Capítulo 2

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Uma semana se passou desde que chegamos. O trabalho é pesado, já que somos só nós, eu e minha mãe, para arrumar essa casa NADA pequena, mas nós damos conta e minha mãe não tem o que reclamar do salário. Ela só pode reclamar do uniforme que é obrigada a usar, ela sente vontade de queimá-lo todos os dias de manhã, porque ela o considera horrível e muito quente. Eu dei sorte, pois não sou obrigada a usar, já que apenas ajudo minha mãe voluntariamente. Minha mãe e eu andamos olhando algumas escolas, já que não posso parar de estudar, quero muito mesmo me formar e ajudar minha mãe, não que o trabalho dela não seja digno, mas limpar privada de madame não dá!

— Cloe, as roupas devem ser lavadas semanalmente, tome muito cuidado com elas, são extremamente caras. — E realmente eram, a família dela usava um ano de salário da minha mãe em cada peça de roupa

— Mãe, eu lavo as roupas, a senhora já tem muito trabalho.

— Filha, o que seria de mim sem você? — Ela me abraça.

Subo as escadas e vou primeiro para o quarto do filho de Melissa, que até hoje só sei o nome, porque, quando ele está em casa, minha mãe não me deixa sair daquele quarto. Às vezes, penso que Melissa acha que eu sou interesseira, que quero conquistar seu filho.

O quarto do garoto é uma zona, não ficaria surpresa se eu encontrasse um zoológico aqui dentro. Recolho todas as roupas e saio, indo para o quarto de Melissa.

— Posso entrar? — Peço, dando uma batida na porta, que estava meio aberta.

— Claro, querida.

— Vim só pegar as roupas.

— Está no cesto, dentro do banheiro.

— Que bom que algumas pessoas dessa casa sabem para que serve cesto de roupa suja — falo sem pensar e arrependo-me no mesmo momento.

— Do que está falando, querida? — Melissa pergunta.

— Desculpa, é que entrei no quarto do seu filho e me assustei com a bagunça.

— Quase nunca arrumamos o quarto do Justin, ele não gosta que mexam nas suas coisas. — Melissa ri e chama-me para sentar ao seu lado. — Você é uma garota e tanto, hein? Não tem medo de falar as coisas.

— Desculpa, não queria ofender.

— Querida, você não ofendeu, sei muito bem que criei um porquinho — nós rimos.

— Posso te perguntar por que tenho que ficar escondida quando seu filho e seu marido estão aqui?

— Faço isso para seu próprio bem, meu filho não pode ver uma garota bonita e meu marido também não — fico surpresa quando ela fala do marido e ela percebe. — É só algumas regras que eu e meu marido temos, tradição de família, você não entenderia. Não insisto no assunto, ela não parece confortável.

— Seu filho parece ser um garoto rebelde.

— É sim, por minha causa, que não gosto de impor limites.

— Deveria pôr — ela me olha surpresa com meu atrevimento. — Todos precisamos de limites ou não teremos controle de nada. Existem leis porque precisamos de limites, se não tivéssemos limites, eu poderia matar você agora com esse cesto e ir lavar as roupas, pois não seria errado. Minha mãe sempre me deu limites, não diria que foi da melhor forma, pois alguns limites foram dolorosos para mim, mas dei tempo ao tempo e ela mesmo percebeu seus limites. Isso nos ensina o que precisamos para sermos pessoas melhores e valorizar as coisas certas e nos valorizar. Tente pôr limites no seu filho e ele será um filho melhor, uma pessoa melhor e um porquinho melhor — falo e sinto vontade de bater na minha cara, controle essa tagarela que existe dentro de você, Zara!

— Lindas palavras, Zara, me parece ser uma garota inteligente e determinada. No que mais você acredita, Zara? — Ela me pergunta e aí mesmo que não calo a boca.

Sinto confiança em Melissa. Ela me ouviu até o final com um olhar de admiração. Contei tudo o que penso sobre as coisas do mundo para ela, principalmente sobre os homens que acham que podem maltratar uma mulher, que têm o direito de controlá-las. Criei uma opinião forte sobre isso com tudo que vi minha mãe passar.

— Melissa, eu preciso lavar essas roupas.

— Claro, querida, poder ir — me levanto, indo em direção à porta e paro quando ela me chama. — Zara, admiro uma garota tão jovem ser tão forte como você. É uma garota especial, poderia mudar muitas coisas no mundo.

— Obrigada, e se quer saber, pretendo mudar o mundo inteiro! — Digo e vou em direção às escadas. Antes de terminar, acontece o que nem Melissa poderia impedir, encontro seu filho, Justin, no caminho. Ele me encara por um tempo.

— Quem é você? Preciso chamar a polícia? — Encaro-o incrédula.

— Eu sou a filha da empregada! — Respondo um pouco alto demais. — E não precisa chamar a polícia.

— Entrou no meu quarto? Quem deixou? — Ele pergunta de forma rude.

— Ninguém, mas se você quer andar como o cascão por aí, eu devolvo suas roupas.

Ele me encara e volta a subir as escadas. Respiro e fundo e começo a refletir sobre o garoto que acabei de ver. Não o chamaria de Justin Timberlake ou até mesmo de Justin Bieber, mas ele até que é bonito. Ele se parece com Melissa, os cabelos lisos têm o mesmo tom, os olhos também. Ele usa um topete e veste-se como qualquer garoto padrão da elite de São Paulo, estampando as marcas mais caras que existem. Volto ao meu serviço, já que nem todo mundo pode ser mimado e arrogante por pura diversão.

— Filha, por que demorou tanto?

— Comecei a conversar com Melissa e perdi a noção do tempo.

— Ela parece gostar de você — concordo com a cabeça —, mas tome cuidado e não esqueça qual é o seu lugar nessa casa.

— Eu sei, mamãe. E a propósito, encontrei o filho dela — minha mãe arregala os olhos. — Mãe, estou bem e ele também, nós apenas nos olhamos por mero dois segundos. Nada demais. Pelo menos, pra mim, vai que ele se apaixonou.

— Zara...

— Mãe, eu não tô falando sério, relaxa — dou um beijo em seu rosto.

— Tente evitar, filha.

— Eu sei.

Quando termino de lavar aquele monte de roupas, estou morta e vou direto para a cozinha comer algo, posteriormente, jogo-me na minha cama.

*******

Quase um mês aqui e já estou bem próxima a ela. Melissa adora conversar comigo sobre várias coisas, principalmente sobre violência. Conversamos muito sobre o que a minha mãe passou e no meio da conversa, ela me presenteou com um celular, o que graças a Deus a minha mãe não implicou, já que o último celular que eu tive, meu padrasto quebrou porque me pegou conversando com o meu namorado da adolescência. Consegui entrar em contato com os meus amigos novamente. Nunca mais vi o Justin. Melissa disse que às vezes, quando ele tem vontade, some sem dar satisfação.

— Zara, querida — Melissa me abraça com as suas mãos cheias de sacolas de compras, seu esporte favorito —, tenho um assunto muito sério a tratar com você hoje à noite. — Ela fala tão séria, que sinto medo.

— Que assunto? — pergunto.

— Você vai começar a salvar o mundo — Melissa diz e sai, deixando-me ainda mais curiosa. 

A escolhida. [amostra]Onde histórias criam vida. Descubra agora