A serenidade comum da madrugada era cortada por barulhos de portas batendo e passos apressados por todo o apartamento. Roupas voavam por cima dos travesseiros bagunçados, sapatos sem par esparramados pelo chão e cuecas penduradas na maçaneta. Aquele era o estado do lar de Jung Daehyun.
— Eu já te disse cinco vezes que vamos só na semana que vem. — Youngjae cruzou os braços e sentou no colchão, puxando o cobertor para si e sentindo frio ao observar o outro apenas de calça moletom. Mas não reclamaria pois a cena lhe agradava. — Não faz nem um dia que a minha mãe ligou. Dá para parar?
— Não! Preciso ter certeza de que tenho tudo. Esse é um momento importante e me assusta que VOCÊ não esteja surtando. — Rebateu o rapaz, experimentando uma camisa social cinza e rebolando os quadris devagar, se exibindo e provocando. — Eu sou o mais desligado dessa relação e observe o meu estado.
— Não precisa ficar assim. Você só vai conhecer os meus pais, irmãos, tias... — Completou simplista, tentando manter a mente limpa de pensamentos impuros.
— Youngjae, você não está ajudando! — Chutou algumas meias para longe e aspirou o ar com força, revirando os olhos teatralmente. — Quando chegarmos lá, teremos a chance de mostrar a todos o que realmente somos. Eu nunca fiz isso na minha vida. Nunca havia ido tão longe com alguém a ponto de... — As palavras se perderam em sua boca, acentuando o quão agitado e ansioso estava.
— De se assumir na frente da família dele? Posso me sentir especial, então?!
— Não muito. — Daehyun mordeu a bochecha do economista e saiu rindo dos xingamentos que ganhou. Fechou a mala com grande esforço, pela exagerada quantidade de coisas que haviam em seu interior, e apoiou as costas na parede. Mirou Youngjae sentado e acomodado, quase dormindo, parecendo alheio a confusão e desespero que assolavam o companheiro. Jung balançou a cabeça em negação e se sentiu idiota por estar tão agoniado. Não era de seu feitio se preocupar com coisas que ainda não haviam acontecido. — Sua calma me assusta.
Com os olhos meio cerrados pelo cansaço (de não ter feito nada o dia inteiro), Yoo jogou-se de vez na cama, querendo rir da situação:
— Está certo. Vamos inverter os papéis por hoje: eu serei o "dane-se o mundo ao meu redor, sou bom demais para ser atingido" e você será o "sempre pareço estar prestes a ter um colapso e me abalo facilmente com tudo"!
— Falando em colapso... — A face do cantor se desfigurou em uma expressão envergonhada por alguns instantes, que logo foi substituída por um sorriso largo. — Espero que não entre em parafusos por eu... Eu não ter conseguido comprar alguma coisa para simbolizar o nosso relacionamento. Não arranjei tempo e acho que não teria dinheiro suficiente para comprar algo à sua altura.
Totalmente desconcertado, o economista pigarreou e desfez o olhar de deboche que mantinha. Alcançou a mão de Daehyun e balançou a própria, sinalizando as pulseiras que usavam.
— Isso já é mais do que suficiente.
— Quando meu sucesso chegar poderemos comprar tudo o que sonhamos e muito mais. Quero devolver tudo o que já me comprou nesses meses. — aquela frase agradou o outro rapaz, que se inclinou para deixar um casto selinho nos lábios grossos. Daehyun não pensava no futuro com frequência, mas no pouco que havia pensado imaginou Youngjae ao seu lado, apoiando sua carreira e sustentando um relacionamento feliz.
— Pode realizar um sonho meu agora?! Faz tempo que não tenho um show particular seu. Aliás, faz tempo que não te ouço cantar fora do chuveiro.
— Seu desejo é uma ordem! — deslizando pelo piso de madeira, Jung correu até a sala e voltou, na mesma pressa, com o violão em mãos. — O que quer ouvir?
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Cobertor
FanfictionYoo Youngjae, um rapaz religioso e centrado, procura por uma moça com os mesmos princípios que os seus. Deixa a Ilha de Ulleung, onde vivia com seus pais, para tentar realizar seu sonho em Seul. Nunca tivera muito contato com o mundo exterior e será...