Claudia não respondeu de imediato, ela ficou me encarando boquiaberta enquanto processava o que tinha acabado de dizer.
Me levantei para pegar a muleta que estava ao lado da cama. Não via a hora de poder andar sem aquilo. Por mais que eu não usasse o tempo todo por pura falta de responsabilidade, já que minha perna poderia não curar da forma que deveria por isso, não tinha como sair na rua sem ela.
Dona Ana ainda estava sentada na mesa quando fui até a cozinha, mas agora ela estava sozinha. Rubens não estava mais lá. Ela enxugou as lagrimas de seu rosto quando me viu entrar.
-- Posso dar uma volta com Claudia? perguntei. - Acho que um pouco de ar fresco pode fazer bem a ela. - disse.
Ela fez que sim com a cabeça dando um suspiro.
Me sentei na cadeira a seu lado e peguei sua mão.
-- Não fica assim. - pedi. - Eu sei que essa situação não é fácil pra você, mas logo isso vai passar.
Ela sorriu para mim ainda sem dizer nada. Seus olhos estavam vermelhos assim como seu rosto.
-- Dona Ana, eu estou aqui pra ajudar tanto a Claudia quanto o Rubens e você. Saiba que pode contar comigo para qualquer coisa, nem que seja apenas pra conversar. - disse apertando sua mão.
-- Obrigada Fernanda. - ela sorriu outra vez para mim. - Você é um anjo sabia?
Dei um sorriso me sentindo sem graça.
Ela se levantou e começou a tirar a mesa.
***
-- Não acredito que convenceu minha mãe a me deixar sair. - disse dando pulinhos ao lado do banco que eu estava sentada.
Gostava desse seu jeito descontraído de ser. Me fazia lembrar o passado. De como éramos antigamente, quando ela não se importava de sair para tomar um sorvete ou comer um lanche na rua e quando eu não tinha que me preocupar com uma criança que crescia dentro de mim.
-- Por que não senta e relaxa? Perguntei.
Ela parou na minha frente parecendo realmente ofendida.
-- O que foi?
-- Como assim, senta e relaxa? Eu fiquei trancada em um quarto de hospital por quase um mês. Minha mãe não me deixar sair nem para conversar com as meninas do vôlei.
-- E elas foram te ver no hospital? Perguntei.
Ela encolheu os ombros e se sentou ao meu lado.
-- Não.
-- Então sua mãe está com a razão em não te deixar falar com elas.
-- Amanda me disse que a treinadora está ansiosa para a mina volta. - disse me encarando.
Eu fechei os olhos e respirei fundo.
-- Você sabe que...
-- Cala a boca e me deixa ser feliz pelo menos por saber que ainda me querem de volta. - disse zangada.
-- Tudo bem, vamos comer alguma coisa, eu estou com vontade de tomar sorvete. - eu me levantei deixando assunto de lado.
Claudia fez cara feia.
-- Ah vamos lá. - Me apoiei na muleta e peguei sua mão. - Você não vai morrer se me fizer companhia. - disse.
Ela não disse nada.
-- Olha, o bebe quer que você tome um também. Ele está te achando muito magra - disse lhe dando as costas.
-- Isso é maldade, não pode usar o bebe só porque eu não quero tomar um sorvete com você.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...