Antologias

Feitiço de Amor

O trabalho estava uma droga. O namorado, Leo, foi embora. Bem, isso já tinha um mês, mas doía como tivesse sido ontem. E como doía. Não entendia ainda porque cacete tinha procurado aquela mulher que leu as linhas de sua mão. A maldita não falou nada de bom!

Jogou a bolsa no sofá, irritada, sem fome - mas sentindo o estômago doendo - carente e... com muitas dívidas. A conta de luz, atrasada, estava bem na mesinha à sua frente. Só faltava falar "Ei, se não me pagar, vou ir embora também e você vai ficar no escuro".

No escuro. No vermelho. Que mais?

Encostou as costas na poltrona. Ainda tinha o cheirinho dele. Ainda... ainda podia lembrar dele ali, lhe fazendo carinho, dizendo que a ajudaria a arrumar outro emprego. Por mais que tentasse, era impossível segurar as lágrimas que escorriam. Cada uma delas, um momento que se foi. Sem chance de retorno.

Caramba! Ano passado estava tão bem, e aí... do nada... o mundo desabou! Tudo de uma vez! Poxa, não dava para ser uma coisa de cada, e assim, poder se recuperar de cada baque? Deveria ter um jeito de pelo menos ter seu amor de volta...

Um pensamento passou num flash.

Lembrou de alguns anúncios em postes públicos, sobre alguém que poderia trazer seu amor de volta em 3 dias. Será que isso era verdade? Com certeza algum valor seria cobrado. Seria caro? Tinha só uma graninha na poupança...

Internet!

Tem tudo lá!

Enxugando as lágrimas, tirou o casaco e foi para o quarto. Sentou-se em sua cadeira, de frente a mesinha do notebook. Respirou fundo, pensou positivo. Tinha que dar certo. Sempre acreditou nessas coisas místicas. Era hora de tentar. Hum... só tinha um problema. Como procurar?

"Calma... calma...", repetia para si mesma.

Entrou no Facebook. Tinha uma amiga, a Lilian, que poderia saber, afinal, estava sempre postando sobre bruxas e seres invisíveis. Antes de mandar a mensagem hesitou... Alguma coisa lhe pedia para pensar bem no que fazia. Essa merda de intuição de novo. Não confiava nessa voz interior. Nunca sabia se ia dar certo mesmo. E o Adrian... ele se foi. Precisava dele...

Digitou. Leu. Releu.

"Ei, você sabe alguma coisa dessas coisas místicas pra tentar trazer a pessoa amada de volta... tipo aqueles cartazes dos postes? Que fala que volta em 3 dias...?"

Parecia meio idiota, mas não sabia como se explicar melhor. "Enter".

Não demorou muito, a moça respondeu.

Primeiro ela deu risada e depois explicou que era algo arriscado. Deu lição de moral. Disse que era errado. Disse que era possível.

Errado, perigoso. Que dá certo. Era só o que precisava. Fingiu que não era pra ela e perguntou mais ou menos como fazer isso. Um estudo... isso, um estudo da faculdade. A amiga riu e pediu desculpa por ter falado tanto.

Ok. Ok.

Ela passou alguns sites e explicou, muitas palavras confusas. O mais fácil de lembrar foi "feitiço".

Um feitiço de amor.

A mente, afobada para ter o que queria, não a permitiu sequer despedir-se adequadamente. Obrigada, de nada, tchau. Ufa!

Correu os olhos rapidamente sobre os vários textos. Instruções... milhões de instruções. Pra quê isso? Todo mundo quer dar tantas regras! Cadê o que é preciso fazer...?

Ah...

Lá estava. Velas. Símbolos. Falas específicas. Um montão de coisinhas...e Lua Cheia. Que coincidência...era lua cheia! Aquilo só podia ser um sinal!