Day eight

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- Você está distante. - Louis sussurrou em meu peito enquanto estávamos deitados no pequeno e desconfortável sofá da casa do menino.

- Muitos pensamentos.

Suspirei e fitei o teto para não precisar olhar em seus olhos azuis. Eu havia percebido que se continuasse com essa tortura de tê-lo, no final não iria deixá-lo ir. E eu tinha que deixar.

Ele iria para "um lugar melhor" pelas minha próprias mãos.

- Posso saber do que? - Tirei meus olhos do teto e olhei para os seus, havia um tom de tristeza e preocupação neles, sua testa estava franzida. Apesar de sua voz demonstrar muita força, eu via sua fraqueza.

E agora eu estava vendo minha própria fraqueza. Eu estava de joelhos por um menino que conheci à apenas oito dias. Quem devia estar nessa situação era ele.

- Eu só queria poder mudar algumas coisas.

- Mesmo não podendo mudar seu passado, você pode fazer um futuro diferente, Harry. - Sua voz saiu fraquinha e manhosa, puxei seu corpo ainda mais perto.

A televisão estava ligada e apenas sons eram ouvidos, a única coisa que me chamava a atenção era seus olhos e seus lábios. Eu queria tê-lo.

- Eu sei que você sofreu, eu também passei por isso. Mas nós não podemos mudar o que já foi feito, só podemos tentar de todas as formas fazer com que isso não afete nosso futuro.

- Já afetou. - Sussurrei baixinho e ele puxou seu corpo um pouco para cima, colocando seu rosto entre meus cachos e soltando um suspiro ali.

Senti meu corpo inteiro arrepiar-se, da ponta de minha primeira unha até o último fio de meus cabelos cacheados.

- Então continue mudando. - Sua voz era uma suave melodia em meu ouvido, sua respiração calma batendo em meu meu pescoço, seus dedos em meus cachos.

- É difícil.

- Eu posso te ajudar.

Senti meus olhos marejados, era a primeira vez que alguém dizia isso para mim. Ninguém, jamais, havia sequer tentado me ajudar. Todos desprezam aquele menino que usava coroa de flores e cantarolava baixinho musicas inexistentes.

- Você está chorando? - Neguei com a cabeça.

- Nunca me ajudaram.

Seus delicados dedinhos foram para minhas bochechas e ele passou a fazer carinhos ali, passeando-os por toda a extensão de meu rosto.

Eu sorri e seu dedo afundou-se na minha covinha direita, ele também sorria, um belo e grande sorriso.

Talvez o seu sorriso poderia me salvar.

Virei meu corpo, ficando de frente para o pequeno menino. Sua cabeça agora estava apoiada em meu braço esticado, enquanto o livre fazia carinhos em sua cintura.

Puxei seu corpo para frente, com toda a calma e cuidado do mundo, como se ele fosse quebrar a qualquer instante.

Suas duas mãos foram para minha nuca e ali ele começou a fazer carícias, enrolando meus cachos em seus dedos e sorrindo quando ficavam presos.

Nossos rostos estavam colados, partilhávamos a mesma respiração, eu podia ver suas ruguinhas de perto. Eu podia apreciar todos os mínimos detalhes de seu rosto.

Ele fechou seus olhos e continuou com a carícia ali, puxando com cuidado cada um de meus fios de cabelo. A cada toque seu meu corpo reagia de uma forma diferente.

Uma coisa era certa, o frio na barriga que eu estava sentindo nunca havia acontecido. Em hipótese nenhuma.

Respirei fundo e aos poucos a carícia em meus cabelos foi cessando, a respiração de Louis se tornou fraca e calma. Dei um beijo em sua testa e vi um pequeno sorriso aparecer em seus lábios.

- Eu vou te ajudar. - Sua voz manhosa soou e ele pegou em um sono calmo.

-x-

Louis ainda dormia em meus braços enquanto eu estava tomado por meus pensamentos. Seu cheiro invadia minhas narinas a cada vez que eu inspirava o ar. Um cheiro deliciosamente bom.

A confusão de minha cabeça não me deixava ter paz, não me deixava dormir. Então eu apenas o olhava, brincava com seus cabelos, ouvia seus resmungos.

Um pedaço de mim sabia que eu não poderia deixar esse menino ir, Louis era diferente de qualquer outra pessoa no mundo. Ele tinha seu jeito mandão e bravo mesmo com seu pequeno tamanho, tinha seu jeito manhoso e um abraço tão gostoso que eu realmente poderia morar ali dentro.

Mas havia meu outro lado. Em toda pessoa há um lado ruim, em toda pessoa há aquele lado que já se magoou, já se machucou e por isso existe o medo. Junto com o medo eu tenho a raiva, o que ainda deixa as coisas mais complicadas.

No primeiro dia, tudo o que passava pela minha cabeça era uma forma de matar o pequeno menino que agora dorme em meus braços. Naquele primeiro momento eu só queria minha vingança e tudo estaria completo.

Mas a vida pregou-me uma peça que eu jamais esperaria. Nunca pensei que poderia nutrir sentimentos por alguém.

Dizem que a base de toda nossa vida vem da família, que a base de nossos sentimentos está ali. Eu não fui amado por minha família, eu fui esquecido e trocado. Trocado por drogas, jogos e prostituição.

Quando fui para um lugar onde esperava ser melhor, minhas ultimas esperanças foram arrancadas de mim assim como meu coração. Eu preferia ter ficado na rua, o orfanato foi só mais um problema em minha vida para levar essa raiva e esse medo tão acima.

Essa confusão não era normal. Meus pensamentos de matá-lo ainda estavam fortes em minha cabeça.

Eu ainda queria sentir seu sangue em minhas mãos, ainda queria ouvir seus gemidos dolorosos e sentir sua respiração parando, sentir sua pulsação cessando.

Mas agora havia uma brecha, havia uma parte de mim que o achava adorável, uma parte de mim que queria ter o pequeno menino em meus braços.

Não havia uma opção boa, não havia fuga e meu único refúgio estava em sua morte. Eu não poderia ir embora pois pararia o processo.

O pensamento de ver seu coração quebrado doía em meu peito. Por um momento, o pensamento de o matar doeu em mim.

Eu precisava o afastar, era necessário. Eu voltaria a fingir e tudo isso daria certo.

Mas havia uma pergunta que não saía de minha cabeça.

Como fingir algo que é real?

N/A: desculpem os erros.

circus » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora