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"Querida Mia,

Hoje sinto-me minimamente melhor fisicamente. Estou no refeitório a escrever para ti. Devia de estar a comer, eu sei, e a comida até nem é má, mas não me encontro com fome.

A manhã de hoje foi passada com uma psicóloga a avaliar a minha sanidade mental, ou aquilo que dela me resta. Ela fazia lembrar-me de ti. A maneira como ela pronunciava cada palavra, era tão idêntica à tua pronúncia. A maneira em como ela sorria sempre que lhe falava dos meus sonhos contigo, ou das memórias que estão e sempre estarão presentes tanto na minha cabeça, como no meu coração. Ela era gentil e meiga. Era nova, e tinha um cabelo ruivo muito encaracolado que, quando mal entrei na sala me fez lembrar de ti.

Hoje lembrei-me da minha irmã. De quando ela tinha apenas três anos de idade e odiava usar vestidos. A minha mãe -a minha querida e amada mãe de que eu sinto tanta falta- , esperta, como sempre, disse-lhe que o vestido tinha bolsos e que podia guardar amendoins lá dentro. Eu tinha os meus catorze anos, lembro-me disso como se fosse ontem. Agora, ela está tão crescida. Treze anos desde que ela nasceu. Ela está uma linda rapariga, de certeza. Gostava de a ver. Não a vejo há imenso tempo, mas prefiro continuar assim. Sem receber visitas. Não me quero ir a baixo.

Pergunto-me o que tens feito. Se tens sentido saudades minhas, se tens estado com a minha família. Se tens estado com os nossos amigos, no nosso parque. Pergunto-me também se arranjaste alguém melhor que eu. Provavelmente sim. Qualquer um te quereria. Qualquer um te desejaria. Porque tu és linda. Não só fisicamente. Mas também, e especialmente, por dentro.

E assim me despeço de ti, com mais uma carta escrita com tanto amor e saudade.

Eu amo-te, Mia.

Michael.x"

Letters ; mgcOnde histórias criam vida. Descubra agora