Prólogo

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As pessoas dizem que em determinados momentos de nossa vida precisamos esquecer o passado pra viver o presente. Mas ninguém nunca explicou como esquecer. E é dificil fazer isso quando as lembrancas do pior dia da sua vida se tornam um pensamento frequente. Tive que entender na prática que o melhor jeito era a distração. Filmes e livros por exemplo. Mas não importava o quão diferente era a história do filme ou livro comparada com a minha vida: eu sempre chorava. Parecia que meu cérebro estava programado para encontrar algo semelhante: um rosto, um ato, uma palavra ou um último suspiro. E em meio a toda essa bagunça um telefone tocou.

A indecisão era visível no olhos da minha mãe após alguns minutos com o telefone apoiado em sua orelha. Saberia depois que o que ela acabara de ouvir era sobre o surgimento de uma nova vaga na empresa de Arquitetura em Itapema.

Aceitar aquela proposta era no mínimo conflitante. Deixaríamos todo o passado vivido aqui para construir um novo, isso dava arrepios, confesso. Porém, por outro lado, minha mãe sabia que era o que eu mais queria: começar a vida do zero, mas desta vez a 80 km daqui, onde eu não tinha nada a perder.

Blumenau sempre foi a cidade onde morei, mas depois daquele dia, definitivamente tudo mudou. Era como viver numa cidade contaminada por radiação, as lembranças me queimavam e o ar me envenenava. As esperanças eram reduzidas a cada vez que eu tentava recomeçar e alguém me trazia as lembranças que eu tentava enterrar.

Cansei. E a idéia de se mudar para Itapema se tornou a luz no fim do túnel.

Agora eu estou aqui. Dentro do carro, deixando que meus olhos pairem sobre a estrada que se estende pelo parabrisa do carro, para dar lugar aos pensamentos que insistem em ser ouvidos.

Tirei o pó das lembranças boas e joguei fora o passado que tanto me atormentava. Convencendo a mim mesma que de agora em diante eu seria uma pessoa diferente.

Ou tentaria ser.

***

Frustração. Era só o que eu conseguia sentir quando percebi que a casa que minha mãe alugou era de dois andares e envolvida de tijolos à vista. Deveria ter custado o olho da cara, isso era óbvio. E eu sempre ficava assim quando minha mãe inventava de gastar mais do que podia. Mas eu ia fazer o quê? Ela sempre prezava pelo conforto e bem estar, antes de qualquer coisa.

O interior da casa era maior do que se imaginava vendo de fora. Imagino o que minha mãe deve ter pensado quando viu essa casa pela primeira vez, devia ter ficado tão satisfeita com seu tamanho, que nem se importou em saber se lá havia goteiras ou paredes rachadas.

- Esse quarto é seu! - disse minha mãe, abrindo a porta de um quarto que se revelava bem espaçoso.

Fiquei encantada com aquele cômodo, era um daqueles quartos que tinha sacada, típico daqueles filmes clichês americanos em que o namorado sobe escondido pela sacada. E não parava por aí, o quarto fazia várias curvas, como se implorasse por uma decoração que fizesse juz a seu nome.

É, por mais que minha mãe fosse exagerada no quesito conforto, eu não podia reclamar. A casa era fantástica!

- Mãe... Esse quarto é lindo, mas por que tem que ser meu?

Minha mãe me olhou curiosa, aproximou-se de mim, pousando sua mão em meu ombro esquerdo e por fim disse:

- Achei que você merecia o melhor quarto, depois de tudo que passou.

- Obrigada - foi só o que consegui dizer sorrindo em agradecimento.

Ela me devolveu um sorriso e saiu do quarto, fechando a porta. Eu aproveitei a deixa e fui vislumbrar a incrível vista que me esperava na varanda. Chegando lá, dei de cara com um céu estrelado. Tinhamos chegado em Itapema tarde, já eram quase sete horas e eu ainda tinha que abrir algumas caixas para achar meus produtos de higiene pessoal e minhas roupas.

Mas aquela vista estava tão boa que eu tinha me esquecido disso. Só então me dei conta de que tinha achado minha válvula de escape naquele céu.





N/A: Oi você!

Estou muito feliz que está aqui, espero que esteja gostando, é o começo de uma grande bagunça esperando pra ser lida.

E aí? Vai avançar nos capítulos ou ficar lendo isso aqui? Corre!

Com amor,

Mari


Cidades IncertasOnde histórias criam vida. Descubra agora