A morte é um sussurro inevitável que nos acompanha desde o momento em que chegamos ao mundo, uma presença sucessiva e embatucada, como a sombra que só existe porque há luz. Não há passo dado, palavra dita ou lágrima derramada que não seja observada por ela, discreta, paciente, aguardando. Para alguns, é uma promessa, um descanso. Para outros, uma tragédia, um fim. Mas, acima de tudo, a morte é um espelho — cruel e honesto — no qual enxergamos, finalmente, a verdade sobre quem somos.
Crescemos evitando olhar diretamente para ela, como se o simples ato de encará-la fosse suficiente para que viesse nos buscar. Tentamos esquecê-la no barulho dos dias, na rotina das horas, mas a morte é boa com o tempo: ela não se apressa. Enquanto corremos, cegos, atrás de algo que nos distraia, a morte espera no horizonte, como uma boa e velha amiga que sorri com uma paciência quase terna. Quando a noite cai, e o silêncio toma conta dos quartos, ela finalmente nos visita — não para nos levar, mas para nos lembrar de que sempre vai estar ali.
E o que a morte nos diz, em seu silêncio profundo? Que somos finitos, frágeis, pequenos. A vida é um sopro e, ao percebermos isso, o peito se aperta com a angústia daquilo que não poderá ser vivido. "Por que correr?", ela pergunta, "se o fim é o mesmo para todos?". Mas, na mesma medida em que o peso da morte nos esmaga, ela também nos desperta. Ela dá valor ao instante, ensina que os minutos não são feitos de ponteiros em movimento, mas de escolhas irreversíveis. O beijo que não damos, a palavra que calamos, o amor que negamos: é na iminência da morte que aprendemos o que significa estar vivos.
Dizem que a morte é o fim, mas isso depende de quem a vê. Para uns, é o apagar da chama. A escuridão. Para outros, é passagem, como uma porta que se abre para outra sala, outra paisagem, outra vida. Nas grandes religiões, a morte é quase um consolo: o fim da dor, a dissolução do corpo e a libertação da alma, que finalmente pode descansar ou ser julgada, dependendo de suas ações. Talvez haja céu, inferno, reencarnação. Talvez haja apenas o vazio. Ou talvez seja como mergulhar profundamente no mar, afundando sem peso, sem som, até que não haja mais superfície a lembrar.
Ainda assim, há algo de belo na morte que os vivos raramente admitem. Um corpo que cessa, enfim, é o mais claro testemunho de que ali, por um tempo breve, houve vida. E onde há vida, há luta, há amor, há arte. O que é a criação senão um ato de desafio? Escrever, pintar, cantar, amar — tudo é um protesto contra a finitude. Tentamos deixar algo de nós no mundo, algo que resista à voracidade do tempo. E, no entanto, o tempo ri de nós, e o mundo continua sem perceber nossa ausência. Mas talvez esse seja o ponto: a vida é valiosa porque acaba. Somos temporários, mas nossos gestos, pequenos e grandiosos, têm o poder de iluminar o caminho de quem vem depois. E não é essa a verdadeira eternidade? Não a imortalidade do corpo, mas a dos rastros que deixamos, como as pegadas na areia que outra onda, mais lenta, ainda não apagou. Há beleza no morredouro. Há grandeza em aceitar que, no fim, seremos poeira — mas, por ora, somos poeira que dança.
Quem teme a morte, talvez, tema a solidão. Porque morrer é estar sozinho, mais sozinho do que em qualquer noite fria. Morrer é atravessar um caminho que ninguém pode percorrer conosco, é o silêncio após o último suspiro, o vazio onde antes existia o som da vida. É a partida que não tem retorno. Por isso, os vivos choram: não pelo que se perde, mas pelo que fica. É sempre mais doloroso para quem fica.
A morte nos ensina a perder, e perder dói. Perdemos aqueles que amamos, pedaços de nós mesmos que nunca serão substituídos. Perdemos tempo. Perdemos sonhos. Mas é a perda que nos torna humanos, que nos faz amar com mais força, abraçar com mais firmeza. A finitude é o que nos faz preciosos. E, assim, a morte, que é tantas vezes pintada como vilã, nos mostra que não é o fim que importa, mas o que fazemos antes dele. É nas madrugadas insone, nos risos compartilhados, nos corpos que se amam, nos olhos que se encontram e nas mãos que se tocam que construímos o significado que buscamos no fim. Quando o último momento chega — e ele sempre chega —, talvez não tenhamos medo, apenas gratidão. E, então, a morte nos toma, com um gesto calmo, quase maternal, e sussurra em nosso ouvido: "Foi o suficiente?". Se tivermos vivido com coragem, com amor, com verdade, talvez possamos responder: "Foi".
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Nosso Segredo Sombrio | CONCLUÍDO
Misterio / SuspensoLivro inadequado para menores de 18 anos. Selene Halloway era como a maçã do Éden: irresistível, bela, e perigosamente proibida. Com sua pele bronzeada, marcada pelo pecado, ela estava destinada a uma vida de poder ao lado de Cassian Thorn, um homem...