Capítulo 01

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Kyria olhou as explosões imensas e ofuscantes do outro lado da rua e sorriu tristemente. O rugido do fogo crepitando e consumindo o prédio decrépito era ensurdecedor para ela. Não que fosse alto de verdade, mas falava alto ao seu coração, como quem diz: "Eu venci...". Como valquíria dos Aesir era seu trabalho recolher as almas dos bravos guerreiros nórdicos que caiam em combate, com armas em punho, e levá-los para seu lugar de direito, a mesa dos heróis, ao lado dos grandes em Asgard. Mas raramente recolher um deles significava uma vitória. Na maioria das vezes morreu porque, bem, perdeu o embate. Mais uma derrota, menos um guerreiro dos Deuses em Midgard, uma vitória a mais para os Titãs, uma vitória a mais para Suthur. Maldição.

Seu trabalho não era sem perigo e Kyria era uma valquíria modernosa, com uma roupa especial, feita para dublês de ação, que minimizava os efeitos do fogo, ela se preparava para entrar no prédio, não iria lhe poupar do fogo celestial, mas ao menos iria lhe levar intacta até o lugar onde lutaria pela alma do guerreiro.

Correndo, atravessou a rua quase deserta, era uma área industrial que estava em sua grande parte abandonada, mas já começava a juntar curiosos nos extremos da rua, seguranças de outros prédios e desabrigados que faziam desses prédios abandonados um lar, começavam a se preocupar e chamar as autoridades. O incêndio estava chamando atenção, mas não era sempre assim?!

A sua aparência atlética não era o bastante para revelar a força e o vigor que o Ichor, o sangue dos Deuses, que corria em suas veias lhe provinha. Como um jogador de futebol americano arremeteu com o ombro esquerdo pela porta da frente do prédio velho. A experiência lhe dizia que quando a lufada de oxigênio abastecesse o fogo, uma pequena explosão iria ocorrer no meio do ar e línguas de fogo iriam buscar o ar puro pela passagem que ela abrira, queimando o que estivesse no caminho, por isso tão logo arrebentou as pesadas portas de ferro rebitado, se jogou no chão, bem a tempo de ver as línguas de fogo passando por cima de sua cabeça.

Se algum dia aquele prédio teve apartamentos, há muito havia sido transformado num galpão sem divisões, o que era bom, visto que se encontrar, e os seus alvos, era menos difícil assim. Viu o lugar em chamas brilhantes e laranjas, dançando sobre colunas e móveis esparsos; não se preocupou. O que lhe deu um arrepio foram as chamam douradas e lentas, de fundo negro, que pareciam viscosas e vivas. Fogo titânico. Tinha que evitar aquilo a todo custo. Abrir suas asas e voar num espaço confinado como aquele estava fora de cogitação, queimaria suas asas e não atingiria seu objetivo. Decidiu aproveitar que calçava luvas corta-fogo para se pendurar em correntes e outros destroços do prédio e tentar chegar a batalha que se desenrolava a sua frente acima do chão. Deu dois passos para trás e sentiu o calor horripilante daquela gosma se aproximando de suas canelas, disparou para frente e pulou, colocando toda sua força nas pernas, atravessou pelo ar, impressionantes quinze metros e caiu rolando pelo chão a poucos metros de uma enorme figura monstruosa que parecia ser feita de fogo e lava e tinha entre suas presas a perna do herói que fora receber. Percebeu então que chegou cedo demais a cena, e ficou imóvel um minuto a mais do que deveria. Quando deu conta de si, viu a bocarra da besta de fogo se abrindo diante de seus olhos.

Jogou-se para o lado no último segundo, viu a fera movida pela inércia de seu próprio peso, arremeter contra uma parede, o que não fez nenhum bem as estruturas do prédio. Olhou para o lado e viu o guerreiro exangue, com as mãos esticadas para o lado do corpo, onde deixara seu machado dourado cair cerca de meio metro longe de suas mãos, lutava para alcançá-lo. Tinha que sair dali, mas já que já havia interferido mesmo, decidiu que podia fazer ainda mais antes de ir. Correu e chutou a arma de volta para as mãos do guerreiro e continuou o seu caminho em direção a parede mais próxima, escalando apressada a parede de ferro corrugado do prédio, alcançando uma janela, no mesmo instante em que se dava conta das sirenes dos bombeiros que estacionavam seus caminhões em frente ao prédio.

A Filha de OdinOnde histórias criam vida. Descubra agora