Os quatro cantos da casa

Acabou

E fim de tarde. La fora é fora é frio. E eu aqui sentado em frente a lareira aquecendo o que restou de mim. Quando você por aquela porta passou, tudo veio átona. As coisas ficam mais nítidas aos olhos de um sofredor. O castelo de areia desmoronou. Tudo veio por água abaixo... nossa relação já não tinha paredes solidas, nada mais era concreto.

E se alguém perguntar “por que acabou?” Não saberei o que dizer. Pois não existe evidencias que nos levasse a crer que o melhor seria acabar, apesar de tudo, a gente se dava tão bem.

Talvez brigar constantemente não seria o certo. Mas o que é certo em uma relação? Somos seres complexos de falhas, de carências... erros são inevitavelmente consequências. Consequência de rotinas desgastantes, de frases repetidas, de ciúmes desnecessários. Erramos, porque em nenhum momento deixemos de ser nós mesmos. Em nenhum momento fomos covardes ao ponto de tentar ser o que o outro queria. Éramos o que éramos.

Mas sermos o que somos significa sermos errados?

Atrasos, falta de compromissos, datas esquecidas, brigas sem motivos, silêncios, desculpas esfarrapadas... Tudo isso acumulou-se. A conta estava só aumentando... chegaria a hora em que tudo aquilo seria cobrado, e chegou.

Da mesma forma que começou, acabou. De repente estávamos no meio de uma discussão que resultaria em atitudes nunca esperadas até então. O adeus saído de bocas que por ventura, minutos atrás se faziam únicas. Veio repleto de desabafos, de iras. Fomos nós mesmos até na hora da despedida, não poupamos palavras. E por isso acabamos ferindo o que já estava ferido, o nosso coração.

Mas não se engane ao pensar que me apaixonei por outro sorriso. Não. O seu continua sendo é o meu favorito. E com certeza você não encontrou outra voz tão grave quanto a minha. Não. A minha continua sendo a única que te leva a loucura. Mas tudo isso não passa de detalhes. E a vida não é feita de detalhes. A vida é feita de realidades.