Claudia estava escorada em seu pai no sofá. Eles assistiam alguma coisa na TV.
–– Que carinha de abobada é essa. – Claudia perguntou.
–– Meu bebe chutou. – disse rindo um pouco.
No mesmo instante, Claudia se levantou e veio em minha direção.
–– Posso sentir? Ela perguntou já com as mãos e ouvidos em minha barriga.
–– Ele não vai mexer agora – Rubens riu da agitação de Claudia.
–– Mas eu quero sentir. Vamos amiguinho, acorde. – disse acariciando minha barriga. – Vamos lá, eu sei que você pode me ouvir.
–– Vai perder a melhor parte. – Rubens disse voltando a se concentrar na TV.
Claudia e eu sentamos uma ao lado da outra. Ela ainda estava com a mão em minha barriga.
Dona Ana estava sentada no outro sofá vendo uma revista de tricô.
O único som, além da TV, era de nossas respirações.
O silencio era reconfortante. Era gostoso.
–– Vou voltar para o vôlei.
Aquelas palavras cortaram o ar de uma forma esquisita.
O clima ficou tenso de repente.
–– O que? Perguntei pensando não ter escutado direito.
–– Vou voltar para o vôlei.
–– Não, você não vai. – Dona Ana se intrometeu.
–– Nós já conversamos sobre isso querida. – Rubens abaixou o volume da TV.
–– Não, nós não conversamos sobre isso. Vocês conversaram e decidiram por mim.
–– Claudia, você não vai e ponto final. – Dona Ana usou sua voz autoritária que ela pouco usava. – Já discutimos isso.
Claudia se levantou e começou a gritar no meio da sala.
–– Quem discutiu? Você e o papai? Essa é a vontade de vocês e não a minha.
–– Claudia abaixe esse tom de voz agora mesmo.
–– Minha treinadora disse que se vocês concordarem eu posso voltar. Eu já estou bem...
–– Bem aonde? Agora Dona Ana também estava em pé. – olhe isso. – ela fechou os dedos em volta do pulso de Claudia. – você não ganhou o peso necessário.
–– Isso não tem nada a ver com meu peso mão. – ela puxou o braço. – Eu gosto de vôlei. Vocês não podem tirar isso de mim.
–– Isso tem tudo a ver com seu peso Claudia. Espere até recuperar seu peso e então você pode fazer o que quiser.
–– Eu já estou parada a mais de dois meses.
–– Chega Claudia. Não quero mais ter que falar de novo.
–– Eu odeio você – Claudia gritou.
Eu me levantei para tentar impedir que ela passasse, mas aquela gritaria toda acabou me deixando nervosa.
–– Tudo bem, já chega às duas. – Rubens interveio.
Eu cambaleei para o lado e me apoiei na parede.
Claudia quase me derrubou quando passou por mim.
–– Tudo bem Nanda? Rubens me ajudou a voltar para o sofá.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...