Capítulo 2

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           Encontrei minha tia impaciente na porta do restaurante e quando me viu falou quase gritando.
   - Jess! Pelo amor de Deus, achei que tinha acontecido alguma coisa com você, querida. - Ela me puxa para um abraço sufocante.
   - Desculpa tia, eu fiquei lendo e acabei perdendo a hora. - Andamos até um restaurante que ficava em uma esquina. Era italiano, com tijolos tom ferrugem nas paredes e alguns vasos com tulipas pendurados. A área interna era incrivelmente aconchegante, com cheiro de forno à lenha e mesas enfeitadas com uma toalha xadrez vermelha. Depois do garçom se afastar minha tia despeja perguntas em cima de mim.
   - E então, como foi o primeiro dia? Já fez alguma amizade? Muitos gatinhos?
   - Calma tia, foi tudo tranquilo. Ainda não falei com muita gente, preferi ficar um pouco na minha. -Tento disfarçar o nervosismo na minha voz quando me dirijo a ela- Você fala com os nossos vizinhos, os Raimann?
   -Claro, eles me ajudaram quando seu tio faleceu. Foram os únicos. Por que? - A curiosidade é evidente no tom de voz usado por ela.
   -Conheci o filho deles hoje, me acompanhou na volta da escola. Gregory? - A imagem do rapaz loiro volta na minha cabeça, mas afasto maus pensamentos.
   -O Greg é um amor de pessoa, Jess. Quando era criança vivia deixando bilhetes para mim, tenho alguns guardados até hoje.
     Então basicamente nosso almoço foi resumido no Gregory Perfeito isso, Gregory Perfeito aquilo, mas não posso deixar de admitir que gostei de falar dele. Na volta passamos para finalmente comprar um guarda-roupa para colocar no meu quarto, escolho um marrom escuro que me atraiu pelos detalhes na madeira. Ficar sem armário é uma coisa bem complicada, ainda mais quando se muda e leva todas as suas coisas.
     Depois de algumas horas estudando minha tia me convida para ir com ela ao supermercado, mas prefiro ficar em casa. Quando a campainha toca me dando um susto, desço correndo as escadas e fico surpresa ao ver quem está na porta.
   -Oh, olá Gregory. - Falo, quase gaguejando.
   -É... Oi Jess.. Jessica. - Ele me olha dos pés até a cabeça e arregala os olhos. Então eu percebo que estou usando um micro shorts e uma regata com um decote generoso.
   -Nunca viu uma menina vestida assim? - Respondo dando uma risada.
   -Já, é que... Não meninas como você. - Ele respondeu enquanto passava a mão no cabelo. Decido ignorar o provável elogio e continuo.
   -Minha  acabou de sair, se quiser falar com ela volta daqui...
   -Na verdade eu vim oferecer para você minha ajuda. - Pela minha expressão de dúvida ele nem me deixa começar e continua- Vi você e a Anne entrando com um guarda-roupa e vim ver se precisam de ajuda para levar para algum lugar.
     Isso me pegou totalmente desprevenida. Não sabia o que responder, mas uma coisa era certa: minha tia e eu não conseguimos levar o armário para o meu quarto.
    -Você poderia me ajudar a levar para cima, não conseguimos subir as escadas com ele. - Finalmente respondo, abrindo a porta e dando espaço para ele entrar. Eu seguro uma ponta e vejo quando ele faz força para levantar o armário e seus músculos se sobressaem na camiseta preta justa. Quando chegamos no meu quarto ele fica parado enquanto eu o arrasto até ficar no lugar ideal.
   -Adorei o seu quarto, você que decorou?
   -Sim, sempre gostei do meu quarto cheio de detalhes. - Quando me mudei, minha tia deixou eu pintar a grande suíte da cor que eu quisesse então escolhi um azul turquesa para preencher as paredes. As cortinas da sacada do quarto era brancas, delicadas, com alguns pingentes transparentes pendurados. Minha cama tinha quase o tamanho de uma de casal, porque eu sempre gostei de dormir em camas grandes e na parede onde ela está encostada diversas fotos e pôsteres estão espalhados. De um lado da cama fica uma mesinha com um abajur em formato de flor e um telefone. No canto mais afastado fica minha mesa de estudos branca e as manhãs estantes totalmente preenchidas com livros de diversos tamanhos e cores. E agora, na frente da minha cama, se encontra meu novo armário em cima do grande tapete rosa  claro.
   -Quer ajuda para guardar as roupas? - Ele oferece, meio sem graça.
   - Eu acho que dessa vez vou aceitar, tenho muita coisa para arrumar. - Respondo, pegando uns cabides e dando na mão dele.
         Enquanto arrumamos tudo, conversamos um sobre o outro. Ele me contou que desde criança gostava de conversar e debater por isso decidiu que vai se tornar um advogado. Contou das inúmeras vezes que ele e sua irmã mais nova, Bella, brigaram e, apesar dela ter somente 6 anos, ele já tem muito ciúmes dela. Depois disso me informou sobre tudo na escola, onde é legal para sair na cidade e os lugares que ele mais gosta de frequentar.
       Falei quase tudo sobre mim, seria injusto não falar já que ele se abriu desse jeito comigo. Apenas não falo do ocorrido com o Patrick. Do momento que eu comecei a falar até o final, ele não tirou os olhos de mim atento a cada palavra ou movimento que eu fazia. Até que minha tia chega no momento que estamos gargalhando de uma clássica história de Natal em família.
-Oh, não queria atrapalhar vocês. Olá Greg, como vai? - Minha tia pergunta com um tom de surpresa.
-Olá Srta. Anne, estou bem sim, e você?- Ele se levanta e beija a mão dela.
-Ah Greg, estou muito bem! - Ela responde rindo- Só vim perguntar o que você vai querer jantar, querida.
-Adoraria o seu frango xadrez com macarrão, tia. - Falo, me levantando e olhando para o Greg - Ele já estava de saída.
-Imagina, Jess. Greg, quer ficar para comer conosco? - Olho para a minha tia com um olhar matador, mas ela está sorrindo para ele.
-Se não for incômodo, eu aceito sim!
-Ótimo, podem continuar ai que eu venho chamar vocês. - Ela fala saindo do quarto e encostando a porta.
     Olho para ele com um olhar que diz "Por que você aceitou?", e ele retribui com um sorriso de "ganhei essa".

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora