O Julgamento do Carrasco

Capítulo XIII -

Após um período de tempo indeterminado, que foi eterno na perspectiva do príncipe ruivo, a tímida luz vespertina de Calvera atravessa as cortinas beges da janela de uma casa alugada pelo quarteto que retornou à Roma ao visitar Caelum e entregar uma pista falsa aos inimigos deles na volta.

Vulcano está sentado no sofá da aconchegante sala decorada com móveis de madeira do estilo do século passado, com a cabeça baixa e apoiada em suas duas mãos. Davi se aproxima e senta ao lado dele.

— Está tudo bem? — questiona o santo.

— Sim, não é nada além de um pouco de estresse.

— A Raven saiu e o Nyx e a Ártemis se trancaram em seus respectivos quartos, eles sairão tão cedo. Não há ninguém por perto para você continuar a manter a máscara — Vulcano ergue levemente a postura dele, com os olhos arregalados e feições confusas.

— Que máscara?

— Aquela de quem não possui nenhuma fraqueza, sob os padrões do Império Flammae que, sinceramente, são extremos e insanos.

— Eu não finjo ser forte… Eu não possuo outro caminho senão forte. Eu devo suportar o que for que acontecer. Eu sou o herdeiro de um trono, não é meu direito me permitir ser abalado por meros problemas… Tá, eu já me rendi — suspira e relaxa os ombros — Estou me sentindo como se eu estivesse diante do Padre Pio.

— Quais são as suas preocupações?

— Difícil decidir como irei começar a explicar.

— Podemos conversar sobre uma de cada vez. Que tal começar com o desaparecimento do seu pai?

— Quando eu o encontrar vou repreendê-lo — franze as sobrancelhas — Tenho certeza que ele só está tentando atrair o Romulus para tirar a atenção dele de mim e do Maximus — suspira — Eu estive pensando sobre tudo o que está acontecendo e acredito que a situação não é essa, o alvo não é meu pai, ele é o meio. O alvo, como sempre, é o Maximus, acho que isto já é óbvio para todos. O Nyx nos disse anteriormente, não me lembro se no momento o senhor já estava conosco, que há o envolvimento de um bruxo ou demônio muito poderoso nisso. Eu também conversei com minha mãe acerca do assunto da magia e, pelo testemunho dela, é possível deduzir que esse bruxo seja o Romulus… Ou se trata de uma armadilha essa linha de raciocínio, talvez os demônios desejam que alcancemos esta conclusão por algum motivo desconhecido por mim. De qualquer forma, houve o envolvimento de seres sobrenaturais e malignos nesse golpe de Estado e imagino que seja para prender o Maximus aqui e permitir que ele seja perseguido por humanos poderosos. Sei que o Maximus e eu somos a prioridade do governo, não o meu pai, somos inimigos mais perigosos que o nosso pai porque estamos bem, ao contrário dele, que pode morrer a qualquer instante devido à quantidade imensa de ferimentos que adquiriu recentemente e não possuiu a oportunidade de tratá-los adequadamente. Não são muitas as informações que possuo e talvez este seja o meu maior problema. Eu somente sei que o que persegue a minha família são demônios… E eu não sei nada sobre demônios.

— É desnecessário sempre possuir o conhecimento de quem são os nossos inimigos ou como derrotá-los, porque quem os vencerão será Deus, não nós. Se eu tivesse considerado essas desvantagens, Vulcano, eu nunca enfrentaria o Golias. Eu não estou dizendo para você ignorar o que está ao seu alcance, todavia há situações que não somos nós quem lutará.

— Obrigado. Entretanto… Quando isso acontecerá? Meus inimigos não são mais fortes do que Deus, mas porque tudo parece perdido?

— Se Deus interviesse imediatamente em tudo, este mundo seria um paraíso e não uma realidade maculada pelo pecado. O bem e o mal estão em uma constante luta há milhares de anos e isto só se encerrará no final dos tempos, quando Deus apagar para sempre, desde o princípio até o fim, a existência do pecado e será como se o mal nunca tivesse existido. Até lá, as dificuldades virão e, às vezes, derrotará até os justos, mas não de forma eterna como será a derrota dos perversos no final dos tempos.