"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar que há fadas escondidas nele?"
Eu li essa frase na lousa da sala de ciências. Sempre havia acreditado que não, não era o bastante. Agora, sei que é, pois encontrei um outro lugar para achar fadas...
Mas elas vão ter que esperar.
Era segunda feira, dia vinte e quatro de janeiro. Primeiro dia de aula. Mas eu não esperava outra coisa. Minhas três melhores amigas, Eleonor, Annie e Anabella, estavam do lado direito da sala do ponto de vista do professor. Eu me sentei com elas, e fiquei olhando as outras pessoas chegarem. Quase que instantaneamente, me levantei de novo para cumprimentar a todos.
-Kaly! Senti sua falta nas férias!- era o que a maioria dizia. Fui paciente e sustentei meu sorriso radiante até que todos estivessem sentados.
Depois, o professor chegou e deu início à aula. As vezes, eu achava engraçado o comportamento dos meus colegas. Todos se sentavam igual a mim, sustentavam o queixo com a mão assim como eu e sorriam quando eu o fazia. Mas eu estava acostumada.
Meu nome é Kalypso Rainner, dezesseis anos. Eu era a soberana da escola. Todos gostavam de mim. Até as pessoas menos prováveis. Todos me cumprimentavam no corredor, pediam ajuda para mim, desabafavam comigo... e eu admito que gostava. Gostava de sentir que todos confiavam em mim.
Bem, quase todos.
No recreio, eu sai da sala e caminhei tranquilamente até o meu armário. Sempre sorrindo. Quando cheguei ao meu destino, encontrei as pessoas que menos queria ver.
-Como foram as férias, Kalypso?- Jason Miles, um garoto alto com cabelo loiro estilo militar e olhos azuis, falou, como se meu nome fosse um apelido de mau gosto. Sua trupe de circo riu da fala de seu líder.
-Ótimas. Afinal, não tive que olhar para essa sua cara feia.
Jason me olhou de cima para baixo, e me arrependi de ter escolhido um shorts tão curto e apertado. Mas me mantive firme e confiante sobre meus sneakers. Não podia deixar que ninguém me visse insegura.
Ele chegou seus lábios perto da minha orelha e sussurou:
-Quero estar presente quando você perder o controle e tirar esse sorriso falso do rosto.
Ele, então, chamou os amigos e saiu andando.
Jason e eu já fomos amigos quando bem pequenos. Quinto ano, talvez. Mas, depois, ele se tornou um rebelde, perseguido pelos professores e odiado pelos meus amigos. Mas parece que suas calças largas e jeito despojado atraíram amigos, também.
Fiquei conversando com a minha galera até o sinal tocar. Então, encontramos nossa diretora nos esperando na classe.
-Tenho uma notícia para vocês. Por culpa de senhor Miles, haverá mapa de classe em sua sala.
Todos olhamos para Jason, em busca de pistas sobre o que tinha acontecido daquela vez. A resposta veio quando vimos seu braço com um hematoma roxo. Briga. Mais uma vez.
Seus amigos o ajudaram com seu material, apesar dos protestos do garoto, e um deles colocou a mochila nas próprias costas. A diretora passou os lugares, e nós nos movemos pacientemente. E olhando raivosamente em direção ao garoto loiro. Quando terminamos, percebi que tinha ficado na cadeira à frente da de Jason.
-Vou ter cabelo moreno nas minhas fichas- ele murmurou, irritado.
-A culpa não é minha- respondi, irônica.
A aula finalmente tinha acabado. Os amigos de Jason esperavam-o do lado de fora da classe. Sabiam que, se o ajudassem mais uma vez, iriam ser mortos. Deuses, Jason era teimoso! Ele soltava grunhidos de vez em quando, e eu não gostava de ve-lo assim.
-Apenas se afaste- instruí, empurrando- o levemente de volta para a cadeira.
Jason me olhou pasmo enquanto eu colocava seus livros em sua mala. Meus amigos sorriram para mim, aprovando a ação. Depois, eu o ajudei a se levantar, e coloquei a mochila cuidadosamente em suas costas.
-O-obrigado...Kalypso- ele murmurou, contra sua vontade.
Sorri para ele, peguei minhas coisas e caminhei para casa. Quando cheguei, cumprimentei meus pais calorosamente, e subi as escadas. Então, me deitei em minha cama.
Eu tinha acabado de ser legal com Jason Miles. Massageei minhas têmporas, imaginando se havia ficado louca. Bem provável. Por aquilo e porque...
-Você é um duende.