O resto da noite não foi tão turbulenta como pensei que seria. Meu pai dormiu na sala, no sofá. Minha mãe colocou o lençol e a coberta para ele se ajeitar e foi se deitar mais cedo. Não tinha muito o que ficar conversando.
Quando fui me deitar fiz questão de trancar a porta com a chave. Não queria ter surpresa nenhuma durante a noite.
Acordei bem cedo na manha seguinte e terminei de arrumar minha mochila para ir para a casa de Claudia. Infelizmente, meu pai já estava acordado também.
–– Você já vai sair? Perguntou.
Dei de ombros.
–– Não quer comer alguma coisa antes?
Não respondi.
Vesti a blusa e coloquei a mochila nas costas. Sai para o frio da rua e em poucos minutos já estava congelando.
Estava cedo de mais para ir direto a casa de Claudia. Mas estava frio de mais para eu ficar na rua.
Liguei para Claudia.
–– Espero que alguém tenha morrido pra você ter me ligado essa hora num sábado. – resmungou do outro lado da linha.
–– Eu vou morrer de frio se você não me receber na sua casa. – disse.
–– Por que? Onde você está?
–– Estou pegando um ônibus, vai me receber agora ou não?
–– Claro que vou.
–– Bom mesmo, a gente ainda precisa conversar sobre o beijo que você me deu naquele carro.
–– Ai, esquece aquilo, não quero falar sobre isso Nanda.
–– Tudo bem, quando eu chegar ai a gente conversa.
Subi no ônibus e desliguei o celular.
Estava cansada e com um pouco de sono ainda. Coloquei os fones para ouvir musica até chegar na casa de Dona Ana.
Era 7 da manha quando toquei a campainha.
Claudia saiu vestindo um moletom cinza enorme, com o cabelo todo despenteado.
–– Estou com vontade de te matar. Pra que me tirar da cama essa hora? Disse quando entrei.
–– Desculpa, mas não podia mais ficar em casa.
–– Por que? Brigou com a sua mãe? Ela se jogou no sofá e se enfiou em baixo da coberta.
–– Não. – eu me sentei no canto do sofá, e ela colocou os pés no meu colo. – Meu pai resolveu voltar.
–– Mentira! - disse dando um sobressalto no lugar em que estava.
–– Bem que eu gostaria que fosse.
Nós ficamos em silencio por uns minutos.
–– Seus pais estão dormindo? Perguntei.
–– Minha mãe sim, meu pai já foi trabalhar. – ela suspirou. – ele tem saído cada vez mais cedo de casa. Sinto a falta dele sabia? Falta de me sentar e assistir alguma coisa ao seu lado no almoço. Eu sinto falta dele aqui dentro de casa. Já não vejo meu pai aqui. Ele chega, toma um banho, come e vai pro quarto dele.
–– Você sabe o motivo. – disse.
Ela suspirou.
–– Queria que tudo fosse diferente.
Ela ficou em silencio por um bom tempo. Tempo suficiente para pegar no sono.
Dona Ana acordou alguns minutos mais tarde, quando eu estava vendo o jornal.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
SaggisticaA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...