Capítulo 39 - Claudia.

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Essa era a segunda vez que eu entrava em uma ambulância com Nanda, e essa era a segunda vez que por minha causa, ela estava indo para o hospital em pouco mais de um mês.

Se alguma coisa acontecesse ao bebe, ela nunca me perdoaria.

Se alguma coisa acontecesse ao bebe eu nunca me perdoaria.

Não pude encara-la quando ela me chamou pelo nome, simplesmente não conseguia olhar para ela e ver todo aquele sangue sem sentir uma culpa esmagadora sobre os ombros.

Me sentia pequena e insignificante naquele momento, como quando ela comeu os biscoitos com maconha. Não podia fazer nada para reverter o efeito da droga, muito menos para parar o sangramento. Não conseguia ficar tranquila mesmo sabendo que os paramédicos estavam ali para fazer o que estivesse ao seu alcance.

Liguei para minha mãe quando demos entrada no hospital. Só fui lembrar disso quando estava sozinha e a moça da recepção estava me pedindo para assinar uns papeis.

Eu não queria assinar nada, queria entrar na sala com a Nanda para ter certeza de que ela ficaria bem. Tinha escutado alguém dizer em algum momento que talvez ela precisasse de transfusão, e isso me deixou tão apavorada que não consegui parar de chorar, nem mesmo quando meus pais chegaram.

–– Mamãe. – eu a abracei sem conseguir me conter.

Não costumava chama-la assim, soava infantil de mais, mas sempre que ficava nervosa isso acontecia.

–– Claudia fica calma. – meu pai disse. – O que aconteceu?

Eu me afastei depois de um minuto e encarei meus pais. Enxuguei os olhos parando de chorar.

–– Vocês sabiam que ela não podia passar por nenhum tipo de situação estressante e concordaram em conversar com ela sobre me internar?

Eu afastei as mãos de meu pai.

–– Mãe você é mulher, já ficou gravida, sabe que isso não é bom para o bebe...

–– Olha aqui mocinha, você não vai jogar a culpa disso em cima da gente também. – meu pai apontou o dedo para mim. – Se alguém tem culpa aqui é você. Ela não teria nos procurado se você não estivesse doente, se não estivesse mentindo mais uma vez.

Aquilo me atingiu como um soco no estomago.

"Culpa sua, culpa sua, culpa sua!"

Sacodi a cabeça tentando expulsar esse pensamento. Sem sucesso, afinal ele tinha razão. A culpa era minha. Eu tinha feito Nanda se preocupar de mais, eu tinha feito meus pais brigarem de mais, eu tinha causado o afastamento dos dois. Eu era a culpada por estar desfazendo aquela família.

Mordi o lábio inferior tentando não chorar de novo.

–– Me desculpa. – disse – Sinto muito por tudo isso, sinto muito por ter transformado a vida de vocês nessa bagunça. Sinto muito por estarmos aqui hoje – eu encarei o chão enquanto falava. Não podia olha-lo nos olhos. – Sinto muito se eu acabei com a nossa família, se te fiz odiar ficar em casa com a gente. - eu me virei para minha mãe. – Me desculpa ter tirado a pessoa que você mais amava, desculpa ter te afastado do seu companheiro, do seu marido. - engoli o nó em minha garganta junto com a vontade de cair de joelhos e chorar até não sobrar mais nada. - Desculpa não ser a filha que vocês esperavam que eu fosse, não ser a garota normal que todo mundo espera que eu seja. Eu não sou isso que sou porque quero. Eu apenas sou. Então me desculpe se esse meu jeito de ser não é o que você esperava ter em uma filha quando decidiu ter uma. Me desculpe...

–– Para com isso filha, você não é o problema. – meu pai me virou de frente para ele e me apertou em um abraço sufocante. – Eu não odeio ficar com vocês. Eu amo vocês duas – ele abraçou minha mãe também. – Eu só não sabia como lidar com tudo isso, não é fácil para eu entender todas aquelas coisas que li no seu diário. Não é fácil para mim como pai ver sua filha se destruindo sem poder fazer nada.

Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}Onde histórias criam vida. Descubra agora