Chegamos em Nova Jersey quase sete da noite. Nick não parava de falar de seu paquera que acabou encontrando no bar. Richard Martin. Um garoto de dezenove anos que adorava uma curtição perigosa com chicotes e correntes. Deixamos Nick em sua casa. Em seguida July, que ficou bem cansada de tanto andar em calçadas. Cody e Luna fizeram questão de me deixarem na porta de casa. Eu disse que não precisava, que eu ia ficar bem, mas Cody não queria que eu fosse sozinho. Esse era o momento dele tentar ser um protetor. Depois de seis ou sete minutos de caminhada, chegamos em frente a minha casa. Luna me abraça e me beija no rosto. Cody segura minhas mãos olhando-me intensamente, louco para me dar um bejio longo e molhado. Louco para deixar meu corpo quente e desgovernado. Nos abraçamos apaixonadamente. Eu não queria sentir o que sinto por Cody, mas meu coração não tem pausa para esse tipo de coisa. Cody não sabe, mas... O amo. Foi rápido, mas é isso mesmo. Amor.
Nos despedimos. Entro em casa sorrindo feito um bobo. Mamãe está na cozinha comendo uma fatia de bolo de chocolate, enquanto ela me encara, pronta para dar seus sermões. Não estou muito paciente para ouvir gritos de reclamações a essa hora. Fico encostado na geladeira sem fazer expressão alguma enquanto mamãe termina de engolir um pedaço de bolo. Um, dois, três. "Um rapaz chamado Stefan esteve aqui em casa quando você não estava. Sabe o que ele me disse Isaac? Que você vive o encarando o tempo todo na sala de aula. E que até ganhou piscadinhas de olhos e beijonhos. Quer me explicar isso tudo Isaac? Porque eu não entendo como um homem pode querer fazer esse tipo de coisa com outro homem". Fico sem saber o que dizer e o que fazer. E quando penso que ela tinha terminado de falar, ela prossegue, com suas descobertas que são totalmentes falsas. "Esse garoto também me contou que você e esse seu amiguinho Nick, estiveram em uma boate gay domingo passado". Acabou minha vida. Como alguém como a minha mãe pode acreditar nessas mentiras ridículas? Tento me defender contra isso tudo com a mair calma possível. Respiro fundo e começo.
- isso é tudo invenção mãe. Stefan Walter me odeia e odeia meus amigos. Como a senhora consegue ser tão ingênua assim? Eu nunca frequentei uma boate na minha vida, quanto mais uma boate gay. Mãe? Por favor, pare com isso. Pare de acreditar nos outros ao invés de acreditar em mim, que sou seu filho.
- como posso acreditar em um filho que vive saindo com um gay? Em? Como posso acreditar em você Isaac?
- acreditando mãe. Acreditando. Eu acho que se eu fosse um gay, a senhora teria chutado pra fora de casa. Fingiria que não sou nem seu filho, não é?Ela não responde. Joga o prato na pia e sai da cazinha, levando consigo a verdade. Fico com os olhos cheios de lágrimas prontas para caírem e deslizarem em meu rosto. Tentei ser livre hoje. Tentei deixar a dor de lado, mas parece que a vida gosta de me ter desse jeito tão infeliz. Talvez não seja de propósito. Talvez esses sejam os meus obstáculos que algum dia vou vencê-los de um jeito ou de outro. Porque tanto preconceito? E não estou falando apenas de homofobia, mas no geral. Todos nós sabemos que a homofobia é observado como um comportamento crítico e hostil, assim como a discriminação e a violência. Não vejo referência em ter preconceito. Acho isso uma grande perda de tempo. Sempre haverá homosexuais na vida, assim como sempre haverá negros e brancos, magros e gordos, altos e baixos. Mas também, sempre haverá o preconceito. Infelizmente.
Minha mente fica pesada. Sinto raiva. Mas também sinto dor. Chuto a porta do meu quarto repetidas vezes para a raiva ir embora, mas não vai. Começo a bater minha cabeça na parede e a puxar meus cabelos. O choro vem. O peito aperta, e a recaída chega com tudo. Tiro meu casaco, camisa e calça. Fico apenas de cueca com a lâmina na mão direita, e então começo com a automutilação. Cortes nas pernas, coxas e braços. Os pulsos são os últimos por serem os preferidos dos cortes. Corto o pulso esquerdo com tanta raiva, que vejo o sangue escorrer sem dar pausa. E quando percebo, o piso do quarto está todo manchado de sangue. Ainda pretendo cortar o pulso direito mas não consigo. Minha visão começa a escurecer, e segundo depois, tudo se torna escuro.
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Isaac
RomanceVivemos em mundo, onde o preconceito vem à tona, onde a dor precisa ser suportada, para que nos momentos de fraqueza, possamos nos permitir agir de uma forma extremamente agressiva, acorrentado a sensibilidade.