Primeira Parte

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Rússia-Brasil
( Quarto Capítulo )
Continuação...

MAS HAVIA TAMBÉM EMOÇÕES e sustos de verdade na minha vidinha pacata de criança protegida. Um, do qual não mais esqueci, apesar de não ter na época mais de quatro anos de idade, foi quando aconteceu um incêndio, ou princípio de incêndio, no nosso prédio. Não cheguei a ver fogo. Foi, como soube mais tarde, na cobertura do edifício, um andar acima do nosso apartamento : A água que os bombeiros despejaram sobre o fogo em grande quantidade acabou de infiltrando pelo forro, e eu me lembro nitidamente da "chuva" que escoria pelas paredes e até pingava do teto, no meio da sala. E ficou-me a impressão muito forte de grandes botas altas passando na minha frente, bem na altura dos meus olhos - tão pequena eu era: botas apressadas, marchando de um lado para outro, pisando pesado. E nem sei quem eram aquelas botas assustadoras - deviam ser os bombeiros mesmo.
Passado o susto do incêndio, continuou o nosso alegre inverno no apartamento, as manhãs com mamãe e suas canções, as noites com papai e suas histórias, e as tardes com a nossa querida Fraulein, que nos levava a passear, falava alemão conosco - com nossos país falávamos em russo - e nos ensinava todas aquelas artes e artesanato que tanto nos divertiam. E que tanto me ajudariam, mais tarde, quando chegamos ao Brasil, imigrantes, estranhos em terra estranha, sem entender a língua, sem saber nada, nem conhecer ninguém.

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