Bancando a professora

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A casa dele é enorme.
Só o banheiro dele é do tamanho do meu quarto. Eu não sabia que ele era rico. Quase morri de vergonha, eu estava tão ridícula, cadê aquele chão que abre sob os pés e a gente desaparece?

Eu quase tentei fugir pelo ralo.

O perfume de todo o lugar era de lavanda, eu fiquei pensando porque em casa não era assim, ainda que eu lavasse feito escrava cada milímetro.

Quando chegamos à casa do Gabriel, um senhor, de cabelo preto meio grisalho, abriu o portão e me cumprimentou com um sorriso gentil, ele segurava uma tesoura de jardinagem na mão e usava um macacão azul, típico jardineiro de filmes de Hollywood, eu estranhei, só faltou o sotaque mexicano.

- Vamos lá pra dentro, vou pegar meu caderno e a gente senta na mesinha aqui fora que está mais fresco, pode ser?- o Gabriel perguntou me olhando, tipo, meio que sabendo que eu estava abobalhada, olhando para aquela imensidão de jardim.
-Uhum!- foi o que eu consegui responder, se é que respondi mesmo o garoto.
Segui ele até chegarmos a uma porta marrom gigantesca e eu ainda admirando cada canto. Entramos e o aroma de bolo quentinho invadiu meu nariz. Quase delirei.

- Ah, minha avó tem costume de fazer bolo sempre que vem gente em casa.
-Ah- hummm, bom saber, virei sempre aqui daqui em diante.

- Quer vir conhecer a casa comigo enquanto pego minhas coisas, ou prefere esperar aqui com a vovó?

- Aa.. pode ir. Eu espero. - eu estava Pink de tanta vergonha.

- Vou apresentá-la para a vovó então, vem cá.
Segui o Gabriel outra vez, agora com mais vergonha ainda.
-Vovó, está é a Luci, a garota que eu disse que escreve beeem demais.
-Exagera...
-Oh, querido- me interrompeu a a senhora de voz doce-que menina linda- usava um avental florido e andava, agitando uma colher de pau na mão, em minha direção animada que só- tudo bem, minha filha?

-Sim, e a senhora, como vai?
- Muito bem. Que tal uma fatia de bolo? Acabei de jogar calda quente em cima.
Olhei meio que sem expressão, já imaginando a delícia que eu provaria.
Porque em casa não tem uma avó atenciosa assim?
- Então, vovó pode servir uma fatia pra ela sim. Vou buscar minhas coisas e já já eu volto. E pra mim pode servir um pedação.
Nós sorrimos e ele se virou para a escada que, pra mim, parecia a do filme O vento levou.
Tá, não é pra tantoooo assim...

- Gabriel é um ótimo menino. -Disse a avó dele- então, meu nome é Maria Benedita, e me chamam de Bene.
- Humm, bem sou a Lu... a senhora já sabe - tentei sorrir.
Eu tenho problemas, só pode. Não consigo puxar assunto.
-Ora, vamos comer bolo então.
Ela me guiou até a mesa onde o bolo estava sobre uma bandeja, era de chocolate, muuuuito chocolate. Quase chorei de emoção, parecia delicioso demais pra uma pobre Luci.
Comi uma fatia e quase chorei MESMO. Aquilo sim era um bolo. A calda quente em cima dele, com um recheio que ai, nossa.
Engordando antes de provar.

- Que delícia, meu Deus. Nunca comi algo assim.
-Ah, querida. Que bom que gostou. É de cholate belga, se quiser te passo a receita- querida, nem passe, onde vou assaltar um banco pra ter chocolate belga? -?Ou a senhorita vem aqui mais vezes.
Paralizei. Me lembrei do Darcy me chamando de Senhorita.
Fiquei sem reação outra vez.
- Ei querida, tudo bem? O que houve?
Demorei uns dez segundos pra ouvir a voz dela invadindo meu subconsciente.
-Ah, nada não. Só estou me concentrando no sabor. Hummmm.
- Mas, me diga, você e meu neto estudam juntos, certo?
-Sim... desde que me entendo por gente- sem querer soltei um riso esganiçado. Me odiei.
- Fico feliz. Você parece ser uma moça direita, nada parecida com essas meninas de hoje em dia que usam aquelas roupas tarracadas e curtas, sabe? Aqueles cabelos coloridos. É vejo muito na tevê.
- Hum, obrigada. A senhora é muito gentil.
- Que isso querida, eu....-de repente a senhora mudou a expressão e com o dedo indicador nos lábios continuou- Xiu xiu, para com o assunto que o assunto chegou- agora estava sorrindo. Olhei para onde os olhos dela estavam direcionados e vi Gabriel com uma mochila nas costas.
-Estão falando de mim é? -Perguntou ele.
Ele sabia que tudo era brincadeira. E aquilo, para mim, digo, a intimidade entre eles era tão diferente e novo para mim. Fazia um tempo e eu estava distante da minha família e aquilo me deu uma invejinha do bem.
- Oh, querido, mas é claro que não- e me lançou uma piscadela descarada só pra ele achar que estavamos mesmo disfarçando.
-Sei, sei... Vou comer o bolo e já já nós vamos.
-Tudo bem.
Ele levou uns cinco segundos pra engolir o pedaço do bolo que a Maria Benedita pôs pra ele num daqueles pratinhos chiques pra sobremesa.
E esse tempo somado aos outros minutos que passei com a avó dele não foram suficientes para que caísse a ficha de onde eu estava.
No jardim, a gente se sentou nas cadeiras da mesinha, eu sabia que estava completamente sem inspiração, mas precisava arranjar de algum lugar, pelo menos pra disfarçar.
Eu estava meio que tremendo, meio agoniada. Muito agoniada. Superhipermegapower agoniada!

O namorado dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora