Capítulo Único

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Please don't let them look trough the curtains.

Aquela casa era o bem mais precioso de Alex.

Suas mãos tremiam ao tocar a maçaneta da entrada, seu corpo relutava em adentrá-la. Mas por qual motivo?

Não havia nada a temer.

As pessoas não devem temer o próprio lar.

Não devem temer aquilo da qual pertencem.

Certo?

Certo. A porta se abriu, rangendo. A nostalgia o invadiu quando olhou ao redor, os olhos passeando calmamente pelo primeiro cômodo: uma espaçosa sala-de-estar. Enquanto sua mente clamava por socorro, seu coração parecia se acalmar com tal visão. Podia ver ele e sua irmãzinha correndo ali, enquanto uma mulher doce os encarava em desaprovação, entretanto, com um largo sorriso em seu rosto.

Logo chegara seu marido, também com um largo sorriso em seu rosto, abraçando a mulher por trás, os dois observando juntos a família perfeita que criaram naquela casa perfeita, com as pessoas perfeitas.

Alex piscou, e as imagens sumiram, restando apenas o cômodo vazio.

Receoso, seguiu em frente. Após a sala-de-estar, havia a cozinha. Sua mente berrava em desespero, e seu coração parecia apenas se acalmar mais, quase o tranquilizando dos alertas contraditórios que ouvia de si mesmo.

A mesa estava pronta, e o homem colocava as cerâmicas cheias de comida recém-feita. A mulher chamava as crianças na porta do cômodo, das quais vieram saltitando até a mesa.

Quando todos se sentaram e começaram a refeição, o garoto piscou novamente, e tudo se esvaiu.

O próximo cômodo era o quarto de sua irmã, Lia. Tudo o que via naquele mar de azul era ele e a garotinha conversando e rindo. Começaram uma contagem regressiva, e ambos saíram correndo para fora do quarto, apostando corrida até o jardim.

Piscou, e tais memórias pareceram escorregar de suas mãos. Não tentou agarrá-las, apenas continuou caminhando.

Seguiu os passos daquelas crianças, indo até o jardim. A grama verde antes brilhava em felicidade, representando-as, representando a vida que jazia, representando as almas brancas e puras que jaziam naquelas pessoas.

Olhou para baixo, para a escuridão que jazia em seu peito, no lugar da pureza.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha, ardendo como se fosse lava.

Quando caiu na grama, esta escureceu junto e não demorou a morrer.

Piscou.

Continuava morta.

Decidiu então voltar para dentro da casa. Faltavam apenas dois cômodos além dos banheiros.

Sua mente quase perdera a voz com os berros quando Alex abriu a porta verde. Encarou seu próprio quarto, pôde se ver deitado na cama espaçosa.

Alguém batia na porta, e sua mãe adentrara o local com um prato cheio de remédios. Seu sorriso era tão doce...

Virou para trás, correndo até ela, abraçando o vazio.

Chorando, chutou a parede, a raiva e a frustração o corroendo.

Deixou o cômodo, perturbado.

E finalmente chegara onde mais temia.

A porta de mármore, cuidadosamente detalhada com tinta branca.

Seus olhos reprovavam a ação com lágrimas, sua mente com berros, seu corpo com uma tremedeira.

Mas seu coração o dizia para seguir em frente.

"Places, places, get in your places

Throw on your clothes, and put on your doll faces"

E assim ele o fez.

A porta se abriu lentamente.

A cama enorme estava arrumada, com seus lençóis e cobertores brancos em cima.

Caminhou lentamente até a grande cortina que cobria a janela.

"Everyone thinks that we're perfect

Please don't let them look through the curtains"

Sua mente chorava, já sem voz para berrar.

Seu coração apenas se aconchegava mais àquela situação.

Ainda tremendo, porém sorrindo, abriu a cortina.

A garotinha, o homem e a mulher estavam juntos, sorrindo.

Os olhos vidrados e revirados de alegria.

Alex os abraçou, feliz.

Pegou o suporte e o colocou em frente à cama, e em seguida apoiou a pesada câmera fotográfica.

Juntou-se à sua família perfeita, colocando os braços em volta dos ombros da irmã e sorriu como eles.

"Picture, picture, smile for the picture

Pose with your brother, won't you be a good sister?"

O flash indicou que a foto havia sido tirada.

Nunca pensou que adentrar aquela cortina fosse ser sua perdição, de início. Ele vira o que não deveria ser visto.

Aquilo quebrara a perfeição que ele sempre teve, então algo devia ser feito, certo?

Ele apenas a reconstruiu.

Quando a cortina fora aberta, aqueles sorrisos, aqueles olhos cheios de felicidade deixaram de ser vistos por Alex.

Não, aquilo não podia acontecer.

Então ele os colocou de volta.

Não era brilhante?

Levantou-se, feliz, para ver a foto.

Os sorrisos de todos estavam perfeitos. Os olhos também.

Exceto os dele próprio.

Não esbanjavam felicidade como deveriam. Estragava a sincronia da foto, estragava a perfeição de sua preciosa família, coisa que ele não podia permitir.

Foi até o banheiro, e pegou o necessário. Depois fez o mesmo na cozinha, e voltou para o quarto dos pais.

Programou a câmera para que a fotografia fosse tirada em um minuto. Sim, aquilo deveria ser o suficiente.

Sentou-se entre a irmã e a mãe, e inundou seus olhos de felicidade com os remédios.

Logo depois do flash, a foto aparecera na tela da câmera.

Todos os sorrisos estavam perfeitos, todos os olhos estavam cheios de felicidade.

Assim todos continuariam vendo a perfeição...

...como deveria ser.

"Mas nada daquilo teria acontecido se Alex não tivesse aberto as cortinas.

Quando elas aparecerem, deixe-as.

Os humanos precisam de suas ilusões para continuar com suas vidas medíocres.

Não pense que você é uma exceção...

...pois ninguém é."

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⏰ Última atualização: Aug 01, 2015 ⏰

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