"futuro que nós espera"

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A luz suave da manhã invadia o quarto enquanto Jinx estava de pé em frente ao espelho. Seus olhos percorriam seu reflexo, demorando-se na silhueta que começava a mudar. Sua barriga estava levemente mais arredondada, quase imperceptível para os outros, mas para ela parecia evidente. Seus seios também estavam diferentes, e ela sentia a roupa ajustada de um jeito que não acontecia antes.

Ela inclinou a cabeça, observando de lado, passando a mão pela barriga com um toque hesitante. Não era algo ruim, mas era estranho. Era como se estivesse se vendo pela primeira vez, e o reflexo parecia alguém que ela ainda estava conhecendo.

“É isso mesmo?”, pensou, franzindo levemente a testa.

Suspirou e virou-se do espelho, tentando afastar os pensamentos. Pegou um elástico no criado-mudo e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo que chagava ao chão. Não queria ficar remoendo aquilo. Era só uma manhã como outra qualquer, certo?

Na cozinha, Ekko estava preparando o café da manhã. Ele estava de costas, concentrado em cortar frutas, o que deu a Jinx um momento para respirar fundo antes de entrar. Quando ele a notou, abriu um sorriso caloroso.

— Bom dia, Faísca. Dormiu bem?

— Mais ou menos. Acho que o bebê não gosta muito da minha posição favorita de dormir — respondeu, tentando aliviar o próprio humor com uma piada.

Ekko riu enquanto colocava um prato de frutas e torradas na mesa.

— Pode ser, mas ele tem bom gosto.

Jinx se sentou e começou a comer em silêncio. Ekko falava sobre alguns planos simples para o dia, mas ela apenas ouvia, distraída com os próprios pensamentos.

De vez em quando, olhava para ele, observando como ele parecia tão natural em lidar com tudo aquilo. Era como se nada tivesse mudado para Ekko, enquanto ela sentia que tudo estava diferente.

No entanto, a presença dele trazia certo conforto, mesmo que ela não conseguisse colocar isso em palavras naquele momento. Jinx sabia que essas mudanças faziam parte de algo maior — algo que ela ainda estava aprendendo a aceitar.

Enquanto Ekko a observava terminar o café, ele percebeu a expressão serena, mas introspectiva dela, e sorriu de leve.

— Tudo bem aí? — perguntou, casualmente.

Ela ergueu os olhos e deu um sorriso curto.

— Tudo sim. Só pensando.

— Pensando no quê?

Jinx deu de ombros e desviou o olhar, dando uma última mordida na torrada.

— Coisas boas, eu acho.

Ekko pareceu satisfeito com a resposta e voltou ao prato, deixando-a com seus pensamentos. E, naquele momento, Jinx decidiu que, por enquanto, ficaria com o que sabia: ela estava mudando, mas isso não precisava ser ruim. Afinal, era por uma causa boa.

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A tarde estava quente, e a luz do sol entrava pelas janelas abertas do quarto. Ele estava em sua bancada, trabalhando em uma das pequenas invenções que há semanas tentava terminar. Concentrado, soldava fios minúsculos enquanto suas engrenagens giravam lentamente na mente, ajustando cálculos.

No outro canto do quarto, Jinx estava sentada no chão, uma lata de tinta azul ao lado e um pincel na mão. Pinta-lápis coloridos e pincéis estavam espalhados ao seu redor, enquanto ela desenhava formas abstratas e pequenos rabiscos nas paredes. Suas mãos estavam manchadas de tinta, e a roupa velha e folgava que usava já não era mais bege ,agora exibia várias manchas de cores.

— Você acha que ele vai puxar mais pra mim ou pra você? — perguntou Jinx, distraída, enquanto fazia um círculo verde no canto da parede.

Ekko olhou por cima do ombro, arqueando uma sobrancelha.

— O que você quer dizer com isso?

— Tô falando do bebê, tonto — respondeu, rindo. — Você acha que ele vai ter o cabelo azul ou... sei lá, como o seu?

Ekko colocou as ferramentas de lado por um momento e se virou para ela, apoiando-se na bancada.

— Um moicano azul seria épico — disse, brincando. — Mas, se for pra apostar, acho que vai ser um mix. Tipo, um cabelo castanho com mechas azuis ou alguma coisa doida assim.

Jinx riu, olhando para ele com os olhos brilhando de curiosidade.

— Tá, mas e os olhos? Você acha que ele vai herdar os seus ou os meus?

Ekko parou para pensar, apoiando o queixo na mão.

— Seus olhos são mais bonitos — disse, casualmente. — Mas seria legal se ele tivesse um olho de cada cor.

Jinx parou de pintar por um segundo, considerando a ideia.

— Isso seria muito louco... mas acho que combina. Tipo, meio caótico, sabe?

— É, e com os pais que ele vai ter, caótico faz todo sentido.

Eles riram juntos, o som enchendo o ambiente de leveza. Jinx voltou a pintar, desenhando algo que parecia uma nuvem laranja com raios azulados.

— E se for uma menina? — perguntou ela, sem olhar para Ekko.

— Vai ser uma miniatura de você — respondeu Ekko, sem hesitar. — Mesmo cabelo bagunçado, mesmo sorriso travesso.

Jinx deu um sorriso tímido, ainda focada no desenho.

— E se ela for séria? Tipo, super quieta?

Ekko inclinou a cabeça, fingindo pensar profundamente.

— Bom, aí eu vou saber que a personalidade dela veio de mim — brincou, arrancando outra risada de Jinx.

Por alguns minutos, eles ficaram em silêncio, imersos em suas atividades. A conversa tinha deixado uma sensação boa no ar, uma espécie de expectativa misturada com curiosidade.

Finalmente, Jinx largou o pincel e se virou para Ekko, encostando-se na parede recém-pintada, sem se importar com as manchas que deixaria.

— Ei, você acha que a gente tá pronto pra isso?

Ekko a olhou nos olhos, seu sorriso diminuindo, mas sem desaparecer completamente.

— Não sei se alguém tá realmente pronto. Mas, se tem uma coisa que eu sei, é que a gente tá nisso juntos. E isso já é o suficiente.

Jinx deu um pequeno sorriso e assentiu, sentindo-se um pouco mais tranquila. Ela pegou o pincel de novo e começou a desenhar algo novo: uma pequena figura com um moicano azul, olhos brilhantes e um sorriso grande.

Ekko olhou para o desenho e riu.

— Acho que você acabou de prever o futuro.

— Talvez — respondeu Jinx, com um brilho travesso nos olhos. — Mas quem sabe?

E assim, entre tintas, risadas e invenções inacabadas, o futuro parecia um pouco menos incerto, e muito mais cheio de cor.

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20k, muito obrigado genteeee!!!!

Ecos do passado- timebomb Onde histórias criam vida. Descubra agora