Older-Daniel Larusso

Calmaria

A manhã no Miyagi-Do começou tranquila. O sol iluminava o tatame, e a brisa fresca fazia as árvores de bonsai balançarem suavemente. Ella observava Daniel treinar sozinho, a serenidade em seus movimentos contrastando com as tensões que ela sabia que ele enfrentava.

Ele parecia tão absorto nos movimentos que não notou quando ela se aproximou, sentando-se no banco de madeira próximo ao tatame. Ela esperou pacientemente até que ele terminasse, sua respiração ritmada ecoando no espaço silencioso.

"Está bonito, como sempre," comentou Ella com um pequeno sorriso, chamando sua atenção.

Daniel sorriu de volta, enxugando o suor com uma toalha. "Obrigada por vir. É sempre bom ter você aqui."

"Eu vim porque acho que precisamos conversar," disse ela, com um tom sério.

Daniel sentou-se ao lado dela, percebendo pela expressão dela que o assunto era importante. "Sobre o quê?"

"Sobre Anthony," respondeu Ella diretamente. "E sobre você. Daniel, eu sei que você está tentando, mas ele precisa de mais do que tentativas. Ele precisa de você presente."

Daniel desviou o olhar, como se as palavras dela o acertassem em cheio. "Eu estive tão focado em tudo... no dojo, nos problemas com o Cobra Kai, na Amanda... e em você," ele admitiu. "Acho que acabei deixando Anthony de lado."

Ella colocou a mão sobre a dele, apertando-a levemente. "Adolescência é complicada, Daniel. É uma fase em que eles estão tentando entender quem são, o que querem. E Anthony... Ele parece perdido. Mas não é tarde para você ser o pai que ele precisa agora."

"Você acha que ele vai me ouvir depois de tudo que dissemos um ao outro?" perguntou Daniel, sua voz cheia de dúvida.

"Eu acho que ele já começou a ouvir," respondeu Ella. "Ontem, quando você conversou com ele, deu o primeiro passo. Mas precisa continuar caminhando. Mostre para ele que está disposto a estar lá, mesmo que ele não facilite as coisas."

Mais tarde, Daniel seguiu o conselho de Ella e convidou Anthony para almoçar fora. Apenas os dois. Sem Amanda, sem Sam, sem distrações.

No início, o silêncio foi constrangedor. Anthony mexia no canudo do refrigerante enquanto Daniel olhava para o menu, tentando pensar em algo para dizer.

"Lembra quando costumávamos vir aqui depois dos seus jogos de futebol?" perguntou Daniel, quebrando o silêncio.

Anthony ergueu os olhos, surpreso. "Sim... você sempre pedia aquele hambúrguer gigante e depois se arrependia."

Daniel riu, aproveitando a pequena abertura. "E você sempre roubava minhas batatas fritas."

"Porque as suas vinham com mais molho," respondeu Anthony, com um pequeno sorriso.

O clima começou a se suavizar, e Daniel aproveitou o momento. "Sabe, Anthony, eu estive pensando muito sobre o que você disse. Sobre como se sente em relação a tudo."

Anthony olhou para ele, desconfiado. "E?"

"E você tem razão em muitas coisas. Eu não tenho sido o pai que você merece. Eu deixei minha atenção se dividir entre tantas coisas, e você acabou ficando de lado. Isso nunca foi minha intenção, mas entendo como isso te afetou."

Anthony abaixou os olhos para o prato. Ele não respondeu de imediato, mas Daniel podia ver que suas palavras estavam surtindo efeito.

"Eu só... quero que as coisas voltem a ser como eram antes," disse Anthony finalmente.

"Eu também, filho," respondeu Daniel, colocando a mão no ombro dele. "E prometo que vou trabalhar nisso. Mas preciso que você me ajude também. Precisamos nos encontrar no meio do caminho, sabe?"

Anthony assentiu, um pequeno sorriso surgindo em seu rosto. "Tá bom, pai. Eu posso tentar."

Mais tarde, quando Daniel voltou ao dojo, encontrou Ella sentada no banco, com um livro nas mãos. Ela parecia tão à vontade naquele ambiente que Daniel sentiu uma onda de gratidão por tê-la em sua vida.

"Você tinha razão," disse ele, sentando-se ao lado dela.

Ella fechou o livro e o olhou com curiosidade. "Sobre o quê?"

"Sobre Anthony. Ele só precisava saber que eu estava ouvindo. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas hoje foi um começo."

Ella sorriu, satisfeita. "Eu sabia que você conseguiria. Você é um bom pai, Daniel. Só precisa lembrar disso nos momentos difíceis."

Ele olhou para ela, a gratidão e a admiração claras em seus olhos. "Você sempre sabe como me trazer de volta ao caminho certo. Não sei como consegue."

"Talvez porque eu veja o melhor em você," respondeu Ella, com um sorriso tímido.

Daniel sentiu o coração acelerar. A conexão entre eles parecia mais forte a cada momento, e ele sabia que não podia mais ignorar o que sentia por ela.

Quando o sol começou a se pôr, pintando o dojo com tons dourados, Daniel e Ella ainda estavam sentados no banco. A conversa fluía naturalmente, mas havia algo no ar, uma tensão leve, quase imperceptível, que parecia aproximá-los ainda mais.

"Posso te perguntar uma coisa?" disse Daniel, quebrando o silêncio.

"Claro," respondeu Ella, curiosa.

"Por que você nunca falou sobre sua história antes? Sobre sua vida, quero dizer."

Ella hesitou, mas o olhar gentil de Daniel a encorajou. Ela respirou fundo antes de começar. "Acho que porque nunca me senti tão à vontade como me sinto com você."

Daniel esperou pacientemente enquanto ela reunia coragem para continuar.

"Minha mãe era incrível... mas ela tinha seus problemas. Ela bebia muito. E meu padrasto..." Ela parou, desviando o olhar. "Ele não era exatamente o melhor exemplo de figura paterna."

Daniel sentiu uma pontada de dor por ela. "Ella, eu sinto muito que você tenha passado por isso."

"Não precisa sentir. Tudo isso me fez quem eu sou hoje. Me fez valorizar as coisas boas da vida. E... me trouxe até aqui, de alguma forma," disse ela, sorrindo levemente.

"E eu sou grato por isso," respondeu Daniel, com sinceridade.

O silêncio que se seguiu não era desconfortável. Era cheio de compreensão, de emoções não ditas. Quando Daniel finalmente falou, sua voz era suave. "Ella, você é incrível. E eu me sinto sortudo por ter você na minha vida."

Ella olhou para ele, surpresa pela intensidade em sua voz. "Daniel..."

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ele se inclinou levemente, parando a poucos centímetros do rosto dela, como se esperasse sua permissão. Ella sorriu, fechando os olhos enquanto diminuía a distância entre eles.

O beijo foi lento, cheio de ternura e emoção, como se ambos estivessem colocando tudo o que sentiam naquele momento. Quando se afastaram, Ella estava corada, mas sorria.

"Beijar você é sempre bom, sabia?," disse ela, rindo suavemente.

"Posso dizer o mesmo querida," respondeu Daniel, sorrindo de volta.

Ella balançou a cabeça, ainda sorrindo. "Definitivamente você é o melhor ."