first encounters, accidents & other things you can't plan

22. bet on me

Sábado, 11 de abril de 2022. 15:30h

POV: kai

De manhã, estou quase chegando em casa quando me pergunto se não seria melhor apenas deixar essa história pra lá. Sim, meus pais haviam deixado a casa pra mim. Sim, talvez eu não pudesse ignorá-la pra sempre. Mas, no fim das contas, eu não havia pedido por casa alguma, e definitivamente não por uma tão assustadora, então eu poderia apenas vendê-la e seguir em frente sem me preocupar com isso.

Ainda estou com essa ideia na cabeça quando o táxi para o carro em frente aos portões enferrujados, e sou obrigado a desembarcar.

Ainda não tomei coragem para destrancá-lo quando avisto algo que chama minha atenção.

Na calçada, do outro lado da rua, exatamente em frente de onde estou, vejo uma figura sentada em um degrau, com algo apoiado em seu colo. Dessa distância, não consigo identificar o que é, mas parece uma prancheta ou um bloco de desenho.

A encaro com curiosidade por algum tempo, até que finalmente ela levanta a cabeça e me encara de volta.

Não sei qual dos dois ficou mais surpreso. Eu, que mesmo sentindo o rosto esquentar de vergonha não consigo desviar o olhar, ou ela, que se levanta em um pulo fechando o caderno. Ela pisca algumas vezes e parece cogitar apenas ir embora, mas, ao invés disso, sorri meio sem graça. Sorrio também, e aceno. Me arrependo no mesmo segundo. Não é como se tivesse a intenção de tornar tudo ainda mais estranho, mas agora é tarde.

Para minha surpresa, ela olha para os dois lados da rua e atravessa. Analiso-a com mais atenção e logo a reconheço da livraria e do incidente no estacionamento. Me pergunto se ela sabe quem eu sou.

-Oi. -Ela diz. Suas bochechas estão coradas, mas sua voz é estável e gentil. Ela não parece nem um pouco incomodada. -Desculpe a intromissão. Já passei por aqui milhares de vezes e nunca vi ninguém entrar ou sair dessa casa. Logo hoje que decidi parar para desenhá-la, você apareceu. Desculpe.

Geralmente, não o tipo de homem que faz papel de idiota na frente de uma garota bonita.

Mas, se para toda regra há uma exceção, a minha estava bem à minha frente.

-Ah, uhm, certo. Sem problemas. Me desculpe também. -Respondo, mesmo tropeçando nas palavras. Quase consigo ouvir Yeonjun, Beomgyu e Taehyun rindo de mim ao fundo.

-Desculpar pelo quê? -Ela pergunta, trocando o sorriso por uma expressão confusa.

-Por ficar te encarando. Não era minha intenção, eu só...Sabe, não consegui evitar.

-Ah. -Ela ri e desvia o olhar. -Está tudo bem, eu nem tinha reparado.

Então, silêncio. O assunto que nem deveria ter se estendido até aqui finalmente acabou, e bem quando entrar em casa e deixar essa situação para trás estava parecendo uma opção melhor do que simplesmente ficar parado na calçada como eu estava antes, ela ergue o caderno que está segurando e o abre.

-Toma. Já que a casa tem, de fato, um dono, nada mais justo do que você ficar com isso. -Ela diz, arrancando uma das folhas e me entregando. -Agora eu já vou. Desculpe mais uma vez, e obrigada por entender, Kai.

Seguro o papel com força, como se pra ter certeza que ele não irá fugir. A observo caminhando devagar na direção de onde eu vim, segurando o caderno com ambas as mãos. Ela já está quase longe o suficiente para que eu não consiga mais vê-la quando decido inspecionar o desenho.

No lado da folha que está virado para mim, há um desenho da casa exatamente como ela é. Apesar de não estar colorido, parece quase tão real quanto uma foto. É tão realista e detalhado, que me pergunto quanto tempo ela teve que inspecionar essa casa odiosa até perceber tudo isso. Viro a folha em busca de uma assinatura, e sou surpreendido com outro desenho. É a mesma casa, mas, ao mesmo tempo, não é. Agora, há um jardim cheio de flores, um banco e um balanço na entrada. Os portões estão consertados e há luzinhas balançando para o lado de fora, além de uma caixa para cartas que diz "bem-vindo". A porta da frente e as janelas também são diferentes, a tinta não está suja e o telhado está completo. É a mesma casa, mas também é uma completamente diferente. É um lugar em que eu gostaria de morar.