''So just remember to, smile, smile, smile, so everybody knows and it will make things so much better...'', Smile - McFLY
O som da música usada como despertador por Helena - na esperança de não acordar mal humorada todos os dias - preencheu o quarto silencioso. Sentia falta da época em que ainda estava na escola e sua mãe a acordava todos os dias. Mas, como nem tudo são flores, um dia ela teve que crescer. Crescer, passar no vestibular, mudar de cidade e ir pra faculdade; sem falar na separação de seus pais, o que não teria sido um problema, não fosse ela estar em um época tão importante e frustrada. De qualquer forma, ela sobreviveu e seguiu vivendo sua adoidada vida. Tudo bem, talvez nem sempre tão adoidada, já que ela ainda precisava ir pra faculdade cinco vezes por semana. Não é como se isso fosse uma reclamação. Ela amava o que fazia. Dizem que quando amamos o que fazemos, o trabalho acaba se tornando diversão. Bem, ela sentia-se assim.
Vestiu a primeira roupa que viu pela frente, enquanto catava um chapéu e cobria seus cabelos com ele, na tentativa de esconder o ninho de rato que havia se formado no topo de sua cabeça. A maquiagem básica, que consistia em: máscara para cílios. Afinal, por incrível que pareça, seus olhos falavam mais que sua boca.
Dirigiu até a Saint Martins, mas não sem xingar pelo menos uns dois tapados no trânsito. Sempre impaciente, sempre ansiosa.
- A falta de dinheiro é tão grande que você teve que comprar o carro mais pobre da concessionária, Bouvier? - e vocês acabaram de conhecer a Nicole. Se achava a cereja mais redonda do pote. Todos os dias Helena tinha pensamentos agressivos que envolviam a colega e um tijolo voando em direção a cabeça da mesma.
- Não sei, me diz você: a falta de dinheiro é tão grande que só conseguiu comprar um pedaço da saia na loja? - respondeu. É claro que ela não achava que o comprimento de uma saia tinha algo envolvido com o caráter de alguém. Era só uma forma de irritar Nicole.
- O QUE É BONITO É PRA SER MOSTRADO, BOUVIER. - ouviu-a berrar, já longe. Não aguentou e berrou de volta...
- EU NÃO ME IMPORTO, IDIOTA...
Ouviu algumas risadas e continuou seu caminho, pensando no Toddynho que a esperava. Não sem antes ter que levar esporro por andar berrando... outra vez.
- Então, Senhorita Bouvier, berrando e brigando com a sua colega outra vez? E no meio da faculdade? - a Sra. Judd era uma das monitoras do curso de Helena, e, bem, não era exatamente sua fã.
- Dessa vez não fui eu que comecei. - tirou os óculos e deu de ombros.
- Ah, entendo, Senhorita Bouvier, das outras 77 vezes também não.
- Olha, talvez 7 em 77 tenham sido por minha culpa. - não aguentou e soltou uma gargalhada
- Não brinque comigo, menina. Acho bom tomar um jeito e parar de andar por aí com esse sorrisinho pretensioso. Estou de olho em você. - disse ela, dando as costas em seguida.
Já tinha ouvido tantas vezes essa ameaça que uma a mais ou uma a menos não iria fazer diferença. Recolocou os óculos e continuou andando. Não sem notar que ele estava sentado no sofá de sempre, rodeado por seus três amigos. Ele, Jude Martin.
*
Jude havia chegado mais cedo a faculdade naquele dia. Sua vida era a música. Herdou essa paixão do pai, que era um compositar famoso, a paixão pela música e os olhos azuis, que vez ou outra, tornavam-se cinza.
Sentou em um dos sofás espalhados pelo saguão e acendeu um cigarro. Iria esperar até o horário da primeira aula. Foi quando viu Helena chegar. Nunca havia visto alguém como aquela garota: esquisita, arrogante e, nossa, como falava. O tipo exato de pessoa que o irritava e que chamava atenção por onde passava. Ele deveria saber que o show de horrores iria começar e não demoraria nada. Se acontecesse qualquer rolo na faculdade, não importa de que tipo fosse, Jude já sabia que Bouvier estaria metida.