Eu e a Júlia saímos de casa cedo naquele dia. O sol ainda nem tinha esquentado direito, mas já tava no pique. O pessoal da gravadora tinha me respondido ontem, marcando pra eu colar hoje pra gravar a segunda música. Essa era a chance de mostrar que eu não tava ali pra brincadeira. E, claro, a Júlia ia comigo. Não tem como ela ficar de fora dessas paradas.
Davi: "Tá pronta, tampinha?"
Júlia: "Pronta? Sempre tô, Davizera! Só espero que não demore muito porque eu quero passar na lanchonete depois."
Eu ri enquanto a gente andava pro ponto. Era ela mesma, sempre com fome, mas eu não conseguia imaginar fazer isso tudo sem ela do lado. O busão chegou rápido e a gente foi em pé, apertado, como sempre. Júlia encostou na janela, me olhando com aquele sorriso.
Júlia: "Tá nervoso?"
Davi: "Nervoso nada! Isso aqui é só mais um passo, tá ligado? Já tô pensando na próxima já."
Júlia: "Ah, então o cantor tá confiante hoje, né?"
Dei uma risadinha e cutuquei a cabeça dela de leve. Ela me zoava, mas no fundo eu sabia que tava tão animada quanto eu. Chegamos na frente da gravadora e, mano, aquele lugar sempre me deixava com uma sensação diferente. Era simples, nada muito grande, mas era ali que meu som tava ganhando vida.
Quando entramos, um dos caras que cuidava das gravações veio cumprimentar a gente.
Produtor: "E aí, Davi? Beleza, irmão? Bora trabalhar?"
Davi: "Demorô, irmão! Tô com umas ideias aqui que vão estourar."
Júlia tava só observando, mas não demorou pra começar a mexer nas coisas no estúdio, fuçando, curiosa como sempre.
Júlia: "Ô, Davi, cê já pensou num refrão forte? Porque se não grudar na cabeça do povo, não adianta."
Davi: "Calma aí, tampinha. Deixa o artista trabalhar."
Os caras deram risada, achando graça da gente. Era sempre assim: onde eu ia, a Júlia fazia questão de marcar presença, dando pitaco e me deixando ainda mais focado. O produtor ajustou os microfones, e eu entrei na cabine. Aquele momento era meu.
Produtor: "Tá pronto? Manda a primeira."
Eu olhei pra Júlia, que tava do outro lado do vidro, me encarando com um olhar de "vai lá e faz o teu". Respirei fundo e comecei. Era só o início, mas dava pra sentir que a gente tava construindo algo maior do que qualquer coisa que eu podia imaginar.
Quando terminei, saí da cabine e encontrei a Júlia com aquele sorrisinho típico.
Quando eu saí da cabine, a Júlia já tava com aquele sorriso travesso no rosto.
Júlia: "Volante na mão, lacrados os quatro vidros, azul xenon!"
Ela falou rindo, toda empolgada, como se estivesse dirigindo. Eu só olhei pra ela, rindo junto, porque não tinha como não sorrir com ela fazendo essas loucuras.
Davi: "Tá tirando, né, tampinha? Mas fala aí, ficou brabo ou não ficou?"
Júlia: "Ficou muito brabo! Cê tá estourado, irmão. Mas, ó, o refrão podia ser mais chiclete, tipo um ‘nanana’ que não sai da cabeça, tá ligado?"
Ela falou rindo enquanto se aproximava do computador onde o produtor tava mexendo, se metendo nas coisas.
Produtor: "Essa sua irmã é gente boa, hein, Davi. Tá quase virando produtora."
Davi: "Quase? Ela já acha que manda em tudo!"
Júlia: "E eu mando mesmo, viu? Sem mim, o Davizera aqui tava perdido."

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É os Bigode da Firma.
Adventure"É os Bigode da Firma" é minha história, onde eu, Davi, vivo na quebrada. Me meto em amor e traição, e quando rola um lance com a Isadora, mulher do dono do morro, a parada fica tensa por uns motivos ai. A vida vira um caos, e no meio do funk e das...