"Algumas escolhas são fáceis, outras não. Espero que o seu pecado possa te libertar". Meu pai costumava me dizer coisas desse tipo quando eu era mais nova. E eu sempre fiquei imaginando que tipo de pecado seria esse que me libertaria, mas nunca entendi.
Depois de um tempo consegui entender que embora sua escolha tenha sido difícil, você pode ter feito a coisa certa, e mesmo sendo uma coisa simples, pode ter feito a maior burrada da sua vida.
Fazendo o certo ou o errado, só você pode se libertar.
Assumir o que fez, perdoar o próximo, perdoar a si mesmo. Minhas escolhas não estavam me levando a lugar algum e eu não estava pronta para me libertar.
Entrei em casa querendo apenas um banho quente. Minha mãe não estava, e provavelmente só chegaria de noite. Preparei alguma coisa rápida para comer antes de ir me lavar.
Não lembrava muita coisa da noite anterior, e não queria lembrar. Não agora pelo menos. Eu só queria descansar a mente.
Depois de ter comido e ter tomado o banho, deitei na minha cama e acabei pegando no sono.
Acordei sobressaltada quando ouvi o barulho da porta. Era minha mãe chegando do trabalho.
Tinha acabado de acordar de algo que eu não sabia se tinha sido só um sonho ruim ou algo que tinha acontecido na noite anterior. Era algo com Claudia me dizendo que não deixaria o meu bebe tomar seu lugar, me pedindo para escolher entre ela e alguém que ainda nem havia nascido. E quando escolhi meu filho, Claudia surtou e veio para cima de mim com uma faca.
Respirei fundo e tentei afastar aquilo da minha cabeça. Claudia nunca faria isso comigo.
Fui até a sala onde minha mãe estava tirando o tênis.
–- Oi mãe.
–- Oi Nanda. - disse. - Eu vou tomar um banho, você me ajuda com o jantar depois? Perguntou.
Fiz que sim e esperei no sofá até que ela estivesse no banho para lavar a louça que estava na pia.
Embora tivesse passado a maior parte do dia deitada, eu estava cansada. Minha barriga estava ficando enorme.
Fechei os olhos por um instante enquanto a agua escorria.
Respirei fundo mais uma vez e busquei em minha mente tudo o que realmente tinha acontecido na noite passada.
Conseguia me lembrar claramente de Claudia na cama usando o note enquanto eu comia os biscoitos. Mas depois disso não podia dizer se era real ou não.
Algo praticamente gritou dentro de mim. Foi mais como um instinto protetor. Eu precisava me afastar um pouco. Me afastar de todos pelo bem do meu bebe. Pelo menos por enquanto.
Só de pensar em me afastar de Claudia, meu peito já ficava apertado.
Suspirei e enxaguei os últimos pratos.
Quando minha mãe entrou na cozinha eu já havia começado a fazer a comida. O arroz já estava no fogo e eu estava lavando o alface.
–- Como foi a noite na casa de Claudia?
–- Normal . - Dei de ombros.
–- Você quer ir descansar Nanda? Eu termino aqui. - Ela colocou a mão em meus ombros.
Eu assenti.
Meus pés estavam me matando.
Peguei meu Celular para ligar para Lucas. Eu ainda não tinha falado com ele. Chamou até cair na caixa de mensagens . Liguei mais algumas vezes e então desisti.
Me deitei no sofá da sala, liguei a TV e fiquei zapeando os canais procurando algo interessante. Mas nada me chamou a atenção.
Me juntei a minha mãe quando a comida ficou pronta. Nós comemos em silêncio.
Quando fui me deitar percebi que Claudia não havia me ligado uma só vez nem mandado mensagem. Suspirei. Era melhor eu dormir. Teria que acordar cedo na manha seguinte.
Eram quase 3 da manha quando eu acordei com uma cólica intensa. Nunca havia tido cólica tão forte antes.
Me sentei com um pouco de dificuldade e passei a mão entre as pernas.
Gritei por minha mãe quando vi que tinha sangue nos meus dedos.
Estava tão desesperada que não conseguia parar de chorar.
Minha mãe ligou para a ambulância enquanto me ajudava a ir para a sala.
–- Filha se acalma - ela dizia para mim enquanto eu repetia que não queria perder meu bebe.
Só parei com a histeria toda quando ela me deu um tapa no rosto.
Quando a ambulância chegou os paramédicos me fizeram um milhão de perguntas, do tipo, com quantas semanas eu estava, se eu havia tido relações, se estava com dor.
Chegando no hospital o médico que me atendeu fez as mesmas perguntas e depois de alguns exames ele disse que eu tive "princípio de aborto" e que teria que ficar em observação até o dia seguinte para ter certeza de que havia segurado.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...