar bem, — continuou Felipe, antes de colocar o capacete e dar partida na moto. O barulho do motor ecoou pelo estacionamento, e em segundos ele desapareceu pela estrada, seguido pelos amigos.

Lucas ficou ali, parado, tentando entender o que acabara de acontecer. Ele sabia que deveria ignorar Felipe, evitar qualquer envolvimento com ele ou seu grupo, mas, ao mesmo tempo, algo nele o atraía de forma inexplicável.

Enquanto caminhava para casa, Lucas teve a sensação de que aquele dia havia sido o início de algo maior. Algo que ele ainda não conseguia definir, mas que sentia no fundo do peito.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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