Era sábado à noite. Já estava em casa quando Lucas ligou, fiquei na varanda para poder conversar com ele. Ele não me deu chances de dizer mais que um "Alo" e então ele disse:
–– Nanda, eu estou com ciúmes de você e minha prima, é isso que está acontecendo entre a gente. – ele fez uma pausa. –– Não sei se você esqueceu, mas ela te beijou. E agora você dorme no mesmo quarto que ela... Eu até tentei ignorar isso, só que agora não dá mais.–– Você sabe que aquele beijo não significou nada para mim Lucas. – disse.
–– Mas para ela significou. Vocês são amigas desde pequenas, e eu te conheço a 3 meses Nanda.
–– Lucas, eu amo você.
–– Mas você também ama a Claudia. – ele disse.
–– Como amiga. – respondi.
Lucas ficou mudo.–– Eu não quero perder você para minha prima. – choramingou.
Eu dei uma risada baixa.–– Não vai me perder. – disse.
E eu ri muito daquela situação.–– Não é engraçado Nanda, você sabe muito bem que pode acontecer. – disse.
Ficamos conversando por um bom tempo, mas eu estava cansada então fui me deitar.
Claudia estava debaixo das cobertas desde a hora que chegamos.
Rubens e Ana estavam na sala. Ele fazia massagem em seu pé enquanto viam um filme.
Disse-lhes um boa noite e fui me deitar.
Fiquei passando a mão em minha barriga enquanto conversava mentalmente com meu bebe.
Estava contando a ela (ou a ele) sobre minha irmãzinha. Sentia tanto a falta dela. A gente brigava as vezes, mas sempre nos entendíamos.
Eu tinha com quem conversar pelo menos.
Quando ela era viva e Claudia se importava menos consigo mesma era tudo muito mais fácil.
Pode até ser egoísmo meu pensar assim, mas o fato é que agora Claudia nunca tem tempo para conversar comigo.
Pelo menos uma vez por semana, (nas quartas para ser mais exata) ela não queria falar com ninguém. Era o dia de pesagem, todas as quartas de manhã.
Quando ela estava emburrada com alguma coisa, – o que era quase todo santo dia – ela ligava o computador e ficava lá a tarde toda. Só conversava comigo quando era algo de seu interesse.
Sentia falta da minha melhor amiga também. Falta das noites que ficávamos acordadas até tarde falando sobre qualquer coisa e comendo besteiras.
Para falar a verdade, me sentia sozinha. Lucas estava tão longe, só nos falávamos depois que eu chegava do trabalho, isso quando ele não tinha algum campeonato estupido de vídeo game, ou uma partida de futebol.
Eu não gostava de estar ali, aquela não era a minha casa.
Ana e Rubens eram bons para mim, mas eu queria o meu espaço.Na manhã seguinte acordei cedo, por costume mesmo. Deixei um bilhete para Claudia dizendo onde estaria e saí.
Eu precisava de um pouco de ar fresco.
Fazia um bom tempo que eu não ia dar uma volta no Parque do Carmo.
Levei um livro dentro de minha bolsa para ler.
Aquele lugar costumava ficar lotado nos domingos.
Comprei uma pipoca doce e me sentei embaixo de uma arvore.
Mandei algumas SMS para Lucas e fiquei conversando com ele.
Eu estava tranquila. Aquele ambiente me tranquilizava. E tudo o que eu queria naquele momento era paz e sossego.
Não passava das 11 horas quando Claudia me ligou.
Ela queria saber se deveria me esperar para almoçar com eles.
Para falar a verdade eu estava afim de comer muita besteira e nada daquele cardápio da dona Ana.
Não ficamos muito tempo no telefone e aquilo de certa forma me causou um vazio.
Nós sempre ficávamos horas no telefone conversando. Isso quando uma não estava na casa da outra.
E por causa de um maldito beijo, ela tinha se afastado por completo de mim. Eu estava tão sentida que comecei a chorar.
Malditos hormônios!
Levantei da grama e comecei a caminhar. Fui dar uma volta perto do lago
Sentia tanta falta dela. Sentia falta da minha irmã, e até dos meus pais...
Maldito Gustavo!
Com certeza aquele não era um dos meus melhores dias.
Me encostei em uma arvore e fiquei observando o lago.
Um casal passou com um carrinho de bebe ao meu lado.
Minha mão involuntariamente desceu até minha barriga.
–– Meu anjinho. – disse.
Senti alguma coisa se mexer dentro de mim. Alguma coisa chutou minha mão.
Meu corpo foi tomado pelo torpor.
Sentia um misto de felicidade e pavor. Queria gritar e pular e ao mesmo tempo chorar.
Minhas pernas estavam bambas.
Liguei para um taxi e fui para casa, estava extasiada de mais para prestar atenção em qual ponto descer e ir andando o resto do caminho.
Conversei mais um pouco com minha barriga, para saber se ele (ou ela) chutaria de novo.
–– Que carinha é essa – dona Ana perguntou quando abriu o portão para mim.
–– Ele chutou. – foi o que eu consegui dizer.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...