Dezembro tinha chegado finalmente, e havia no ar aquela magia que parecia estar espelhada em todos os lugares. Os sorrisos nos rostos das pessoas que transitavam pelo centro de Nova Iorque eram contagiantes. As lojas estavam enfeitadas com luzes coloridas e árvores tradicionais; as ruas estavam iluminadas de forma especial e, para coroar todo esse espírito natalino que podia ser sentido a milhares de distância dali, uma neve branca e espessa começara a cair sobre os telhados, casas e copa das árvores, deixando no ar aquela sensação boa de tudo o que aquela época tão especial conseguia despertar na alma e no coração das pessoas: a fraternidade, a união entre entes queridos e, especialmente, o amor.
Em meio a todo esse cenário encantador, Mary caminhava de loja em loja, carregando nos braços milhares de pacotes, enquanto seus olhos verdes brilhavam de alegria. O Natal era sua data favorita, porque sentia em seu coração uma nova oportunidade de recomeçar, deixar para trás velhos projetos e abrir espaço para o novo. Seus pedidos à meia-noite, antes da ceia ser iniciada, eram sempre os mesmos: ótimos desafios no trabalho, amizades sinceras, saúde para realizar o que desejasse e um amor que durasse a vida inteira.
Em quase tudo, ela era atendida. Seus amigos eram os melhores do mundo, daqueles que transcendiam a amizade. Eram seus irmãos e irmãs postiças, como ela gostava de chamá-los, pois, por ser filha única, não tivera uma irmã de sangue para compartilhar seus segredos. Assim, ela sabia que podia contar com eles em qualquer situação. Seu emprego era excelente e lhe oferecia todas as oportunidades que desejava. Fazia cinco anos que trabalhava com propaganda e marketing, área na qual se formara na faculdade, onde aprendera muito e tivera grande sucesso também. Sentia-se em casa no meio de seus colegas de profissão, e para ela, a agência na qual desenvolvia toda a sua criatividade diariamente, era como sua segunda família. Saúde tinha de sobra, mas quanto ao amor, esse era um tópico sensível.
Mary era uma garota de vinte e cinco anos, romântica e sensível. Se lhe perguntassem se ela acreditava em príncipes encantados, certamente diria que não, mas, no fundo, estaria mentindo, pois acreditava naquele tipo de amor que era para sempre e sim, o príncipe perfeito estava incluído no pacote. Embora tivesse tido inúmeras decepções com o passar dos anos em sua vida amorosa, Mary se recusava a perder a esperança, por isso, ela incluía amor em sua lista de desejos no Natal. Talvez fosse perda de tempo, ou uma ilusão, como suas melhores amigas diziam, porém, viver a vida não significava atirar-se em aventuras e viver o agora, como elas também a aconselhavam a fazer. Mary acreditava que sua outra metade estava lá fora, ela apenas tinha que manter os olhos bem abertos e o coração disposto a se apaixonar.
A garota morena alcançou seu carro, abriu o porta-malas e colocou todas as suas compras nele. Em seguida, tornou a fechá-lo, pois sabia que ainda estava no início e que muita coisa ainda precisava ser comprada, e os presentes significativos, ela sempre deixava para o final.
Assim, Mary entrou em uma loja de brinquedos e seus olhos foram atraídos por uma caixinha de música. Dentro dela, havia uma bailarina de vestido azul. Ela deu corda no objeto e uma melodia suave começou a tocar, emocionando seu coração. Era o presente perfeito para sua afilhada que, além de amar esse tipo de coisa, tinha cinco anos e praticava balé desde os três anos. No último Natal, ela lhe fizera um pedido inusitado, que até aquele momento a fazia rir de verdade.
A garotinha tinha lhe perguntado quando ela traria um namorado de verdade para casa, e quando Mary disse que não sabia, a menina a olhara nos olhos e dissera em sua ingenuidade infantil, que seu presente de Natal tinha que ser um tio postiço, já que Mary era considerada por ela como sua verdadeira tia, e não apenas madrinha. O pedido não pudera ser atendido, porque o príncipe de Mary não tinha aparecido, ou quase, se ela considerasse o que acontecera no último Natal como um sinal dos céus.
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Um Natal para Mary
Short StoryÉ época de Natal, e o coração de Mary mais uma vez está solitário. Nos últimos anos, ela sempre esteve em busca de um amor verdadeiro, e mesmo com as decepções que a vida lhe deu, ela nunca perdeu a esperança de ocupar aquele espaço vazio em sua vid...