Reencarnei como Clare Beddor.
Dentre tantos personagens fodas pra virar, me transformei logo numa humana meia boca que vai morrer no primeiro livro no lugar da protagonista.
Seja lá que divindade decidiu fazer chacota da minha cara, eu que n...
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A sala do trono estava imersa em uma luz suave, filtrada pelas pesadas cortinas de veludo dourado. Eu tava sentado no meu trono de madeirada entalhada com detalhes de rosas nas beiradas e franzindo a testa enquanto olhava para Lucien que tava parado na minha frente, com as mãos atrás de seu corpo como um bom soldado.
Ele decidiu me alugar para discutir sobre a maldição, o que tava me dando nos nervos.
— Você que não está entendendo, Lucien. Ela pode sim salvar nossa Corte.
— Ah, sim, claro. Ela vai nos salvar... Do quê, exatamente?
Suspirei pesadamente. Como ele podia fingir ignorância?
— Realmente quer que eu repita?
Lucien balançou a cabeça como se estivesse contando os segundos para soltar algum absurdo.
— E ela vai fazer isso como? Já pensou nisso?
— Justamente como diz a profecia.
— Esse é o problema.
Arqueei a sobrancelha, sentindo uma leve dor nas têmporas que logo iria sumir.
— Que opções temos?
— Já considerou que ela sequer pode de fato nos odiar?
— Ela nos odeia. Eu sinto.
— E quem garante que matou nossa espécie?
— A vidente?
— Por que iriamos ter a palavra dela como base? Ela é uma exilada.
— Você também é.
Engoli em seco assim que o vi abrir a boca e deixar de verbalizar o que diria.
— Lucien... Eu s-
— O que quero dizer é — pigarreou duas vezes e vi seu olho mecânico desviar por um segundo —, se apaixonar tem que ser algo natural e genuíno, nesse caso não será. Aquel- Amarantha disse que o amor deve ser confessado livremente, lembra?
— Ninguém a forçou a vim aqui.
Lucien revirou os olhos.
— Não temos como saber se a bruxa não o fez.
— Lucien...
— Caso contrário... Por que a bruxa iria colocar uma clausula na barganha que a livrasse de punição?
— Bruxas sempre foram precavidas.
Lucien tirou as mãos das costas, conjurou uma bola branca repentinamente e passou a girá-la entre os dois dedos enquanto me fitava.
— Ah, que seja! A coisinha sabe o que fazer, então não será natural.
Fechei os olhos por um momento, não querendo engolir as palavras ditas pelo Vanserra.
