BAR-GUARULHOS

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BAR – GUARULHOS

São Paulo chovia com gosto. Era realmente de amargar. Há tempos que não venho e quando resolvo, a chuva cai e nos isolam. Esperava minha tia em um bar, boteco, lanchonete, não sei definir o que era, pois se tinha de um tudo. Minha irmã queria fumar, mas o bar era abafado e para parar sua vontade ficou na chuva mesmo, protegendo o cigarro. Deu apenas duas “pitadas” e jogou a porcaria fora. Meu afilhadinho dormia como um anjinho. Meu estômago gritava mais que recém-nascido e então resolvi experimentar o cafezinho e uma coxinha.

O café quente com leite me fez ter uma sensação inexplicável, pois naquela chuvinha, ventinho e um delicioso café. Como a vida é bela. Percebi que a mulher que estava no balcão parecia gente fina, mas ela começou a puxar assunto.

- Vocês são de onde?

- De Nhandeara – respondi com o gosto de café.

- De onde? – Ela fez uma cara esquisita, parecia ser uma cidade de outro mundo. Para não ver mais aquela sensação disse:

- Votuporanga.

- Ah! Nossa é longe, heim?

Ri e aproveitei a deixa:

- Pode ser longe, mas é sossegado. Agora aqui em Guarulhos, quanta gente sendo morta pelos bandidos naquelas ondas de ataques a qualquer um e a policiais.

- Ah, mas é lá para a periferia. Aqui, neste bairro é sossegado também. Mas para não arriscar, fechamos às 18h.

Balancei a cabeça pensando que (Nossa, que lugar sossegado) ainda bem que ela não lê pensamentos.

- O que você acha dessas ondas de ataques e mais aqui em Guarulhos? – Perguntei.

- Ah, Guarulhos está ligando São Paulo a grande São Paulo, fica no meio e aqui não tem a ROTA. Então é mais fácil. As TVs encaram Guarulhos como bairro de São Paulo e não é. O prefeito precisa chamar o estado para cá, já que ele mesmo constrói casas populares para os favelados de São Paulo.

- Nossa! É verdade! Se eu fosse policial, ficaria dentro da delegacia à noite.

- E você acha que eles fazem o que? Eles ficam lá. Sete horas da noite não se mais policiais na rua e muito menos carros.

- Mas também pelo salário.

- Senhor, desculpe. Mas quando eles entraram na policia sabia do salário. Então não podem reclamar.

Tomai uma dura sem querer, mas é verdade. Ela tem razão. Policial sabe das condições de trabalho, se entram é porque gostam ou porque não tem opção.

- Mas todas as noites são 3 a 5 pessoas mortas aqui em Guarulhos, não é?

Ela me olhou rindo. Acho que falei besteira.

- Imagina. É muito mais, mas não divulgam. É que nem no litoral, estão morrendo, mas ninguém divulgando. O governo quer mostrar que está tudo sob controle e não está. O governador é fraco, as políticas de segurança são para bandidos e não contra eles e a prefeitura é sem noção. Se fosse ele pedia para a Dilma. Aí sim! Olha o Rio como está belo.

Sinceramente pessoal que está lendo, nunca imaginei que uma mulher que fica atrás do balcão tivesse tanta visão. Não é preconceito, mas achava que era falta de oportunidades.

- Alex – Disse minha irmã – A tia chegou, pegue as malas.

E lá vai o burro de carga... Paguei a conta e disse para a mulher um muito obrigado pela conversa.

CRÔNICAS DE SÃO PAULOWhere stories live. Discover now