Capítulo 1

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 Passara das onze horas. Jorge acordara assustado. Logo, começou a ouvir gritos. E, certamente, vindos do quarto de seus pais. Jorge não sabia o que fazer, isso sempre ocorria - deveria estar acostumado - raramente em um dia seus pais, Joana e Miguel Arantes, não brigavam menos que três vezes.

 - Eu estou cansado! - gritara Miguel - você que deveria ir embora!

 Jorge estava muito sonolento mas sua cabeça fora sendo tomada pelo pânico.

A discussão com certeza já durara há pelo menos dez minutos.

Uma voz feminina começou a berrar.

- Eu sou a dona deste casa! - era Joana - Não gosta daqui? Então vá embora você!

 Miguel parecia murmurar algo a si mesmo. E, Joana estava pedindo para que ele falasse alto.

 - Você não faz nada além de reclamar - Miguel falou, e depois de uma miníma pausa, continuou - Não aguento mais essa vida, você nem quer trabalhar mais! 

 Jorge sabia qual era o motivo da discussão. Aquela gritaria tinha o mesmo motivo de sempre. E o próximo grito confirmaria...

- Não posso ser pobre, seu vagabundo - disse Joana, com medo e angústia na voz.

 O garoto agora sentira pavor. Sua família poderia acabar a qualquer momento com tais brigas.

 Uma vez, há um ano, no seu sétimo aniversário, Jorge vira a comemoração acabar em gritaria. Em menos de meia-hora do início da festa, uma discussão começou na cozinha de casa. A avó materna, Cicera ou Dona Cidinha - como era popularmente chamada - fizera o favor de colocar uma música de rock (à qual o garoto conhecia, era: "Welcome To The Jungle") e, por mais alta que a música estava, todos ali ouviam claramente a voz de Joana ecoando pela casa. 

 O casal murmurava coisas que sequer pareciam palavras, soavam por toda a casa. Uma mulher, convidada, Maria Carmelita, aproveitara para começar a fofocar. 

 "Eles sempre brigam... Coisa de casal... Casais brigam por tudo" dissera Carmelita, em tom de ironia.

 Jorge, quem estava com um pedaço de bolo quase o colocando na boca, arqueou as sobrancelhas, encarando diretamente Carmelita; e ela logo parecera desafia-lo, pois fez o mesmo.

 Maria Carmelita, que já tornara-se "A Fofoqueira" do bairro, agora discursara o quão o casamento é difícil - porém como ela soubera tal se nunca se casara sequer uma vez - pelo menos, ninguém gostaria tivera que aguentar uma chata de galocha como ela.

 Por fim, a festa terminou triste, principalmente ao garoto. Pois, logo ao terminar a festa; a avó de Jorge levou-o à sua casa. Por mais que ele tivesse amado ter estado ali, o motivo era perturbador: sua avó queria fazê-lo não ouvir e ver as discussões iriam nascer depois daquela.

 "Doces sempre resolvem tudo" sempre Dona Cicinha dizia.

 Aquela noite da briga que fizera Jorge apavorar-se, tomara um rumo que mudaria toda a sua vida.

 - Apenas o divórcio! - berrara Joana. 

 Jorge, com seus oito anos de idade, não conhecera o significado de "divórcio". Porém, certamente, não deveria ser um bom. Além de que fora dita aos berros, neste caso de sua mãe. 

 

Jorge: Um Pequeno SonhadorOnde histórias criam vida. Descubra agora