Prêambulo

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Os quatro magos subiam a passos lentos pelas sendas que levavam ao topo da Montanha da Luz: vinham dos quatro pontos do horizonte. Cada um levando em seu alforje as madeiras perfumadas necessárias ao ritual do fogo.
Eram o Mago da aurora, o Mago do pôr do sol, o Mago do meio-dia e o Mago da noite.
Chegaram às quatro entradas da torre de pedra do templo ao mesmo tempo, na hora em que o alvorecer tingia de luz perolada a imensa vastidão deserta do planalto.
Cumprimentaram-se com uma reverência, olhando-se nos olhos através dos quatro arcos de acesso e em seguida aproximaram-se do altar. Quem começou foi o mago da aurora que formou um quadrado com gravetos de sândalo; seguiu-se o Mago do meio-dia, que acrescentou obliquamente pequenos ramalhetes de acácia. O Mago do pôr do sol amontoou sob essa base achas descascadas de cedro, cortadas na floresta do monte Líbano. O úlimo, o Mago da noite, colocou galhos de Carvalho do Cáucaso, madeira calcinada pelo raio e ressecada pelo sol das alturas. Depois cada um tirou do alforge a própria Pederneira Sagrada e os quatro faiscarão ao mesmo tempo fagulhas azuladas na base da pequena pirâmide até que o fogo começou a arder; as línguas alaranjadas tornaram se azuis e enfim quase brancas, similares ao fogo do céu com Celeste sopa de Ahura Mazda, deus da Verdade e da Glória, senhor do tempo e da vida.
Os quatro homens fitavam a sagrada chama que tomava forma a partir da simples arquitetura dos galhos sabiamente dispostos sobre o altar de pedra, oferecendo a suas orações pelo povo e pelo Rei. O Grande Rei, o Rei dos Reis que estava longe, sentado na reluzente sala do seu palácio na Imortal Persépolis no meio de uma floresta de colunas purpurinas e douradas, sobre o olhar vigilante de touros alados e leões rampantes.
Àquela hora matinal, naquele lugar mágico e solitário, tudo estava imóvel. Mas de repente uma força poderosa soprou sobre as chamas, apagando-as diante dos olhos pasmos dos Magos, até mesmo os tições transformaram-se de chofre em carvão negro.
Não houve outro sinal nem um outro som, a não ser o estridor do Falcão que se levantava no céu vazio e tanto tampouco ouve palavras. Os quatro homens permaneceram atordoados em volta do altar cientes de um triste Presságio, derramando em silêncio suas lágrimas.

Naquela mesma hora bem longe num remoto país do Ocidente, uma jovem se aproximava trêmula dos Carvalhos de um antigo Santuário a fim de pedir a bênção para o filho que pela primeira vez sentia mover-se em seu ventre. O nome da jovem era Olímpia. O nome do menino foi revelado pelo próprio vento que soprava impetuoso entre os galhos milenares e agitava as folhas mortas aos pés dos gigantescos troncos. O nome era:
Aléxandros.

Alexandre o GrandeOnde histórias criam vida. Descubra agora