-- Aí. - puxei meu braço por reflexo quando Lucas passou o algodão mais uma vez sobre o corte.
-- Fica quieta. - disse ele segurando meu braço novamente.
-- Elas poderiam ter te matado. - Claudia berrou totalmente histérica no outro canto do quarto.
-- Eu estou bem. - disse tentando acalma-la.
-- Bem? Ela elevou ainda mais a voz. - Seu olho está inchado, o seu braço tem um corte horrível, e você está... - ela se calou por um segundo passando as mãos no cabelo enquanto andava de um lado para o outro como sempre fazia quando estava com vontade de dar um soco em alguém. - No que estava pensando sua idiota?
-- Claudia fica calma. - Lucas disse pegando uma gaze para colocar no corte em meu braço.
-- Emília não vai esquecer disso tão cedo. Acha que ela vai deixar barato? Ela apontou aquele dedo minúsculo para o meu rosto. - Você quebrou o nariz dela!
Suspirei pesadamente fechando os olhos. Minha cabeça doía, meu corpo também, provavelmente amanhã acordaria com vários pontos arroxeados espalhados pelo corpo
Depois de ter sentido o nariz de Emília se esmagando contra meu punho, as únicas coisa que senti foi algo me atingindo nas costas. Tive que me encolher como uma bola para proteger minha barriga quando cai no chão.
-- Eu ainda acho que deveríamos levá-la a um hospital. - ela disse me dando as costas.
-- Eu estou bem. - disse mais uma vez, mas na verdade estava exausta. Precisava da minha cama mais do que nunca.
Cláudia me fuzilou.
-- Você tem certeza de que não quer mesmo que a gente te leve até o hospital Nanda? Perguntou depois que o ferimento em meu braço estava limpo e com curativo.
Eu fiz que sim com a cabeça tentando ignorar a fisgada em minha perna quando tentei me levantar.
-- Eu te ajudo. - ele sorriu para mim enquanto passava um dos braços pela minha cintura. E isso pareceu me acalmar um pouco.
-- Arg! - Cláudia saiu de perto de nós parecendo irritada.
Eu pisquei confusa enquanto a observava saindo do quarto, mas quando olhei para Lucas ele estava rindo.
Coloquei a muleta em baixo do braço e fui atrás de Cláudia, que estava na cozinha com sua mãe.
-- Minha mãe disse que te leva pra casa.- disse de mal humor.
Eu assenti.
Dona Ana sorriu gentilmente para mim. Seu olhar parecia transbordar pena.
Eu não sabia o que Cláudia tinha dito a ela, provavelmente a verdade, mas não me importava. Eu só queria ir para a casa e descansar.
Lucas me entregou minha blusa antes que eu entrasse no carro com Dona Ana.
-- Gostei muito de te conhecer. - disse sorrindo com o canto da boca. - Espero te ver mais vezes enquanto estiver aqui.
-- Foi um prazer. - disse sorrindo estendendo a mão.
Um choque percorreu meu corpo quando Lucas beijou o canto da minha boca quando foi se despedir. Senti minhas bochechas ficarem quentes.
Cláudia pigarreou ao seu lado. Ela batia o pé impaciente com os braços cruzados sobre o peito.
Lucas acenou e deu espaço para que Cláudia entrasse no carro.
Dona Ana olhou para Cláudia que estava emburrada sentada do outro lado do carro e depois para mim como se perguntasse o que tinha acontecido. Eu dei de ombros e então ela ligou o carro.
Estávamos na metade do caminho quando Cláudia me encarou ainda emburrada.
-- Vocês dois, não vai acontecer. - ela sorriu forçadamente para mim.
Revirei os olhos e encostei minha cabeça no banco. O restante do caminho pareceu mais longo que o normal.
-- Se precisar de qualquer coisa pode me ligar minha querida. - disse Ana quando parou na frente de casa.
Eu assenti e agradeci.
Encarei Cláudia que estava sentada agora no banco da frente do carro.
-- Até amanhã. - disse quando ela não disse nada.
--Até amanhã. - respondeu de mal humor.
Entrei pela porta do fundo tentando não fazer barulho e caminhei até meu quarto em silencio. As luzes estavam apagadas, mas pude ver meu pai dormindo no sofá quando passei pela sala.Toda aquela confusão ainda estava fresca em minha mente. O rosto apavorado de Claudia ao me ver dando um soco certeiro em Emília, e depois quando ela entrou na frente para me defender das outras pessoas que já estavam me batendo.
Eu não vi quando o primeiro soco atingiu meu rosto, mas revidei instintivamente. Aquele corte em meu braço veio logo em seguida, quando todo o meu corpo foi ao chão e eu cai em cima de cacos de vidro.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...