Capítulo 19

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Horas antes, Flerks...

Os tolos caminham pela vida com os olhos vendados, não por falta de visão, mas por escolha. Eles preferem a ilusião à realidade, o conforto do engano à dureza da verdade. Os tolos acreditam em promessas vazias, em palavras bonitas sem a necessidade de ações que as sustentem. Entregam suas almas como se fossem moedas em um jogo do qual não conhecem as regras. Eles confundem bondade com ingenuidade, oferecendo confiança a quem pouco merece. E, por fim, se tornam prisioneiros das próprias expectativas. Mas o tolo não é apenas uma vítima do mundo: ele também carrega uma certa arrogância no peito. Ele acredita que ser tolo é um ato puro, que a vida há de recompensá-lo por sua esperança e obstinação. Ele segue, sempre tropeçando, mas jamais aprendendo. E, quando cai, culpa o mundo, nunca sua própria cegueira. O tolo é um ciclo sem fim, uma lição que insiste em ser repetida.

Sob outra perpsectiva, os hipócritas vestem a pele da virtude, mas carregam consigo a essência da falsidade. Eles falam sobre bondade, mas escondem espinhos sob os lábios. Eles condenam o pecado alheio enquanto praticam o mesmo pecado em segredo. Aos olhos do mundo, os hipócritas são heróis, justos e implacáveis; mas, às sombras, são covardes, incapazes de olhar no espelho e admitir quem realmente são. O hipócrita é um mestre da manipulação social. Ele compreende que o mundo valoriza a aparência mais do que a substância, e assim ele se adapta. Seu discurso é belo, suas ações, teatralmente perfeitas, mas seu coração é vazio. Ele é um ator que esqueceu que existe vida fora do palco. Ao final, os hipócritas não encontram o perdão, pois nunca ousaram pedir por ele.

Os devassos são outros que vivem na pele o que os outros apenas fantasiam. Para eles, o prazer é um deus, e a satisfação momentânea vale mais do que qualquer promessa de eternidade. Eles queimam rápido, como chamas que iluminam o escuro, mas que, ao final, nada deixam além de cinzas. A carne é sua morada, e os sentidos, sua lei. Mas sob a liberdade dos devassos, existe um vazio que nem todos percebem. Quando os corpos se afastam e o silêncio preenche os espaços outrora ocupados por risos, eles se veem sozinhos. Eles buscam outro toque, outra embriaguez, para calar o que grita dentro deles: a ausência de significado. A devassidão é uma fórmula temporária para um vazio permanente.

Já os manipuladores são os escultores da realidade alheia. Eles compreendem as fraquezas humanas e sabem exatamente como utilizá-las a seu favor. São homens e mulheres que falam com doçura, mas escondem punhais nas palavras. Para eles, o outro não passa de um peão em um tabuleiro, um meio para alcançar um fim. Eles usam a beleza, o charme, a inteligência como armas. Criam ilusões tão convincentes que até mesmo suas vítimas passam a defender suas intenções. O manipulador não sente culpa, pois acredita que está apenas jogando o jogo do mundo — um jogo onde vence aquele que consegue controlar os outros. Mas o manipulador, como qualquer jogador, também perde. Porque, no fundo, ele nunca é amado, apenas temido ou desejado. E não existe solidão maior que a do homem que controla a todos, mas nunca a si mesmo. Os egoístas são os habitantes de um mundo onde apenas eles existem. Cada decisão, cada gesto é pensado em função de seu próprio bem-estar. Eles amam apenas quando isso lhes é conveniente; ajudam apenas quando o favor será retribuído. A dor alheia os incomoda não pela empatia, mas pelo desconforto que ela causa.

Enquanto isso, o egoísta não conhece a alegria do compartilhamento, a beleza do sacrifício. Ele acha que está protegido por seu muro de indiferença, mas é, na verdade, prisioneiro dele. Enquanto ele coleciona vitórias vazias, os outros colecionam memórias de amor, amizades verdadeiras e gestos que jamais serão esquecidos. O egoísta é rei de um trono solitário, onde o único som é o eco de sua própria voz. Por outro prisma, os malfeitores são os que escolhem o caos. Eles veem no sofrimento alheio uma espécie de triunfo, um testemunho de seu poder. São aqueles que quebram, que destroem, que deixam marcas onde passam. O malfeitor é, muitas vezes, fruto de um coração machucado. Ele se convence de que o mundo merece o mesmo sofrimento que ele carrega. Mas o mal não traz redenção, apenas mais destruição. O malfeitor cava sua própria ruína, um buraco do qual jamais conseguirá sair. Enquanto ele acredita que está derrotando o mundo, o mundo o esquece. Ele se torna um fantasma, lembrado apenas pelas cicatrizes que deixou.

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