Capítulo 8

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— Agaashe, quando você entra de férias?

Quando nossos amigos nos perguntaram pela primeira vez desde quando estávamos namorando, não sabíamos responder. Apenas estávamos, e era tudo o que importava para nós.

Já estávamos no final de fevereiro. Não era mais necessário que nos emcapotássemos em blusas grossas, toucas horrorosas e cachecois fiapudos. Eu permanecia com o seu, bem guardado em meu armário, contudo.

O aquecedor velho da biblioteca também não funcionava mais ao início do meu expediente, mas voltava a ser ligado no início da noite, quando o sol desaparecia. Aquela era a última semana que ele estaria funcionando.

— Semana que vem é a minha última, Bokuto-san. — eu disse, enquanto anotava no sistema os livros que os estudantes haviam devolvido naquele dia.

Pude ver seu sorriso sapeca crescer ao ouvir minha fala.

— Mas você sabe que vou continuar trabalhando nas férias de primavera. Consegui um trabalho de meio período em uma cafeteria aqui perto. — eu disse, provocativo.

Como uma criança, você fez um bico e se debruçou novamente sobre o balcão. Eu sorri pequeno, você sempre foi muito previsível.

Sempre que podia, você me fazia companhia na biblioteca. Quase todo o seu tempo livre, quando não era usado para treinar, você entrava serelepe pelas portas, se sentava em uma cadeira em frente ao balcão e falava sobre o seu dia enquanto me observava viver o meu.

Peguei um dos livros em uma grande pilha ao meu lado e me distraí com as primeiras páginas. Era um romance sobre um carteiro que, após descobrir que vai morrer em pouco tempo, faz um acordo com o diabo: a cada coisa que ele deseja que desapareça para sempre, ele ganha um dia de vida.

Me lembrei da conversa com Kuroo e senti um nó na garganta.

— Me desculpe, Agaashe.

Levantei os olhos para te olhar, esperando uma continuação àquela frase sem sentido.

— Você é o maior leitor que já conheci e eu mal leio as notícias. Sinto muito.

De primeira, o que você disse me surpreendeu. Mas eu me senti acalorado, porque, afinal, nos sentíamos do mesmo jeito, certo, Bokuto-san?

"Sinto muito que você tenha se apaixonado por mim", era o que queríamos dizer. E mesmo assim seguimos com o nosso amor, porque, apesar de acreditarmos que não éramos bons o suficiente um para o outro, tínhamos fé de que manter o outro por perto nos faria pessoas melhores.

— Você é como um livro aberto e, mesmo assim, eu não consigo parar de querer ler.

Você continuou me olhando, e eu, esperando um sorriso de conformidade.

— Você me diz que lê para imaginar vidas. Por que eu iria querer ficar imaginando vidas quando eu posso viver a minha? — você perguntou.

— Algumas pessoas não gostam da vida que elas têm, Bokuto-san — eu respondi.

Você acenou com a cabeça e não falou mais nada depois. Me arrependi, porque te ver calado é uma das maiores aflições que já senti.

Poucos depois de você se despedir, prometendo voltar no fim do dia, estava pegando o telefone. Já havia se passado três horas desde o início da tarde e Kageyama-kun ainda não havia chegado. Então, antes que eu pudesse discar o número do departamento de Direito, ele entrou às pressas pela porta.

Vê-lo com as olheiras e a mochila ensopada foi o cúmulo para mim. Havia chegado o momento de finalmente encaixar aquele quebra-cabeça.

— Alguns livros devem ser organizados no corredor 5. Depois, precisamos organizar a lista de pedidos para o próximo semestre e conferir os atrasos.

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⏰ Última atualização: 11 hours ago ⏰

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doze vezes bokuto-san | bokuakaOnde histórias criam vida. Descubra agora