Capítulo 1

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Hoje faz exatamente um ano e meio, ou seja, quinhentos e quarenta e sete dias que trabalho no escritório central da "Closed Caption", uma pequena joalheria que em vinte anos tornou-se uma das maiores redes de comercialização de joias dos Estados Unidos. Fabricamos peças exclusivas para consumidores exigentes e nossa linha de varejo, ou nossas coleções semestrais, são escolhidas a dedo pelos proprietários. Eles são a última palavra.

Meu cargo? Assistente da assistente da secretária do Sr. Collins. O homem mais sexy, charmoso e bonito que já vi diante dos meus olhos e o mais gélido e insensível, também... E estou atrasada e tem uma reunião importante daqui a quinze minutos onde devo estar presente.

Merda!

Como posso explicar que a noite anterior foi uma das piores da minha vida? Ninguém vai querer ouvir. Tenho vinte e seis anos, estou no último ano da faculdade de Design de Modas, com especialização em joias – atrasada nos estudos, eu sei - e simplesmente me comunicaram que perdi a bolsa de Estudos por causa de insubordinação e uma... uma única nota baixa na matéria do abominável Professor Edgard Lenght.

Porra!

Eu deveria ter dado queixa sobre o assédio sexual. Eu deveria ter dito a Reitoria que ele me cercava em todos os lugares que podia com olhares, frases e gestos obscenos, porém como nada de mais grave aconteceu, ignorei. Ignorando eu me considerava uma mulher superior e inteligente.

Péssima escolha! Como sempre, escolhi me fantasiar de avestruz, que esconde a cabeça no chão quando tudo fica negro, do que encarar o problema e resolvê-lo de uma vez por todas. Sou uma perfeita idiota e agora tenho que pagar o aluguel integral da quitinete que moro. Como posso fazer isso, se meu salário só cobrirá a mensalidade da faculdade?

Passo meu crachá identificatório por uma das catracas da recepção do prédio em que trabalho, que por sinal, é o mais significativo e o que melhor expressa a alma da cidade de Nova York, no meu ponto de vista, o Empire State. Vou confessar um segredo: eu me sinto menos invisível e derrotada trabalhando aqui, em um de seus 102 andares. Ele é imponente, impressionante, carismático. Parece possuir um magnetismo, o poder de ordenar que as pessoas venham até ele.

Acho que me identifico com sua história, com o fato dele ter sido, por vários anos, um arranha-céu oco e vazio, quase abandonado. Ninguém queria nada com ele quando sua construção foi terminada, até que finalmente as pessoas certas o descobriram. É... ele foi descoberto.

Alô? Será possível voltar para a realidade? Você está atrasada! Grita minha consciência.

Saio em disparada rumo aos elevadores, se eu perder esse emprego, aí sim, tudo ficará pior. Dentro do meu terninho de saia preto, expresso um ar compenetrado, se não fosse pelos tênis que ainda estou calçando e que agora só poderei trocar dentro da maldita caixa de metal. Ainda bem que não há pessoas esperando pelos elevadores.

Então, essa é a vantagem de chegar atrasada? Um elevador só para mim? Sorrio internamente com esse pensamento me sentindo uma pateta. Sério? Meu mundo desmoronando e eu ainda preocupada que alguém assista eu trocar os sapatos? Isso é incrível, quase inacreditável. Sem conseguir conter eu esboço um grande sorriso.

As portas se abrem, corro para dentro. Solto minha bolsa e minha maleta no chão, de qualquer jeito, e abro-a rapidamente arrancando os incríveis "scarpins" vermelhos... Eles eram os mais fáceis de achar no meio da bagunça que se encontra meu apartamento. Eu preciso fazer uma faxina urgente.

Não é verdade. Nada nessa afirmação é verdade. Isso é uma grande mentira!

A verdade é que estou tão sem dinheiro que não mandei consertar o salto quebrado do outro par de sapatos preto e formal que uso para trabalhar todos os dias e olha que eu nem imaginava que estava prestes a perder minha Bolsa de Estudos.

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