Jamie
Estou sentado no chão do meu quarto , concentrado em um simples feitiço de levitação com as minhas pedras, quando eu escuto vozes vindo da sala.
Levantei, coloquei as minhas pantufas de pés de dragão e fui para o corredor.
Minhas pantufas faziam barulho demais, fiquei com medo do meu pai me pegar espionando, então sussurrei um pequeno feitiço que eu uso diariamente.
O feitiço era normal para mim, mas muitos não sabiam que ele existia. Era de um dos livros da estante proibida do meu pai, onde eu nunca deveria ir, mas ficar anos em casa sem fazer nada leva você a ter a necessidade de explorar cômodos da casa proibidos.
Fui para a sala e observei minha irmã e o meu pai discutindo.
- Você não pode fazer isso. - disse a Lucy.
- Eu sou o pai! Posso fazer o que eu quiser. - disse o Henry.
- Eu sei, mas ele precisa viver... - disse ela.
- Chega! Não quero ouvir mais nada sobre esse assunto. - disse ele virando o rosto e olhando pela a janela.
Lucy ficou vermelha de raiva e saiu batendo os pés da sala.
Fui correndo atrás dela sem hesitar.
Ela pegou o telefone e sussurrou.
- Atende, Matt! Atende. Droga!
Lucy jogou o celular na parede.
- Eu preciso ir até lá.
Ela pegou o casaco e saiu correndo, pulando a janela do seu quarto.
O feitiço deixa eu me teletransportar para onde eu quiser, mas não por muito tempo.
Imaginei onde ela estava indo e pronto, apareci lá.
Era a escola do Matt.
Ela estava olhando para o carro dele estacionando. Saiu um casal, uma menina de vestido branco e um menino de terno.
Lucy esperou mais um pouco.
Logo em seguida o Matt saiu do carro, abrindo a porta para uma menina. Eles se abraçaram e se beijaram - até hoje não entendo porque as pessoas fazem isso, é tão nojento!
Lucy tentou ligar para ele novamente. Ele hesitou, mas atendeu o telefone.
- Alô? - disse ele.
- Matt! - ela não sabia o que falar.
- Lucy? - pergunta ele confuso.
- Sim. É... Você está bem?
- Sim e você?
- Estou bem..
Lucy viu que ele estava feliz, não podia tirar isso dele.
Coloquei a mão em seu ombro, mas ela não sentiu. Eu sabia pelo o que ela estava passando, só não entendia uma parte do que ela estava sentindo. Algo quente e bom, não sei explicar. Não sabia o que era aquilo, nunca senti algo parecido , nem no meu pai.
- Matt, só não vá embora tarde ok?
- Pode deixar. Tenho que desligar.
Lucy sorriu e voltou correndo, espero que ela vá para casa.
Corri em direção do Matt. Ele estava correndo atrás da menina do carro. Eles caíram na grama da escola e se abraçaram.
Algo nela me chamou a atenção. Era o seu cordão. Eu já tinha o visto em algum lugar. Ele era lindo e antigo, tinha uma força poderosa nele. Toquei em seu colar e senti uma energia boa. Depois me afastei devagar.
Fiquei olhando de longe. Acho que ele estava bem. Me virei para ir embora, quando tudo ao meu redor começa a tremer, mas eles não percebem, apenas eu. Tentei me segurar na árvore ao meu lado, mas algo me puxa.
Acordei tossindo. Respirei fundo e encontrei o olhar do meu pai.
- Preciso de você. Quero que venha comigo. - disse ele me tirando da cama e colocando um casaco em mim.
- Vamos à algum lugar, pai? - pergunto ainda sonolento.
- Sim.
Ele não disse mais nada.
Fomos pra sala, ele acendeu algumas velas.
- Pai, vamos fazer um feitiço a essa hora?
Ele continuava mudo.
- Preciso que repita essas palavras.
Ele me entregou um papel.- Aconteceu alguma coisa pai?
Ele me encarou com um olhar frio. Eu sabia que ele não iria falar nada, então repeti as palavras em um sussurro.
- Filho, você precisa ser forte para fazer o que eu vou te pedir agora.
Respirei fundo.
Ele se sentou na minha frente e segurou as minhas mãos.
- Diga.
Falamos a mesma frase cinco vezes.
Quando abri os meus olhos, estávamos em frente à escola, onde eu estava segundos antes.
Comecei a ficar com medo, algo estava errado.
Meu pai segurou a minha mão e andou comigo sobre o gramado.
Ele encarou o Matt e sorriu com deboche.
Henry sorriu baixo.
Matt nos encarou e levantou correndo, colocando a menina atrás de si.
- O que você está fazendo aqui? - disse o Matt.
- Matt! - gritou a menina.
- Molly! Fique aí. - disse ele.
- Nunca imaginei o ver tão elegante, Matt. - disse o meu pai.
- O que está fazendo aqui, Henry?
- Você não pediu a minha permissão para vir em um baile, principalmente com uma mundana!
- Não preciso da sua opinião, pai. Sei me cuidar sozinho.
- Se cuidar? Olha só com quem você anda o tempo todo! Com essa garota! Isso não é se cuidar.
- Então o que quer que eu faça? Vire um maluco igual à você? Que eu viva na escuridão para sempre? Eu sou um ser humano, Henry!
- Já chega!
Um trovão soou alto no céu escuro.
- Você não era assim. Estou decepcionado, filho.
Meu pai baixou a cabeça e acenou para mim. Criei uma pequena sombra para ele, e ele sorriu para mim.
- Alguns filhos apenas decepcionam os seus pais, já os outros, apenas nos dão orgulho...
Com apenas um movimento ele acertou uma pequena flecha de sombra no coração da menina. Da menina loira de olhos azuis.
- Molly! Não! - Matt gritou.
- Isso que dá desobedecer seu pai. Isso que dá rejeitar o que você é realmente. Você é igual à mim, Matt. Você é uma sombra.
Matt estava chorando aos prantos com a menina loira em seu colo.
Eu não sabia o que fazer.
- Por que Jamie? - Matt estava vermelho de raiva.
Eu queria chorar. Mas tive que me conter.
- Vamos, Jamie. - meu pai tocou o meu ombro. - Bom trabalho.
Olhei para os seus olhos pretos, e ele sorriu. Encarei o Matt, ele não parava de chorar, e a menina no seu colo, mais pálida do que o seu cabelo.
Meu pai sumiu.
Antes de ir, tentei chegar perto dele.
- Maninho? Não precisa chorar.
Toquei em seu ombro.
- Ele nunca me pediu para matá-la.
Ele me encarou e eu sumi de sua vista.
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A Escolhida
FantasíaEstava escuro e frio. Olhei no relógio e eram três da manhã. Uma pequena melodia estava tocando baixinho. Levantei da minha cama e abri a porta devagar. Uma luz muito forte lá de baixo chamou a minha atenção . Fiquei curiosa e desci as escadas. Paro...