Beautiful Lie

Prólogo

Susana sequer tirou os sapatos antes de entrar em casa. Como era idiota! Estava quase no avião, faltando meia-hora para o embarque, quando notou a falta do passaporte.

De novo.

— Caio? — chamou, mas não houve resposta. Provavelmente seu marido estava em algum lugar com Ariel, filho de uns amigos, discutindo sobre alguma planta aquática que ninguém ligava. Como amigos e professor-aluno, os dois gostavam de jogar conversa fora.

Susana subiu as escadas, seus saltos faziam um som oco na madeira, lembrando-a de tirá-los. Mas quando viu o passaporte na mesinha sob o retrato de infância do esposo, esqueceu-se da sujeira no piso caro e agarrou os documentos como se fossem fugir.

— Se ele tivesse me atendido, eu não ia precisar vir até aqui — bufou de irritação ao pensar no marido.

Um ofego.

— Hm?

Susana se voltou para a porta do quarto de visitas, que deveria ser para seu filho, se tivessem tido um. A porta estava fechada, mas foi impossível não ouvir um nome sendo dito. Um clamor.

— Caio?

O silêncio na casa era espectral.

Largou o passaporte e deu um passo a frente. E o outro. E mais outro. Até perceber que a porta não estava fechada, mas entreaberta, cuja fenda revelava a cama de casal que ela cuidadosamente comprara para as visitas. O ambiente era requintado e exalava um perfume de rosas. De alguma forma se sentia como a Lúcia de Nárnia ao descobrir outro mundo, muito diferente do racional.

Caio estava sentado na cama, bem visível para ela, com pernas entreabertas em que Ariel repousava a cabeça. Um braço forte de seu esposo rodeava a cabeça repleta de fios vermelhos e o outro agarrava a cintura de Ariel. Caio o beijava, mas não era qualquer beijo, daqueles secos e rápidos ele dava em Susana, no começo feliz de seu casamento.

Não.

Era sôfrego e parecia profundo mesmo aos olhos distantes de Susana. Quanto mais Caio o beijava, mais Ariel gemia contra os lábios do homem mais excitado do que Susana vira em quinze anos. O filho de seus amigos se derretia como chocolate, erguendo um dos braços, enfiando os dedos por entre o cabelo macio de Caio.

Susana sabia que aquele cabelo era macio. Ela o penteara incontáveis vezes.

Em silêncio, Susana observava enquanto as roupas eram tiradas. Enquanto seu marido e o aluno faziam amor em sua própria casa.

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