Nosso Segredo Sombrio | CONCLUÍDO

Capítulo 17

Dois dias antes, Flerks...

O local não era o mais agradável de todos. Ficava no subúrbio de Flerks, a parte mais pobre da cidade. A Groove Haven era um espetáculo que contrastava com o entorno desolado nas imediações de Flerks. À primeira vista, sua arquitetura audaciosa se destacava como um oásis, escondendo a pobreza local. O prédio ostentava um jogo de luzes vermelhas que escorriam pelas cortinas metálicas como cascatas de neon, irradiando uma aragem sedutora que parecia provocar o ambiente à sua volta.

O design externo misturava modernidade com um toque dramático. A fachada frontal era composta por linhas retas e simétricas, suportadas por colunas brancas iluminadas por holofotes, criando uma estética limpa, porém imponente. O letreiro com o nome da boate brilhava no topo como uma lua crescente, em letras de luz fria, destoando do calor vibrante emanado pelas luzes vermelhas.

A entrada era ampla, protegida por uma cobertura horizontal que lançava sombras preditas sobre a calçada de paralelepípedos desgastados, uma nota sutil do contraste entre o luxo do local e a simplicidade do bairro. Do lado esquerdo, havia detalhes geométricos em círculos que pareciam um portal para uma outra dimensão, enquanto as bordas negras e polidas do edifício absorviam a luz ao invés de refletir, acrescentando uma sensação de prudência.

Sob o céu noturno, com a lua como espectadora, o Groove Haven era quase uma provocação: um espaço de excessos, de liberdade e mistério, cercado pela melancolia silenciosa do subúrbio. Era uma joia rebelde e luminosa, resistindo à escuridão que a cercava, convidando tanto os habitantes locais quanto os forasteiros a se perderem por algumas horas no som e na dança. Porém, toda essa beleza escondia algo mais sombrio.

Damian Ashford entrou rapidamente, seguindo os passos firmes de Cassian, que parecia alheio ao caos comedido ao redor. Ambos atravessaram corredores estreitos até chegarem a uma sala afastada, onde o ambiente parecia se transformar em um teatro de sombras. As paredes pintadas em tons de vermelho escuro absorviam a luz fria que piscava intermitente, criando uma atmosfera densa e opressiva. O local tinha um quê de exclusividade, mas exalava perigo; o cheiro de cigarro misturava-se ao de couro envelhecido, enquanto murmúrios discretos se perdiam em meio a uma música suave, quase hipnótica, que parecia sussurrar coisas que deveriam ser manter ocultas e proibidas. Damian manteve a expressão firme enquanto os olhos analisavam o ambiente com precisão. Ele estava em busca de respostas, e cada passo que dava o aproximava de um jogo venturoso que sabia estar entrando. No centro da sala, ocupando um lugar de destaque, estava Sheron Trevor.

A mulher, dona de uma presença que preenchia o ambiente, sentava-se numa poltrona peculiar de couro preto, revestida com plumas delicadas e luxuosas. Seus cabelos escuros, cortados em um mullet masculino que surpreendentemente exalava elegância, contrastavam com seu traje impecável, um blazer sob medida que denunciava seu gosto caro e refinado. Apesar de estar na casa dos cinquenta, Sheron parecia desafiar o tempo, ostentando uma aparência vibrante e uma postura autoritária que intimidava até os mais ousados. Ela cruzava as pernas com graça, o olhar afiado como o de uma predadora esperando pacientemente por sua próxima presa.

Sheron Trevor não era apenas uma mulher de negócios — ela era a rainha de um submundo onde poder e violência se entrelaçavam. Comandava os Falcons, a principal milícia de Flerks, que tinha domínio absoluto sobre a parte Oeste da cidade. A polícia não ousava intervir naquela região, não porque não quisessem, mas porque sabiam que a balança do poder estava firmemente nas mãos de Sheron. A corrupção era uma praga disseminada em todas as esferas; policiais corruptos se infiltravam entre os honestos, e o dinheiro fácil que o crime proporcionava seduzia até os mais íntegros.

Damian parou alguns passos à frente, observando Sheron com cuidado, enquanto Cassian se manteve um pouco mais atrás, em silêncio. Sheron ergueu os olhos, um sorriso lento e contido se formando em seus lábios.