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*° ☆ °*

O bairro ao sul do riacho não era desconhecido para Jeonghan. Ele tinha amigos na escola que moravam aqui e já passou muitas noites estudando, jogando, ou não fazendo absolutamente nada na área. Então, ele estava familiarizado até demais com o lugar e com essa mesma casa, escondida atrás de uma parede de tijolos simples com uma porta que costumava carregar um enfeite de um leão desgastado, que parecia ter sido reformada recentemente.

Mas ele nunca tinha estado dentro da casa. As luzes do andar de baixo estavam todas desligadas quando eles entraram, indicando que os pais de Seungcheol já haviam ido dormir. Jeonghan seguiu o mais velho pela sala de estar cheia de móveis que não pareciam pertencer ao lugar, e para uma pequena cozinha aconchegante, decorada exatamente como a avó de Jeonghan costumava fazer quando estava viva.

Seungcheol o deixou esperando perto da pia enquanto vasculhava os armários com ajuda apenas da luz da rua que fluía pela janela. Mantendo seus comentários espirituosos sobre procurar coisas no escuro para si, Jeonghan começou a olhar pela janela para o pequeno jardim pitoresco que eles tinham. Fileiras de terra arada se alinhavam em ambos os lados do caminho, agora árida pelas temperaturas frias. Na extremidade, havia vários equipamentos de jardinagem deitados contra a parede e no chão, mal cobertos por uma lona.

Seungcheol voltou com um kit de primeiros socorros na mão, colocando-o no balcão ao lado da pia. Ele estendeu a mão para pegar a de Jeonghan. Jeonghan estava orgulhoso da compostura que manteve enquanto enrolava a manga de seu suéter e estendia o braço em direção ao outro.

— Precisamos mante-lo sob água corrente por um tempo... — Seungcheol explicou sem ser solicitado.

A água estava fria, quase congelante. Mas as mãos de Seungcheol estavam quentes, pelo menos no início, enquanto ele lavava meticulosamente o sangue seco com sabão. A quantidade de pressão que ele aplicou foi ligeiramente irritante para as feridas mal fechadas, fazendo Jeonghan gemer em desconforto quando o sangue fresco emergiu.

— Tem certeza que sabe o que está fazendo?

— Você vai sobreviver — Seungcheol disse, sorrindo para si mesmo. Jeonghan fez sua pequena vingança direcionando o spray de água escorrendo pela palma da mão até ele, molhando a frente de seu suéter. Seungcheol pulou, imediatamente alcançando a torneira para desliga-la. — Você tem doze anos? — o médico perguntou, retornando à tarefa em mãos com devoção. Os olhos de Jeonghan voltaram a observar o jardim, mesmo que apenas para não ter que olhar para o rosto de Seungcheol por mais tempo do que precisava.

— Você provavelmente deveria cobrir aquele equipamento de forma mais adequada. A umidade da lona pode acabar enferrujando.

Seungcheol olhou para cima de onde estava aplicando desinfetante, observando o equipamento também. Jeonghan sentia dor toda vez que o mais velho pressionava o algodão contra sua pele, agarrando a borda do balcão para evitar o reflexo de se afastar.

Não foi nem um pouco proposital que essa ação os fizesse ficar cara a cara. Quase. Jeonghan estava apenas sendo um bom paciente ao ajudar o outro.

Appa não tem se sentido muito bem ultimamente. Ele é quem cuida do jardim normalmente. Mas depois vou trazê-los para dentro para ele — disse Seungcheol, distraído.

— Ele vai ficar bem? — Jeonghan perguntou hesitante. Seungcheol não respondeu por um tempo. Ele parecia estar ocupado colocando os curativos da forma mais eficiente possível para cobrir toda a pele raspada no antebraço do outro.

Mas havia mais naquele silêncio, Jeonghan tinha certeza.

— Vai, sim. Todo mundo envelhece... — Seungcheol olhou pela janela novamente enquanto dizia isso, perdido em seus pensamentos. Um momento depois, ele balançou a cabeça como se para limpar sua mente antes de retornar a sua tarefa.

In Our Pocket of the Universe | jeongcheolOnde histórias criam vida. Descubra agora