UMA INTRODUÇÃO: OPERAÇÕES NOTURNAS
LINHA DE TREM COMERCIAL - ARREDORES DE GOTHAM CITY - 02:49 a.m.
Os sete vagões metálicos e robustos deslizavam pelos trilhos mal conservados, produzindo uma cacofonia desagradável e rítmica. Os sons de ferro e engrenagens, do movimento e dos compartimentos deslizando pelos trilhos eram como tambores na noite fria.
O céu estava limpo, sem nuvens, pintalgado por incontáveis estrelas que cercavam uma lua majestosa, como guarda-costas obedientes.
A oitenta quilômetros por hora, o trem aproximava-se cada vez mais de Gotham. Seguiria até uma estação ferroviária comercial que era utilizada principalmente para embarque e desembarque de grãos. Toneladas de arroz, nozes, amendoins e outras especiarias eram compradas e vendidas a preço de atacado e o comércio era bom para a cidade. Promovia empregos, alimentava famílias e Deus sabe que aqueles não eram tempos de fartura na cidade sombria.
Talvez por isso o crime prosperasse com tanta facilidade, como uma doença transmissível pelo ar. Talvez por isso, pela escassez de condições mínimas para se viver com dignidade, cada vez mais voluntários se alistavam nos exércitos subvertidos do crime organizado.
Certamente era isso que Brock dizia a si mesmo enquanto caminhava pelo estreito corredor que ligava o quinto ao sexto vagões. Ele era o tripulante mais jovem naquela noite, com vinte e um anos de idade. Seus cabelos lisos e negros estavam emplastrados de suor, apesar do frio que fazia lá fora e das incômodas rajadas que eram sopradas por entre as frestas das paredes e dos tetos de metal cinzento. Carregava um rifle leve pendurado rente ao corpo por uma tira de couro, assim como cada um de seus treze companheiros.
Brock atravessou a passarela até o sexto vagão e enxugou a testa com a manga da camisa de algodão velha e comprida. Repetia mentalmente frases de efeito, qualquer mote que criara para convencer a si mesmo de que o que fazia naquela noite era justificável. Sua família precisava de comida: sua mãe vivia de pensão e estava doente demais para arrumar qualquer bico. Seu irmão mais novo tinha apenas onze anos de idade, de modo que não seria justo colocar o moleque para trabalhar e privá-lo de estudo e lazer.
Cabia a ele resolver os problemas da família e era exatamente o que estava fazendo.
- Relaxe, moleque. Primeiro dia, certo? - Brock ouviu uma voz rouca e entrecortada sobressaindo-se ao barulho intermitente dos vagões roçando nos trilhos.
Ele virou-se para o lado e, nas sombras do canto do pequeno cômodo de ferro, um homem tão mal vestido quanto ele próprio acendeu um cigarro. Segurava um fuzil idêntico ao seu.
Brock assentiu com um gesto e se aproximou do companheiro no crime, perdendo um pouco o equilíbrio pelo vai-e-vem do vagão.
- Me dá um trago? - O iniciante estendeu a mão e o bandido mais experiente lhe entregou o cigarro.
Brock deu uma longa tragada e devolveu o tabaco.
- Eu me lembro da primeira vez que segurei numa arma. - O homem sorriu após inalar fumaça mais uma vez, a claridade tímida e avermelhada da brasa dando um aspecto sinistro ao seu rosto marcado por cicatrizes. - Tremia como uma vara verde, assim como você.
- Eu já peguei numa arma antes. - Protestou Brock, mas a insegurança em sua voz sugeria que estava mentindo.
- É mesmo? De brinquedo não vale! - O homem riu. Seu rosto era duro. Ostentava uma cicatriz profunda que ia da testa, acima do olho direito, até a lateral do maxilar. Sua orelha esquerda parecia dilacerada naquela meia-luz e a barba que cobria o rosto como um tapete ralo era falhada.
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Novelas de Super Heróis Vol. 1 - Batman
FanfictionPara Bruce Wayne, emboscar o mais novo mafioso a infectar as ruas de Gotham é só mais um dia (ou noite) no "escritório". Mas o Cavaleiro das Trevas terá de enfrentar seus piores momentos quando as coisas saírem terrivelmente errado. "Fan Fiction Noi...