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Ela ainda estava falando, andando de um lado pro outro, mas eu já não conseguia ouvir metade do que saía da boca dela. Não aguentei mais. Levantei de repente num impulso.
Andei até ela devagar, sem tirar os olhos dos seus. Ela encostou na parede, as mãos instintivamente levantando como se fosse se defender de algo. Eu parei perto, tão perto que dava pra ouvir a sua respiração descompassada.
— Eu não sei mais o que fazer pra você entender que eu só quero te proteger — Falei baixo. Me inclinei um pouco, minha mão tocando a nuca dela com cuidado, os dedos deslizam devagar no cabelo. A outra mão ficou fechada ao lado do meu corpo, segurando firme a vontade de agarrá-la pra mim.
S/n engoliu seco, o olhar desviou por um segundo, mas depois voltou pro meu.
— Proteger? — A voz saiu tremida. — Desde que matou aqueles homens, eu não acredito em uma palavra do que você diz.
Meu corpo endureceu.
— Você ainda tá nessa? — Respondi entre dentes, cerrando. — Eu fiz o que tinha que ser feito. Você acha que eu ia ficar parado?
Ela não respondeu de imediato, os lábios dela tremeram, parecia pensar em alguma coisa.
— Você podia ter feito diferente... — Finalmente falou.
— Diferente? — Dei uma risada seca, sem humor, me afastando só o suficiente pra olhar ela de cima a baixo. — Você não entende porque nunca precisou lutar pra sobreviver. Nunca teve que sujar as mãos pra proteger alguém. Mas eu tive. Eu fiz. — Gesticulei apontando para nós dois. — E se fosse preciso, faria de novo.
Ela ficou quieta, os olhos buscando alguma coisa no meu rosto, talvez alguma mentira que ela pudesse agarrar pra continuar com a raiva. Só que não tinha. Eu estava sendo honesto, por mais fodido que fosse.
Minhas mãos caíram pesadas nos bolsos da calça enquanto eu dava dois passos para trás, tentando ao máximo não assustá-la mais do que já estava.
A primeira lágrima caiu silenciosa, mas eu vi. Vi o brilho no seu rosto junto com a respiração falhando enquanto tentava segurar o choro. Meu peito apertou, como se alguém tivesse enfiado uma faca e girado com força. Ela estava com medo de mim?
Queria abraçar ela e apagar aquele olhar, prometer que nunca faria mal nenhum. Mas antes que eu pudesse puxá-la pra mim, S/n me empurrou com força.
— Não encosta em mim! — O murmúrio foi interrompido por soluços.
Ela virou, os pés descalços batendo no chão de madeira enquanto corria pro corredor. Fiquei congelado por um segundo com as mãos no ar.
