JENNIE KIM;
Abro a porta do meu quarto com força, e os desenhos de Jisoo se tornam um borrão na minha frente enquanto toda a dor e a culpa que venho soterrando começam a escapar, fazendo minhas pernas e joelhos vacilarem. Desabo no chão, meus dedos cravados no piso frio de linóleo e o grito da minha mãe ressoando na minha cabeça, exatamente como naquela manhã.
Era para eu estar com Jisoo naquele fim de semana no Arizona, mas eu estava com tanta dificuldade para respirar na noite anterior à viagem que tive que ficar para trás. Pedi um milhão de desculpas. Era para ser o presente de aniversário dela. Nossa primeira viagem juntas, só nós duas. Mas Jisoo não ficou chateada e me deu um abraço apertado, dizendo que em uma semana estaria de volta com fotos e histórias suficientes para me fazer sentir como se eu estivesse lá com ela o tempo todo. Mas ela nunca voltou.
Lembro de ouvir o telefone tocar. Da minha mãe soluçando na escada, meu pai batendo na porta e me pedindo para sentar. Algo tinha acontecido. Não acreditei nele.
Balancei a cabeça, rindo. Era uma pegadinha da Jisoo. Tinha que ser. Não era possível. Não podia ser. Era eu quem deveria morrer, muito antes do que qualquer um deles. Jisoo era praticamente a definição do que é viver.
Levei três dias inteiros para o luto me atingir. Foi só quando deveríamos estar pousando no aeroporto que me dei conta de que Jisoo realmente não voltaria para casa. Foi como se o mundo tivesse caído em cima da minha cabeça. Fiquei na cama por duas semanas seguidas, ignorando meu AffloVest e meu tratamento e, quando me levantei, não eram só meus pulmões que estavam em frangalhos. Meus pais também não estavam se falando. Não conseguiam nem olhar um na cara do outro.
Previ o divórcio muito antes de acontecer. Tinha preparado a Jisoo e dito a ela o que fazer para mantê-los juntos depois que eu partisse. O que eu não esperava é que seria eu quem teria de fazer isso.
Eu tentei tanto. Planejei passeios em família, preparei o jantar para eles quando os dois não conseguiam fazer nada além de ficar olhando para o nada. Mas foi tudo em vão. Sempre que o nome da Jisoo vinha à tona, uma briga começava. E, mesmo quando não se pronunciava o nome dela, sua presença sufocava o silêncio. Eles se separaram em três meses. Se divorciaram em seis. E colocaram o máximo de distância possível entre os dois, me deixando no meio.
Mas o divórcio não melhorou as coisas. Desde então, é como se eu estivesse sonhando, me concentrando dia após dia em permanecer viva para manter os dois de pé. Faço listas de tarefas e risco seus itens para me manter ocupada, engolindo minha tristeza e dor para que meus pais não sejam consumidos pelo luto.
Agora, para piorar as coisas, Lisa resolveu me dizer o que devo ou não fazer. Como se ela tivesse qualquer noção do que realmente significa viver. E a pior parte é que a única pessoa com quem quero conversar sobre isso é a Jisoo.
Com raiva, enxugo as lágrimas com o dorso da mão, tiro o celular do bolso e mando uma mensagem para a única outra pessoa no mundo que eu sei que vai me entender.
Sala de espera. Agora
Penso em todos os desenhos no meu quarto. Cada um representa uma ida ao hospital com Jisoo, que estava lá segurando a minha mão. E agora já são três viagens. Três internações inteiras sem nenhum desenho dela.
Lembro do primeiro dia que vim ao St. Grace. Se eu já estava com medo antes, o tamanho desse lugar era suficiente para fazer qualquer criança de seis anos se assustar mais ainda. As janelas enormes, os aparelhos, os barulhos altos. Atravessei a recepção, apertando a mão de Jisoo como se minha vida dependesse disso e tentando ao máximo ser corajosa.
Meus pais conversaram com a Barb e com a dra. Hamid. Mesmo antes de me conhecerem, as duas fizeram tudo o que puderam para eu sentir que o St. Grace era minha segunda casa desde o primeiro momento em que coloquei os pés aqui. Mas de todos, a única pessoa que conseguiu de fato me trazer essa sensação foi Jisoo. Naquele dia, ela me deu três presentes inestimáveis.
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A Cinco Passos de Você - Jenlisa
Romance⌕ 𝐉ennie Kim não é uma adolescente comum. Por conta da fibrose cística, doença crônica que impede que seus pulmões funcionem como deveriam, ela vive a maior parte do tempo no hospital, seguindo à risca seu tratamento na esperança de conseguir um tr...