O SUSSURRO DAS SOMBRAS

CAPÍTULO #1

Estava sentada em frente ao computador, os olhos fixos na tela brilhante, onde as palavras se arrastavam lentamente em minha mente. O relógio marcava o fim da tarde, mas o cansaço já havia se instalado em meus  ombros. A cada frase que escrevia, minha mente se dispersava para outros pensamentos, tentando encontrar um caminho para algo que não sabia o que era ainda.

De repente, o som do celular interrompe o silêncio do quarto. Hesito, olhando para o aparelho que vibrava incessantemente sobre a mesa, como se tivesse algo urgente a dizer. Uma parte minha queria ignorar, mas a curiosidade me fazia puxar o celular para perto.

Ao ler o nome que surgia na tela atendi imediatamente --Oi, pq você ligou várias vezes? Aconteceu alguma coisa ? --minha voz um pouco desesperada com a hipótese de ter acontecido algo sério

--Sério Miranda que você só percebeu isso agora ? Só viu essas ligações agora ?

--Eu estava estudando, como eu estava de fone de ouvido não escutei, mas qual foi o motivo para me ligar essas horas ?

Lucy com sua voz animada me contou --  Se lembra daquela mansão enorme que  parece um castelo ? Então, parece que eles vão fazer um baile e algumas pessoas de nossa cidade poderão  entrar naquele "castelo" ; Eles fizeram um sorteio com números das casas. Eles iam até um bairro específico, sorteavam três números e, se o número sorteado fosse o de alguma casa daquele bairro, os moradores da casa sorteada eram chamados. E adivinha? Os números sorteados foram os das nossas casas!

-- Sério mesmo que chamaram o número da nossa casa?

--Sim, na hora eu nem acreditei. Estava torcendo pra não ser, mas foi exatamente o nosso!

--O que aconteceu? Vocês saíram pra ver?

-- Claro! Todo mundo saiu correndo pra porta. Minha mãe ficou toda preocupada, achando que era algum problema, e meu pai já estava pensando se precisaria resolver alguma coisa urgente.

--Deve ter sido uma confusão, né?

--Foi sim! Mas, por sorte, era só o pessoal do sorteio mesmo. Eles explicaram rapidinho e, no final, ainda tinha algo a mais...

---Algo a mais? Tipo o quê?

-- Uma surpresa, mas isso eu conto depois! Olha, preciso ir. Meus pais estão me chamando. Eu consigo ouvir as vozes deles vindo da sala, e, pelo tom, parece urgente. Minha mãe deve estar me procurando, e meu pai sempre faz questão de que eu não demore quando chamam. Melhor eu ir rápido pra evitar bronca.

Antes que eu podesse dizer mais alguma palavra Lucy desligou

Levanto da cadeira lentamente, sentindo meus músculos rígidos depois de tanto tempo sentada.Conforme me ergo, minhas costas estalam alto, liberando a tensão acumulada. O som ecoa pelo quarto e solto um leve suspiro de alívio. Passo a mão pelas costas, tentando aliviar o incômodo, e começo a caminhar até o banheiro. O chão frio sob meus pés me faz arrepiar um pouco, mas continuo em direção ao banho, esperando que a água quente relaxe o resto do meu corpo cansado.

Entro no banheiro e acendo a luz, que ilumina o espaço com um brilho suave. O espelho reflete minha expressão cansada, os olhos levemente inchados e o cabelo desgrenhado denunciando as horas de concentração ininterrupta. Suspiro novamente, desta vez com um misto de cansaço e alívio por finalmente estar me permitindo uma pausa.

Abro o registro do chuveiro, e o som da água caindo é quase como música para meus ouvidos. Espero até que o vapor comece a tomar conta do banheiro, criando um casulo morno que já me faz sentir um pouco melhor. Enquanto tiro as roupas, noto como meus ombros ainda estão tensos, quase como se carregassem um peso invisível.