Acordei quando Claudia se levantou, mas estava tão cansada que voltei a dormir rapidamente. E quando acordei novamente Claudia estava terminando de se trocar. Ela estava andando de um lado para o outro, pegando uma coisa aqui e ali e jogando dentro da mochila.
–– Vai para a escola? Perguntei esfregando os olhos.
Ela fez que sim e começou a jogar as roupas sujas em cima da cama.
–– Você viu o meu diário? Perguntou depois de um minuto.
–– Não. – menti imediatamente me lembrando do diário dentro de minha gaveta.
–– Não é possível. Tenho certeza que deixei aqui. – ela começou a procurar no meio dos cadernos na escrivaninha.
–– Quer ajuda? Perguntei me sentindo culpada por estar mentindo.
–– Não, obrigada. Eu já estou atrasada. – disse por fim e então ela veio até mim e beijou o topo de minha cabeça. – Eu não vou voltar para a casa tão cedo. Vou para a casa de uma amiga fazer trabalho.
Ergui uma sobrancelha.
Desde quando ela fazia trabalhos escolares? Ainda mais na casa de alguém?
–– Minha mãe sabe. – disse já na porta. E então parou e encarou o chão por um segundo. – eu te amo Nanda. Senti sua falta.
Me sentei, mas antes que pudesse responder ela saiu do quarto.
–– Eu também te amo. – disse para o nada.
Fiquei ali sentada na cama até sentir meu bebe chutando. Passei a mão na barriga e me levantei para escovar o dente e trocar de roupa.
O bebe estava agitado hoje, não parava de chutar.
–– O que foi meu amor? Perguntei conversando com minha barriga. – Você está inquieto hoje hein?
Peguei o diário de dentro da minha gaveta e coloquei em cima da cômoda. Parei um segundo tentando não me sentir tão culpada por ler o diário da minha melhor amiga.
Roí as unhas enquanto lutava moralmente tentando decidir que fazer. Sabia que Claudia ficaria furiosa comigo, mas aquilo estava me corroendo. Ter o diário dela em minhas mãos e não ler me deixaria frustrada mais tarde.
Peguei o diário e levei para a cozinha comigo enquanto tomava o meu café.
Era mais ou menos umas 8 da manha. Eu estava encarando o nada, buscando uma boa justificativa para o que ia fazer quando meu celular começou a tocar.
Eu não reconheci o numero.
–– Alô?
–– Oi filha. – disse meu pai do outro lado da linha.
–– O que você quer? Perguntei fechando a cara.
–– Queria me redimir com você Nanda. Eu sei que fui um péssimo pai e um marido pior ainda. Sei que não foi justo o que fiz para você quando a Sarah morreu.
Eu fiquei em silencio enquanto ele fazia seu pedido de desculpas prolongado.
–– Gostaria de me desculpar com você, e te mostrar que mudei. Mas não quero fazer isso apenas pelo telefone. Quero fazer isso pessoalmente filha. Você não gostaria de sair comigo para conversar? Podemos ir tomar um sorvete, ou comer um lanche. Por favor, só me de essa chance.
Eu respirei fundo e dei ouvidos há aquela vozinha dentro da minha cabeça.
–– Tudo bem. – disse por fim.
Ouvi um suspiro de alivio do outro lado da linha.
–– Daqui 30 minutos estou passando ai para te pegar. – ele fez uma pausa. – Te amo filha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...