Gustavo 18

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Não há palavras para descrever o momento que estou vivendo, era o céu e o inferno numa linha tênue. Minha namorada e minha ex-namorada/cunhada, no mesmo espaço/tempo/galático. Seria cômico se não fosse trágico. Maira? ERA ELA MESMO? Eu pensei que nunca mais a veria novamente. Tínhamos um passado um tanto quanto, estranho. No momento, é fico com essa palavra, estranho. Ela continuava linda, e com todas as coisas que me fazia lembrar a aparência da minha Julia. Eu comecei a me tocar que a cena estava ficando bizarra, porque todos os presentes se olhavam com os olhos arregalados e depois focaram em mim. Eu deveria agir. E foi o que eu fiz.

-Maira? Você por aqui? - Eu perguntei e continuei mantendo distância. Há muito tempo não éramos mais próximos. E não haveria mais cabimento em nos cumprimentarmos de um jeito mais carinhoso. Ela foi uma megera quando escolhi Julia, e não ela. - Você não estava morando em Paris?

-Oh sim, meu querido. Estou. - Ela respondeu e me lançou um de seus olhares sedutores. Oh não! Nessa não caía mais, há uns oito anos. Por que ela achava que me abalaria agora? - Estou aqui, á trabalho. Vamos para ilha bela, amanhã para concluirmos o catálogo da Nina Rosa Beach.

-Que bom pra você. - Eu respondi e fui em direção de Laura onde ainda estava nos observando com o olhar extremamente curioso. Eu a peguei pela cintura e a aproximei mais do meu corpo. Queria assegurá-la que ela não precisava se preocupar.

-Olá Vítor! Quanto tempo heim? Renato! Como você cresceu! Está uma delícia. - Ela disse lançando um de seus olhares"cativantes" em direção ao irmão de Vítor.

Ele forçou um sorriso e disse:

-É são oito anos, as coisas mudam Maira.

-Realmente. - Ela concordou e olhou para Laura a observando com cuidado e curiosidade exacerbada.

-Então Julia, tem uma irmã gêmea? Vocês nunca me contaram nada! - Lembrou Carla olhando nos olhos de Vítor.

-Relaxe, querida. É que não sou muito popular aos olhos deles. Mas depois desse encontro inesperado. Espero que possa realmente, mudar as coisas um pouquinho. - Ela comentou e sorriu levemente. E quem não a conhecesse tanto quanto eu se deixaria levar por aquele sorriso que parecia tão leve e relaxado.

Ela se aproximou de mim. E num rápido momento, me deu um beijo na bochecha e saiu andando.

-Prazer em revê-los. - Ela disse num tom simpático. - Ah... Estou hospedada, na extensão 2 da Cabana com a minha equipe. Espero que possa vê-los no jantar. Até mais.

-Vai sonhando. -Resmungou Renato. - Ela está cada vez mais linda. Mas ainda me dá arrepios. - Revelou Renato e depois gargalhou.

-Que estranho? Como ela sabe que estamos hospedados na Cabana? Existem, quatro redes de hotéis nessa cidade! - Lembrou Vítor. Incomodado. Ele também já havia caído nas garras daquela doida anos atrás.

-Quer saber? Não tô nem aí! - Eu disse firme.

Olhei para Laura que estava com os olhos baixos e pensativa. Não tinha dito nenhuma palavra até o momento. Também foi tudo tão rápido. Eu sabia que deveria a levar para algum lugar e contar sobre tudo aquilo. Almejava passar um tempo sós com ela também.

-Gostosa... vamos dar uma volta? Precisamos conversar.

-Ótima ideia. - Afirmou Carla e piscou para mim. - Nos encontramos mais tarde ok? Vai rolar um campeonato misto interessante de vôlei de praia!

-Tudo bem. Cah! Me põe no seu time senão tô fora! - Finalmente minha linda, abriu a boca. Eu já estava ficando preocupado.

Saímos em direção á uma lanchonete mais afastada do cais e ficamos de mãos dadas. E eu não sabia como começar a história. Chegamos na lanchonete e nos sentamos. Ficamos um de frente para o outro.

-Ufa! A vida tem dessas! - Ela exclamou e depois quase sussurrou. - Mas me conte. Que história louca é essa?

Eu fiquei totalmente aliviado por ela ter começado o assunto. Eu também estava espantado. Passaram-se oito anos. Oito longos anos depois que dispensei Maira para ficar com a sua irmã. Depois nunca mais nos vimos. Eu só ficava sabendo sobre ela, nos jornais, e por intermédio da Julia, que sempre esteve indo atrás dela, pedindo-lhe desculpas por ter se apaixonado por mim, seu cunhado. É isso tudo foi estranho. E diferente de tudo o que tinha vivido na época. Mas Julia e eu acabamos nos apaixonando e nos casamos um ano depois.

-Bem... eu e Maira, nos conhecemos na faculdade de administração. Mas nas horas vagas, ela era modelo. Ficamos amigos, e eu a acompanhava nos desfiles. Começamos a namorar. Eu gostei muito dela. Ela era divertida, alegre e ciumenta. Um dia fiquei louco com uma cena de ciúmes dela. E resolvi terminar. E então um dia ela me apresentou a tão famosa irmã gêmea. Julia era enfermeira e também fazia uns bicos de modelo. - Eu contei em detalhes e parei para falar com o garçom que veio nos atender, e pedimos suco de laranja e eu continuei. - Ela tinha acabado de chegar de Milão. E num almoço na casa dos pais. Eu conheci minha futura esposa. Julia tinha me deixado com o coração leve e apaixonado no momento em que a vi. Eu confesso. Já tinha gostado de tudo que Maira me contou sobre ela. Mas conhecê-la pessoalmente, transcendeu todas as minhas expectativas.

-Tudo bem... acho que já imagino o resto. Vocês se apaixonaram perdidamente e casaram-se. - Completou Laura bem atenta, em meus olhos.

-Isso mesmo. - Eu respondi e tomei mais um gole do meu suco. - Não planejamos aquilo. Aconteceu. Foi muito forte. Maira, ficou muito decepcionada. E se afastou de todos, aceitou os trabalhos internacionais e fugiu. Nem seus pais a convenceram a ficar no Brasil.

-Tudo bem. Acho que se acontecesse comigo. Provavelmente, faria o mesmo. Coitada.

-Laura... de coitada ela não tem nada. Isso eu posso te garantir. - Eu disse firme. - Ela saía com os caras que conhecia nos desfiles. Uns ricaços. Na época ela envenenou Vítor contra mim. E ele era apaixonado por ela secretamente. No entanto... Maira sabia de tudo claro, e começou a sair com ele, pouco tempo depois de rompermos. Ele só voltou a falar comigo, quando descobriu seus pequenos "casinhos" na Europa. E num belo dia, ouviu as conversas que Maira mantinha com Julia. - Eu ia contando e a boca de Laura abrindo. Estava espantada. E continuei - Ela sempre disse que eu trairia Julia. Mais cedo ou mais tarde. Julia vivia deprimida, culpada e com medo de que eu fosse realmente um cafajeste. Era essa incerteza interna o tempo todo. E depois do casamento, dois anos depois para ser mais exato, comecei a ficar viciado no meu trabalho, perdemos uma criança e me enfiei ainda mais no trabalho formando uma Holding. Não a apoiei quando ela mais precisava. Eu errei com ela. Nem os conselhos da minha mãe eu acatava. A deixei muito sozinha. E paguei o preço por isso.

-Mas o acidente não foi sua culpa Gustavo! - Ela me disse acariciando minhas mãos por cima da mesa. - A vida é frágil, sabemos disso. - Ela me olhou complacente. Ah... eu a amava tanto. Eu sabia que sim. Mas a fragilidade da culpa ainda era maior. Ás vezes sempre voltava á tona na minha mente.

-Laura. Eu sei. - Eu disse pegando suas mãos e a beijando. - Por isso eu sinto que você é minha segunda chance. A chance que estou tendo para fazer tudo direito. E eu sei que Julia gostaria que eu fosse muito feliz, finalmente. Hoje olhando pra você eu entendo isso.

Ela ficou me encarando com os olhos brilhando. E depois afastou suas mãos. Temi que fosse fugir de novo. Como sempre fazia. Mas não, ela se levantou e veio sentar no meu colo. Ela se sentou, e eu senti seu olhar doce e apaixonado se encontrar com o meu. Ah... o calor do seu corpo no meu era tudo o que eu queria naquele momento. Ela havia se tornado tudo. Tudo para mim.

-Eu te amo, Gustavo. Não vou mais fugir do que sinto.

E eu senti meu coração literalmente pular do meu peito. E ela me beijou. Foi um beijo intenso. Ali, Laura demonstrou, que seu medo havia ido embora. Que a partir daquele momento ela era minha de verdade. Sem reservas.

Vinte minutos depois fomos andando até a cabana, não ficava muito longe do cais. Vimos Maira entrar em um audi preto com mais duas pessoas. E ela ficou nos observando. Curiosidade não faltava naquela mulher. E astúcia também. O olhar dela na minha direção, me deixou desconfortável. Eu não sabia se ela havia mudado, ou crescido como pessoa. Mas Renato tinha razão, aquela mulher ainda causava arrepios!

Cale a boca & me ame  (Livro 1 - Série Desejos)Onde histórias criam vida. Descubra agora